MARIO FERREIRA DOS SANTOS
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ONTOLOGIA E C0SM0L0GIA (À CIÊNCIA DO SER E A CIÊNCIA DO COSMOS) — 2." EDIÇÃO
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ENCICLOPÉ...
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MARIO FERREIRA DOS SANTOS
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ONTOLOGIA E C0SM0L0GIA (À CIÊNCIA DO SER E A CIÊNCIA DO COSMOS) — 2." EDIÇÃO
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ENCICLOPÉDIA DE CIÊNCIAS FILOSÓFICAS E SOCIAIS
Volume V
LIVRARIA
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ALAMEDA ITÚ, 452 — TEL. 31-3365 e 31-0238 S A O P A U L O
Primeira edição: Outubro de 1954 Segunda edição: Fevereiro de 1957
Programa editorial da Livraria e Editora LOGOS Ltda. "ENCICLOPÉDIA DE CIÊNCIAS FILOSÓFICAS de Mário Ferreira dos Santos.
E SOCIAIS" —
Volumes publicados: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9)
"Filosofia e Cosmovisão" — 3. a ed. "Lógica e Dialéctica" — 2. a ed. "Psicologia" — 2.a ed. "Teoria do Conhecimento" — 2. a ed. "Ontologia e Cosmologia" — 2. a ed. "Tratado de Simbólica" "Filosofia da Crise" — 2.a ed. no prelo. "O Homem perante o Infinito" (Teologia) "Noologia Geral" (Antropogènese, Psicogênese e Noogenese)
A sair:
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"Filosofia Concreta". "Do Valor e do Belo" (Axiologia e Estética).
COLEÇÃO TEXTOS FILOSÓFICOS — Sob a direção de Mário Fer reira dos Santos. "Aristóteles e as Mutações" — Com texto reexposto e comentá rios de Mário Ferreira dos Santos. A sair: Obras completas de Aristóteles Obras completas de Platão Acompanhadas d e comentários e notas. OS GRANDES LIVROS:
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Proí. Bento Ms
"Don Quixote de Ia Mancha", de Miguel Cervantes — 2 volumes. com as gravuras de Gustavo Doró. "A Divina Comédia", de Dante, com ilustrações de Doré — 3 vols. "O Paraíso Perdido", de Milton, com ilustrações de Doré — 2 vols. "As Fábulas de La Fontaine", c/ ilustrações de Doré — 3 vols.
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Antologia da Literatura Mundial
V. OS
DIREITOS
I — Contos e Novelas de Língua Estrangeira I I — Contos e Novelas de Lingua Estrangeira . A sair: III — Contos e Novelas de Língua Portuguesa IV — Fábulas e apólogos V — Pensamento universal
RESERVADOS
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Obras de MARIO FERREIRA DOS SANTOS PUBLICADAS:
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"Filosofia e Cosmovisão" — 3." ed. "Lógica e Dialéctica" — 2." ed. "Psicologia — 2. a ed. "Teoria do Conhecimento" — (Gnoseologia e Critèriologia) 2.a ed. "Ontologia e Cosmologia" — (As ciências do Ser e do Cosmos) 2. a ed. -■ ' "O Homem que Nasceu Póstumo" — (Temas nietzscheanos) 2.a ed. no prelo. "Curso de Oratória e Retórica" — 5.a ed. "Assim Falava Zaraiustra" — Texto de Nietzsche, com análise simbólica — 2. a ed. "Técnica do Discurso Moderno" — 2." ed. "Se a esfinge f a l a s s e . . . " — Com o pseudônimo de Dan Andersen (esgotada). "Realidade do Homem" — Com o pseudônimo de Dan Andersen (esgotada). "Análise Dialéctica do Marxismo" (esgotada). "Curso de Integração Pessoal" — (Estudos caracterológicos) 2.a ed. "Tratado de Economia" — (Edição mimeografada) — Esgotada. "Aristóteles e a s Mutações" — Reexposição analítico-didática do texto aristotélico, acompanhada da crítica dos mais famosos co mentaristas. "Filosofia da Crise" — (Problemática filosófica), — 2." ed. no prelo. "Tratado de Simbólica". "O Homem perante o Infinito" — (Teologia). "Noologia Geral" (Antropogênese, Psicogênese e Noogênese). No
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PRELO:
