ANDREBAZIN
o CINEMA Cole~o
Primeiros Passos
Antropologia da Comunica9lo
o que eArle
Visual
Jorge Coli
Massimo Can...
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ANDREBAZIN
o CINEMA Cole~o
Primeiros Passos
Antropologia da Comunica9lo
o que eArle
Visual
Jorge Coli
Massimo Canevacci Antropologia do Cinema Massimo Canevacci Hitchcock IT ruffaut Entrevistas Fran~ois Truffaut
o que e Cinema Jean-Claude lkrnardet o que e Fotografia Claudio Araujo Kubrusly
o que e Teatro Fernando Peixoto
ENSAIOS
Tradu~ao:
Eloisa de Araujo Ribeiro Introdu~ao:
Ismail Xavier
Hollywood Entrevistas Michel Ciment
Hollywood 1936 Blaise Cendrars
A Imagem-Tempo Cinema II Gilles Deleuze A Linguagem Cinematogr.ifica Marcel Martin
Cole~o
Encanto Radical
Griffith o nascimento de um cinema Ismail Xavier Hitchcock o mestre do medo Inacio Araujo
o vao dos ADjos: Bressane, Sganzerla Estudo sobre a crillfilo cinematografica Jean-Claude lkrnardet
editora brasiliense
1
Copyright © by Les Editions du Cerf, 1985 Titulo original: Qu'est-ce que Ie cinema? Copyright © da trad~ao brasileira: Editora Brasiliense S.A. Nenhuma parte desta public~ao pode ser gravada, armazenada em sistemas eletronicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecanicos ou outros quaisquer sem autoriz~ao previa do editor.
ISBN: 85-11-22033-X Primeira ed~ao, 1991
SUMARIO Indic~ao editorial: Jean-Claude Bemardet Prepar~ao de originais: Juliana Jardim Barboza
Revisao: Vania L. Amato e Juliana Jardim Barboza Capa: Elizabeth Laffayete Ferreira
Os capitulos I e XIX foram traduzidos por Hugo Sergio Franco para public~ao na coletanea "A Experiencia do Cinema" (GraaIlEmbrafilme, 1983). Agradecemos aEditora paz e Terra a cessilo dos direitos de trad~ao.
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A tradutora agradece equipe da Cinemateca do Museu de Arte Modema do Rio de Janeiro, que colaborou gentilmente na pesquisa dos titulos brasileiros dos fi/mes.
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Rua da Consoladera consentir esquecer a afronta feita a sua familia. Mesmo pudor. alias, dos sentimentos que supOe uma conceWlo do arnor subordinado ao respeito as leis sociais e morais. Porem, lal compa· ra~o e ambigua; zombar do weslern evocando CorneiUe e frisar tambem sua grandeza. grandeza bern pr6x.ima da pueritidade, como a crianca est! pr6xima da poesia. NAo duvidemos, e essa grandeza ing!nua que os homens mais simples de todos os dimas - e as criantas - reeonheeem no wes· tern, apesar das Iinguas, das paisagens. dos costumes e dos trajes. Pois os her6is epicos e tragicos sAo universais. A guerra da Seces· sAo pe:rtence fa hist6ria do sttulo XIX, 0 western fez dela a guerra de Tr6ia da mais moderna das epopeias. A marcha para 0 Oeste e nossa Odisseia. Longe, portanto. de a historicidade do western entrar em con· tradif;Ao com a inclinatAo nAo menos evidente do g!nero pelas situa~Oes excessivas, 0 exagero dos falos e pelo deus ex machjna, em suma. com tudo 0 que raz dele urn sinOnimo de inverossimi· Ihanca ing!nua, ela fundamenta, ao conlrario, sua estet.ica e sua
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psicologia. A historia do cinema so conheceu outro cinema epico que e tambem urn cinema historico. Comparar a forma epica no cinema russo e no americano nao e 0 objetivo deste estudo, contudo a analise dos estilos esclareceria provavelmente com uma luz inesperada 0 sentido historico dos acontecimentos evocados nos dois casos. Nosso proposito e apenas 0 de observar que a proximidade dos fatos nao tern nada a ver com a estilizar;ao deles. Ha legendas quase instantaneas que meia gerar;ao basta para amadurecerem como epopeias. Como a conquista do Oeste, a Revolur;ao sovietica e urn conjunto de eventos historicos que marcam 0 nascimento de uma ordem e de uma civilizar;ao. Ambas engendraram os mitos necessarios a confirmar;ao da Historia, ambas tam bern tiveram de reinventar a moral, encontrar em sua origem viva, antes de sua mistura ou poluir;ao, 0 principio da lei que colocara ordem no caos, separara 0 ceu da terra. Mas talvez 0 cinema fosse a (mica linguagem nao apenas capaz de expressa-Ia, mas sobretudo de lhe dar sua verdadeira dimensao estetica. Sem ele, a conquista do Oeste nao teria deixado com as western stories senao uma literatura menor, e nao foi por sua pintura, nem, no melhor dos casos, por seus romances, que a arte sovietica impos ao mundo a imagem de sua grandeza. E que 0 cinema, des de entao, e a arte especifica da epopeia.