"Do Valor e do Belo" — (Axiologia e Estética) "Filosofia Concreta" "Assim Deus falou aos homens" — Coletânea de trabalhos publi cados com o pseudônimo de Mahdi Fezzan A
ÍNDICE ONTOLOGIA 1'F.MA I Art. 1 — Conceito e objecto da Ontologia Art. 2 — Do Ser, do Ente, da Essência e da Existência — A Sistência • Art. 3 — Do Ser e do Acto Art. 4 — Das propriedades do Ser Art. 5 — Ente possível e Ente actual TEMA II Art. 1 — Da distinção Art. 2 — Síntese d a Analogia TEMA III Art. 1 — O Possível — O Real e a Realidade Art. 2 — As relações Art. 3 — As idéias negativas "... Art. 4 — Os Modos — A Teoria Modal TEMA IV Art. 1 — As categorias — Substância e Accidentes TEMA V Art. 1 — Princípios intrínsecos e extrínsecos do Ser Art. 2 — Acto e Potência Art. 3 — Matéria e Forma Art. 4 — Problemática da Essência e da Existência Art. 5 — As Causas Art. 6 — A Causa Final
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PUBLICAR:
COSMOLOGIA "Os versos áureos de Pitágoras" "Pitágoras e o tema do Número" "Tratado de Eiquemalologia" "Teoria Geral das Tensões" "Dicionário de Filosofia" "Filosofia e História da Cultura" "Tratado Decadialéclico de Economia" — (Reedição ampliada do "Tratado de Economll "Temática e problemática das Ciências Sociais" "As três críticas de K a n l " "Hegel e a Dialéctica" "Ética" "Dicionário de Símbolos e Sinais" "Práticas Oratórias" "Os Grandes Discursos"
TEMA I Art. Art. Art. Art. Art.
1 — Objecto da Cosmologia 2 — O Espaço, o Tempo 3 — O Movimento 4 — Relações das propriedades do Tempo e do Espaço . . 5 — Uma análise budista sobre o tema do Movimento, do Tempo e do Espaço TEMA II Art. 1 — A Matéria Art. 2 — Os seres vivos Art. 3 — Síntese das ijéias modernas sobre a Vida Art. 4 — As teorias da evolução e da não BIBLIOGRAFIA
217 220 225 230 238 243 249 252 255 259
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ONTOLOGIA
Na Metafísica, IV, 1, Aristóteles empregava estas palavras: "Há uma ciência q u e estuda o Ser enquanto ser, e seus atributos essenciais. Ela não se confunde com nenhuma das outras ciên cias chamadas particulares, pois nenhuma delas considera o Ser em geral, enquanto ser, mas, recortando u m a certa parte do ser, somente desta parte estudam o atributo essencial; como, por exemplo, procedem a s ciências matemáticas. •
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Mas já q u e procuramos os primeiros princípios e a s causas mais elevadas, é evidente que existe necessariamente alguma realidade à qual tais princípios e causas pertencem, em virtu de de sua própria natureza. Se, pois, os filósofos, que busca vam os seres, procurassem esses mesmos princípios, resultaria daí necessariamente que os elementos do Ser são elementos des te, não; enquanto accidente, mas enquanto ser. Eis por que de vemos estudar a s causas primeiras do Ser enquanto ser." Estas palavras de Aristóteles sobre a filosofia primeira (prote philosophia a philosophia prima dos escolásticos) são ainda o melhor e mais claro enunciado sobre a ciência em que ora penetramos, a Ontologia ou Metafísica Geral. Assim tam bém é chamada, porque estuda o ser enquanto ser, isto é, tomando-o na sua maior universalidade. Essa compreensão d a Ontologia, no entanto, foi modificada por filósofos modernos, que se colocaram sob a égide de Kant. Para este, conhecemos os fenômenos, e sabemos d a existência do noumeno, mas deste não temos nenhuma experiência sensí vel, isto é, não o intuímos pela intuição sensível, mas me diante uma dialéctica, que Kant chamou d e transceu A Ontologia seria, então, a ciência do noumeno. A ela ca beria o papel especial de estudar o que j> o atrás dos fenômenos, de explicá-los, enquanto os fenômenos caberiam à s ciências particulares.
MARIO FERREIRA DOS SANTOS
ONTOLOGIA E COSMOLOGIA
Por isso, modernamente, costuma-se empregar o termo ontológico, como referente ao ser elucidado, a o ser em geral, à sua razão, a o seu logos; e ôntico ao ente, tomado determinada mente, como íacto de ser. Esta divisão evita a confusão entre realidade ontológica e realidade ôntica, que, inseparáveis n a ordem do ser. são. no entanto, distintas na visualização filosó fica. Note-se ademais que tal aceitação terminológica não im plica a aceitação d a doutrina kantiana. mas apenas nasce ela de um desejo de clareza, ideal de quem quer verdadeiramente realizar alguma coisa na filosofia.
sófica, mas o termo dessa ciência, o fim a ser alcançado por ela, e não dado como objecto a ser analisado, mas a ser conquistado.
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Há outros termos empregados também neste sentido como ontal, côisico e rêico. que encontramos entre filósofos modernos. Esse modo de considerar n ã o é, porém, matéria pacífica e universalmente aceita na filosofia. Os escolásticos n ã o fa ziam tal distinção, e consideravam tais expressões deste modo: ôntico significa o ente a i n d a n ã o descoberto pelo espírito como intelligibile in potenüa, como já examinamos n a "Teoria do Co nhecimento", e ontológico, o ente já esclarecido, descoberto, intellectum in actu. Uma verdade ôntica é uma verdade q u e está no ser; quando em acto no intelecto é uma verdade ontoló gica, ôntica, portanto, pertence à imanência do ente, e ontológica à imanência do ser. captada transcendentalmente. Em nossa linguagem filosófica, diríamos que ôntico refere-se a toda a esquemática imanente ao ser. tomado in genere ou não, como facto de ser, extra mentis, independente do intelecto, isto é, dos esquemas noéticos de qualquer espécie. E ontológico refere-se a tais esquemas noéticos, (logos do ontos) à esquemá tica captada pelo intellectus in actu, cuja correspondência e alcance, paralelismo ou não, cabe à Ontologia elucidar. A Ontologia, como ciência filosófica, surge, n a cultura grega, pela acção construtiva de Aristóteles, que a chamava de próte philosophia, filosofia primeira, e também de theologikê epistéme, ciência divina, porque estuda ela os seres mais divi nos até alcançar o Primeiro Motor, o Acto Puro. Na filosofia medieval, e sobretudo n a escolástica, a Teologia separa-se da Ontologia, porque- a transcendência do Acto Puro, ontològicamente examinado, não alcança a totalidade da trans cendência do ser infinito, q u e já é tema fundamental daquela dis ciplina. Deus não é um objectum da epistéme, da ciência filo-
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Já tivemos oportunidade, em outros trabalhos nossos, de nos referirmos à classificação d a d a por Andrônicos de Rodes aos trabalhos de Aristóteles que deveriam ser editados logo após os livros sobre a física, q u e êle intitulou d e ta (biblia) meta tá physiká, de onde latinizou-se o termo metaphysica. Um exame cuidadoso d a obra aristotélica nos mostra à sociedade que não s e trata a p e n a s de uma classificação, mas d a consciência q u e tinha Aristóteles dessa ciência. Com a escolástica, tais temas, estudados n a obra famosa e fundamental de Aristóteles ("Me tafísica"), passam a constituir uma ciência rigorosamente delimi tada, q u e estudará o ser n a sua imanência e n a sua transcen dência (post physicam et supra phyaicam), independente d a fí sica experimental. Não é o estudo do ser separado do físico e do sensível, como de per si subsistente, como poderia estabele cer-se, fundando-se numa posição platônica ou platonizante, ou melhor, numa posição como freqüentemente, no decurso do pro cesso filosófico, considerou-se como o genuíno pensamento pla tônico, ao q u e tantas vezes temos nos oposto e procurado escla recer, e q u e ainda faremos, no futuro, com melhores fundamentos. A Ontologia, portanto, toma o ser concretamente. em toda a sua densidade, embora o examine pelos métodos que lhe são próprios, realizando a aphairesis (abstracção) do físico e do transfísico (como o exemplo já dado d o exame d a rotundidade independentizado ontològicamente apenas do objecto rotundo). Não é d a verdadeira metafísica, como já vimos, realizar essa separação, de funcionalidade noética, e considerá-la, depois, como física, o que leva aos perigos do abstractismo, que é a forma viciosa d a abstracção, e que consiste no considerar ônticamente o que é separado apenas ontològicamente. Impõe-se estabelecer a q u i tais explicações para evitar a caricatura que se costuma traçar da Ontologia, o i ■i a muitos a passar por ela de largo, em vez d e se embrenharem em seu estudo, de magna importância para a boa visualização filosófica. Desta forma, a Ontologia procura peneli itimidade do ser, na sua realidade mais íntima, visão sintética dos grandes temas ontológicos, e nos cabe, daqui por