NOTA 1. Preftlcio ao livro de J .-L. Rieupeyrout, Le western au Ie cinema americain par excellence, cole
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Ihidos por sua adequaC;ao ao papel que devem desempenhar: con·formidade fisica ou biografica. Quando 0 amalgama tern exito - a experiencia mostra, porem, que isso so pode acontecer se certas condic;oes, de certo modo "morais", do roteiro forem reunidas - obtemos, precisamente, essa extraordinaria impressao de verdade dos filmes italianos atuais. Parece que a adesao comum exig-e dites deles aJlmI.otcirQ •. Qu~ ~~IlteIJlJ)rofll!1:dameQ!e,~.e o minima de mentira dramatica. s.eia~ origem de uma~e.~~ie_Q,e. osmose entre os interpretes....AJngenuid~de tecnica de alguns se 1;>enefi~!~_
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Esteticismo, realismo e realidade Atualidad~ do roteiro, verdade do ator sao, entretanto, apenas a materia-prima da estetica do fiIme italiaftfr.
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A ESCOLA ITALIANA DA Ll8ERA
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De Cidadiio Kane a Farrebique as ultimos anos fizeram evoluir enormemente a estetica do cinema em dire9ao ao realismo. Desseponto _de vista. os-.dois-.eventos que marcam incontestavelmente--a hist6ria.dn~!Lema desde 124!lsae.: Cidadiio Kane e Paisa. Ambos fazemcom que 0 realjsmQ tenha um progresso decisivo, mas por vias bem diferentes. Se evoco 0 filme de Orson Welles antes de analisar a estilistica dos filmes italianos, e porque ele permitira situar melhor 0 sentido desta. QrsQ~~!les r~tituiu a ilusao cinematografica uma quali~ dade ftmdamental do real: sua continuidade. A decupagem classica, decorrente de Griffith, decompunha a realidade em pianos
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sucessivos, que nao eram senao uma sequencia de pontos de vista, 16gicos ou subjetivos, sobre 0 acontecimento. Um personagem, trancado num quarto, espera que seu carrasco venha a seu encontro. Ele fixa angustiadamente a porta. No momento em que 0 carrasco vai entrar, 0 diretor nao deixara de fazer urn primeiro plano da ma9aneta da porta girando lentamente; esse primeiro plano e psicologicamente justificado pela extrema atenem ~.!~£~ica ~a mise-en-scene s'!tisfaz as exigeflcias mais ~igorosas do neo-realisni"o --italiano. Nenhuma cena de estudio. Tudo foi realizado na rua. Quanto aos interpretes, nenhum deles tinha a menor experiencia de teatro ou de cinema. 0 operario vern da Breda, 0 garoto foi descoberto na rua entre os curiosos, a mulher e uma jornalista. Sao esses os dados do problema. Vemos que eles nao parecem renovar no que quer que seja 0 neo-realismo de 0 Corapio manda, de Viver em paz ou de Vitimas da tormenta. Mesmo a priori, tinhamos mais razoes particulares de desconfiarmos. 0 lado sordido da historia ia na direcao mais contestavel da historia italiana: urn certo miserabilismo e a busca sistematica do detalhe sujo. Se Ladroes de bidcleta e uma pura obra-prima comparavel, a rigor, a Paisa, e por urn certo numero de raz5es bern precisas que nao aparecem no mero resume do roteiro, tampouco na exposi9ao superficial da tecnica da mise-en-scene. Em primeiro lugar, 0 roteiro e de umahabilidade diabolica pois ele disp5e, a partir do alibi da atu~lidade social, de varios sis~ temas de coordcnadas dramaticas que 0 sustentam em torno dos sentidos. Ladroes de bidcleta e com certeza 0 unico filme naocomunista valido dos ultimos dez anos, precisamente porque tern sentido mesmo se fizermos abstra9aO de sua significa9aO social. Sua mensagem social nao e destacada, ela permanece imanente ao cvento, mas e tao clara que ninguem pode ignora-Ia e men os ainda recusa-Ia, ja que nunca e explicitada como mensagem. A tese implicada e de uma simplicidade maravilhosa e atroz: no mundo onde vive 0 operario, os pobres, para subsistir, devem roubar uns aos outros~Essa tese.