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ONTOLOGIA E COSMOLOGIA
TEMA I
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A unidade pode ser, em linhas gerais: a) simples, de simplicidade;
ARTIGO 4
b) DAS PROPRIEDADES DO
SER
A propriedade é definida como o próprio de u m a coisa (idion), que nem sempre é unívoco com o ente. O próprio é o q u e pertence a toda uma espécie, não como essência, pois pode encontrar-se em outras espécies. O próprio é um predicável accidental. É, em suma, o ne cessário em qualquer sujeito, não pertencente porém à sua essência. A unidade ontológica é a primeira propriedade do ente (como ser), um atributo transcendental. Como já vimos, são conceitos transcendentais aqueles que se referem a atributos q u e convém a todos os seres, não a p e n a s no que eles têm de comum, mas também no que têm de próprio, Desta forma, o conceito de ser pode ser aplicado a todos os entes. Mas também, outros conceitos o podem, como o de enti dade (entitas), o de unidade, o de verdade e de bondade, (va iar), e de "alguma coisa", e também o de relação. Já examinamos o que se entende por unidade: caracter do que é um. Não se deve confundir o conceito de unicidade com o de um. Unicidade é o caracter do que é único, sem se gundo idêntico a êle, enquanto o de ser um, refere-se ao ca racter de quem tem unidade. A unidade é indivisa. Muitos julgam que é negativo o con ceito de indivlso. Mas a unidade é positiva, e o caracter de ser indivisa aponta a recusa q u e se lhe faz de não ser senão ela mesma, pois dividida, a unidade, enquanto tal, deixá-lo-ia de ser. Conseqüentemente, todo ente é um (ente ôntico). "Um, o que é indiviso em si e dittincto de qualquer outro" (Tomás d e Aquino). Unidade é d a d a pela coerência (veritas ontológica) pela inteligibilidade do ente, enquanto ente.
de composição.
É unidade simples, de simplicidade, a que além de indivisa é ainda indivisível. O átomo dos filósofos é indiviso, pois é a-tomós, e também é indivisível porque é simples, não composto. Também, assim, um puro espírito é indiviso e indivisível. Os seres compostos, que como tais não são simples, formam uma unidade de composição, e formam um todo. Enquanto todo, é individido actualmente, mas não exclui a divisibilidade. As unidades forma-matéria, substância-accidente, são para mui tos unidades de simplicidade, embora apresentem distinções metaflsicamente consideradas; para outros, unidades de com posição, mas muito mais coerentes do que as que compõem a s unidades de composição física. Um átomo, na concepção atô mica científica, é uma unidade de composição forte. Estas unidades, que são estructuras, como a s estructuras de ordem biológica, de ordem psicológica e sociológica, possuem graus de coerência, de coesão, maior ou menor. São assim "tensões", no sentido que damos a este termo, q u e incorporamos ao universo de discurso d a filosofia. Mas a tensão oferece um aspecto importante. Se ela é, como todo, quantitativamente a soma das suas partes, é qualitativamente diferente, o que re vela um salto específico importante, que a "Teoria Geral das Tensões" estuda. Duns Scot oferece esta divisão d a unidade: Unitas aggregationis (unidade de conjunto) é a que forma um grupo de objectos simplesmente reunidos. Unitas ordinis (unidade de ordem). Esta não é un e simples juxtaposição, mas nela c a d a parte ocupa um lugar cável, em virtude de um certo princípio. Unitas per accidena (Unidade por accidento). Nuo ó prònente uma relação de ordem, mas a unidade de um deterido e d e uma forma que o determina. Se a forma é accii unidade ó per accidens. Se a forma é ■ubitancíal, ntão1 em face de uma unidade de per ai.