-porem, nUllca e apresentada como tal, 0 encadeamento dos eventos e sempre de uma verossimilhan9a a urn so tempo rigorosa e anedotica. No fundo, na metade do filme, 0 operario poderia encontrar sua bicicleta; so que nao haveria filme. (Desculpem 0 inc6modo, diria 0 diretor, nos pensamos que ele nao a encontraria, mas ja que encontrou, fica tudo bern, melhor
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para ele, a sessao terminou, podem acender as luzes da sala.} En:._ outros termos, urn filme de propaganda pro.curaria n()scl~1rlf!.'!:!.~ (rar queoopeniriQ mia pade encontrar a bicicleta e que e necessariamente pego no circulo infernal de sua pobreza. De Sica se limitS! a nos mastrar que 0 openlrio pode mio encontrar sua hicicleta e que por is so vai sem duvida ficar novamente desempregado. Quem nao ve, porem, que e 0 can'tter acidental do roteiro que faz a necessidade da tese, ao passo que a menor duvida sobre a necessidade dos eventos num roteiro de propaganda tornaria a tese hipotetica. Se pudermos, porem, fazer outra coisa que nao deduzir do infortunio do openirio a condenac;ao de urn certo tipo de relac;ao entre 0 homem e seu trabalho, 0 filme nunca reduz .os acontecimentos e os seres a urn maniqueismo economico ou PQlitica...Ele evitc:urapacearcoIILaJ.ealidad~ n~JLa-penas dispOlldo na Sllcessao doi fatos umacronologia acidental ecomo_.Que aned6tica,lllils tratando cad a urn deles em sua integridade fenomenal. Que 0 garoto, no meio da perseguic;ao, tenha de repente vontade de fazer xixi: ele faz. Que uma chuva obrigue 0 pai e 0 filho a se esconder debaixo de uma porta de cocheira, e e preciso que nos, como eles, renunciemos a busca para esperar 0 fim da tempestade. Os acoJl1e,. cimentos nao sao essencialmente signos de alguma coisa, de lima . v.e.rdade de que seria preci51LnQ.~. 0spetacu!-o fal': parte·d€ sua es£e1!ci~. Enquanto realiza as condic;oes fisicas do espetaculo, o cinema nao pa·r-ecepoderescapar-asuas leis psicologicas, mas ele dispoe tambern de todos osreCl.l.rSQS do romance. Com isso 0 cinema e, sem duvida, congenitamente hibrido: ele contem uma contradic;ao. Ora, e evidente que a via progressiva do cinema se dirige para 0
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LADROES DE BICICLETA
aprofundamento de suas virtualidades romanescas. Nao que sejamos contra 0 teatro filmado, mas convenhamos que se a tela pode, em certas condic;oes, desenvolver e como que desdobrar 0 teatro, e necessariamente em detrimento de certos valores especificamente cenicos e, em primeiro lugar, da presenc;a fisica do ator. Em contrapartida, 0 romance nao tern (ao menos ideal mente) nada a perder no cinema. Podemos conceber 0 filme como urn super-romance cuja forma esc rita nao seria senao uma versao enfraquecida e provisoria.
taculo, se quisermos - e que espetaculo! -, Ladroes de bicicleta ia nao depende em nada, contudo, das matematicas element ares do drama, a aC;ao nao preexiste a ele como uma essencia, ela decorre da exTsi~eliminardorelato, ela e a "1ntegral"cla-realicfade-:() exito supremo de De Sica~do quafouiros so conseguiramCbegar m