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Unitas per se, uma unidade por si, com surgimento de uma forma. Finalmente a unidade mais alta é a Unitas simplicitatis, que implica uma perfeita identidade, pois o que está numa unidade de simplicidade, seja o que fôr, é a mesma coisa que seja o que fôr nela. A unidade não é um termo apenas unívoco, pois a que encontro neste livro como um artefacto humano, portanto do mundo da cultura, e a de um ser vivo são diferentes. Mas tam bém não é apenas equívoco, porque, em ambos casos, não se trata de coisas absolutamente diversas. Há síntese de seme lhança e de diferença, portanto a unidade é análoga, como exa minaremos ao tratar o tema d a analogia. Q ser é unidade. E como já vimos, ser e um se convertem (ens et unum convertuntur). Se o ser fosse divisível pelo nada, por exemplo, como o afirmam alguns, teríamos, então, diversos seres, e acabaríamos no pluralismo, com todas a s aporias q u e daí decorrem, como ainda veremos em lugar oportuno e sobretudo n a "Filosofia Concreta". Essas propriedades do ente não lhe acrescentam qualquer coisa de real, mas apontam o q u e é racionalmente captado nele. Esta afirmação, que ora fazemos, implica um problema de onto logia, que é o d a distinção. Por esse motivo, no lugar oportuno, voltaremos a examiná-lo. A VERDADE E O ENTE Verdade é também um conceito transcendental. Todo ser é verdade. As verdades não são unívocas, nem equívocas, mas análogas também. Por isso, os escolásticos diziam ens et verum conv«rtuntur, ente e verdade são convertíveis. Todo ser é verdadeiro e tudo o q u e é verdadeiro é ser. Se h á uma falsidade lógica, não há antológica nem ôntica ( a verdade da coisa em si m t i m a ) . Entre o ser e a verdade há a p e n a s uma distinção real-racional, Como vimos em "Teoria do Conhecimento", a verdade se pode dizer do intelecto e das coisas. Por isso se podem distin guir: a verdade do intelecto, que é cognição; a verdade lógica, a verdade dia coisa, a verdade ontológica ou transcendental. a verdade do ser, cujo estudo dispensamos repetir aqui.
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Todo o ente é verdadeiro. Todo ente pode ser considerado como ensidade. E en quanto tal (unidade) é a d e q u a d o a si mesmo. Não se deve considerar a verdade como se fosse apenas verdade lógica. Verdade é também um atributo ontológico( por ser ente). Toda tensão, como ensidade, é verdade, num determinado plano. Este pássaro, como pássaro, é verdade (ôntica e ontològicamente considerado). Um pássaro voando no fundo do mar (outro plano existencial) não é verdade. A verdade lógica permite a verificação, adequação com a coisa (adaequatio rei). Aqui temos facilmente à mão o conceito de falso, já examinado n a "Teoria do Conhecimento". A relatividade d a verdade está n a operação q u e verifica a adequação. O SER E O VALOR A palavra bondade, vem de bom, que tem bem. dade absoluta e bondade relativa.
Há bon
A primeira funda-se n a perfeição; a segunda, n a sua re lação. Todo ente tem bondade (relativa). Há ainda a bondade em si, e a bondade para outro. A unidade é a coerência da tensão e revela uma bondade em si, podendo apresentá-la, segundo os planos (bondade relativa). Modernamente se substitui o termo bondade pelo de valor, que o contém. Na "Axiologia", veremos que o ser é valor, e o valor é ser, apesar das inúmeras opiniões contrárias e diver sas. Mas a idéia de valor é também análoga, pois ora é unívoca ora equívoca, sem ser exclusivamente nem uma nem ou portanto é análoga. Todo ser tende a realizar o seu 1> o seu valor. É êle, intrlnsecamente, um valor que realiza va lares. Daí os escolásticos dizerem ens et bonum convortuntur, ser e bem (valor) são convertíveis. Como poderia o bom ser bom sem ser? Todo ser é um valor na proporção que é, e desejável segundo a sua perfeição. Valor e ser, q u e se identificam dialècle no ser, distinguem-se porém, porque o valor intrínse-
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co do ser será o próprio ser, enquanto valerá ante outro, extrinsecamente, segundo a desirabilidade que provoca ou satisfaz; mas tal desirabilidade já implica a anterioridade do valor q u e o provoca, como veremos na "Axiologia". Segundo esse conceito de valor, o problema do bem e do mal se tornará mais claro, e n ã o teremos necessidade de esca motear a sua positividade para explicá-lo, reduzindo-o a p e n a s a uma privação de ser, o que nos leva, muitas vezes, se não tiver mos cuidado, a cair numa escolaridade do ser, enquanto tal, o q u e nos põe ante a s mais difíceis situações aporéticas. Se todo o ser é bom, como surgiu o mal? Neste caso, o mal seria uma espécie de não-ser. A solução excludente leva a privar a presença do que embaraça. Por não serem dialécticos, muitos filósofos cairam n a aporia do mal, que os enleiou, de tal maneira, que este problema, um dos mais importantes d a Teologia, exige um tratamento todo especial, o que faremos em lugar oportuno. Em suma: todo ser é valor. O conceito de valor pode con verter-se no de ser e vice-versa. Mas o Ser, como valor supremo, é um valor incondicionado, enquanto os entes são valores condicionados. Demonstremos: O ser é o sujeito de todos os predicados e o predicado de todos os sujeitos. É ser tudo quanto é su jeito de um predicado, é ser tudo quanto é predicado de um sujeito. Os entes (que todos são também ser), o são em si ou em tio.
Mas pode ser considerado em si ou em outro, pois tudo tem, come subsistência final, o ser (todo existente tem a sua subsistência final no ser). A condicionalidade do existir implica também a condicionalidade do valor (valor de variância). Todo existente é também um valor condicional, e apresenta tantos valores quantas possibilidades relacionais, condicio nais, etc. Só o Ser supremo é incondicionado como ser e como valor.
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Todo o ser revela um valor condicionado a outros, tanto em sua imanência, como valor das partes componentes de uma tensão para com a unidade tensional, como desta em face das estructuras a q u e pertença ou das estructuras com a s quais se antagoniza. A variabilidade do valor condicionado segue paralela à condicionalidade do existir, e a s duas se convertem. Por haver condicionalidade do existir, h á condicionalidade do valor; por haver condicionalidade de valor, há condiciona lidade do existir. Todo valor é assim, no campo existencial, variável, como o existir é variável, sem que o ser o seja. O ser subsistente, e subsistência de tudo quanto existe, enquanto tal, é incondicional mente valioso. E essa subsistência final é a superessencialidade do ser supremo, q u e é um valor incondicionado, por isso é transcendência de todo existir. O SER, A INTELIGIBILIDADE E A SIMILITUDE Duns Scot mostra-nos que a inteligibilidade acompanha a toda entidade. Todo ser, enquanto é, é inteligível. Todo ser, enquanto é, é semelhante a qualquer outro, por que o ser é predicável tanto a um como a outro. A inteligibilidade do ser é a sua verdade ontológica. ' É esta a propriedade de todo e qualquer ser, enquanto tal, pois é assimilável aos esquemas noéticos. É esta verdade que funda a verdade lógica, quando esta se d á pela adequação do esquema noético ao esquema con creto do ente. (1) O PRINCIPIO DE NAO-CONTRADICÇAO Segue-se imediatamente do conceito de ser o princípinão-contradicção. O ser é ser, e como tal não admite dicção. O ser é ser e não pode ser não-ser. Sob o mnsmo