Ciências Humanas e Complexidades Projetos, métodos e técnicas de pesquisa O caos, a nova ciência 2ª edição
ROGÉRIO LUSTOSA BASTOS
Rio de Janeiro, 2009
Ao professor Fábio Herrmann (PUC/SP) e à professor Marlene Guirado (USP) pela inspiração; ao professor Roberto A. Q. de Souza (Ex-Presidente da Faperj) e à professora Jô Gondar (Unirio) pelo incentivo; aos colegas do Departamento de Métodos e Técnicas da ESS/UFRJ e a muitos outros que direta ou indiretamente, contribuíram para que realizasse este trabalho.
A ciência existe para acabar com as misérias humanas Brecht
É preciso fazer do conhecimento a mais potente das paixões. Nietzsche
© Rogério Lustosa Bastos/E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2009. Todos os direitos reservados a Rogério Lustosa Bastos/E-papers Serviços Editoriais Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores. Impresso no Brasil. ISBN 978-85-7650-237-1 Projeto gráfico e diagramação Livia Krykhtine Capa Tiago Souza Bastos Imagem de capa Claude Monet, “A estação de Saint-Lazare” Revisão do autor
Esta publicação encontra-se à venda no site da E-papers Serviços Editoriais. http://www.e-papers.com.br E-papers Serviços Editoriais Ltda. Rua Mariz e Barros, 72, sala 202 Praça da Bandeira – Rio de Janeiro CEP: 20.270-006 Rio de Janeiro – Brasil
CIP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ B326c 2.ed. Bastos, Rogério Lustosa Ciências humanas e complexidades: projetos, métodos e técnicas de pesquisa: o caos, a nova ciência/Rogério Lustosa Bastos. 2.ed. - Rio de Janeiro: E-papers, 2009. 146p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7650-237-1 1. Ciências sociais - Pesquisa - Metodologia. 2. Pesquisa - Metodologia I. Título. 10-1274.
CDD: 300.72 CDU: 316:001.8
Sumário
9
INTRODUÇÃO
15
CAPÍTULO 1. MOMENTO PRÉVIO DA PESQUISA: RUPTURA COM O SENSO COMUM
16
1.1. Do diálogo ilustrativo aos parâmetros preliminares da pesquisa 1.2. Ruptura com o senso comum: sugestão para implementá-la 1.3. A ruptura, ciências humanas e pensamento complexo
22 25
37
CAPÍTULO 2. DA PROBLEMÁTICA À ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
38
2.1. Da ruptura com o senso comum ao corte que delimita e desenvolve a investigação 2.2. Fundamentos do projeto de pesquisa: um delineamento do modelo de análise
43
71
CAPÍTULO 3. DISCUSSÃO DOS PRINCIPAIS MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISAS
74 82 95
3.1. Tipos básicos de pesquisa 3.2. Métodos de pesquisa 3.3. Técnicas de Pesquisa
105
CAPÍTULO 4. A QUESTÃO DA BIBLIOGRAFIA E DA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
106 113 116 116 117
4.1. Referências de livros correntes, revistas, jornais, etc. 4.2. Das referências das obras no corpo do texto da pesquisa 4.3. Referências quanto às entrevistas 4.4. Referências quanto aos filmes 4.5. Referências quanto aos documentos eletrônicos/ internet em geral
121
CAPÍTULO 5. ETAPAS E ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
122 124
5.1. Etapas da Pesquisa 5.2. Estruturação do Projeto
137
NOTAS
141
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Introdução
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E
ste trabalho nasceu basicamente de dois acasos. O primeiro relaciona-se ao fato de que lecionando uma disciplina denominada “Técnicas de Pesquisa em Psicologia”, me vi diante de um evento curioso: de um lado havia um equívoco enorme, no sentido de reduzir a questão das pesquisas e sua própria validação apenas ao método experimental; de outro, havia ainda um hiato considerável, notadamente a partir do grupo discente, no que tangia ao processo de se implementar concretamente uma pesquisa bibliográfica. Dizia-se, entre outros absurdos, que uma pesquisa em ciências humanas só poderia ser desenvolvida a contento se estivesse necessariamente de acordo com o método experimental. Ora, tal absurdo não tem sustentação acadêmica. Embora esse pensamento possa ser identificado com uma visão simplista e próxima ao senso comum, que é contra ao próprio método experimental, ainda assim cabe um pequeno parêntese: é óbvio que se observam muitas pesquisas ruins, sobretudo por lacunas que envolvem questões de métodos e de rigor. Contudo, mesmo pensando assim, de outro lado, fica difícil sustentar o argumento de que a pesquisa em ciências humanas só é possível através de um único método. Discutir acadêmica e criticamente por tal via é seguir uma argumentação contrária à própria ciência, ou seja, é tão inconcebível pensar que só se pode fazer pesquisa unicamente pelo método experimental como também é indefensável sustentar a exclusividade do método de pesquisa participante, ou de qualquer outro. Para os que ainda queiram, quem sabe, aprofundar essa discussão no plano da ciência atual, cabe lembrar PRIGOGINE (1984, 1990, 1992), físico belga, prêmio Nobel de Química de
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1977. Na sua obra, entre outros destaques, diante do paradigma da ciência clássica, ele abre um novo campo e principalmente traz contribuições ao ressaltar as questões da irreversibilidade, da instabilidade, do caos: As leis da física, em sua formulação tradicional, descrevem um mundo idealizado, um mundo estável e não o mundo instável, evolutivo, em que vivemos. Este ponto de vista força-nos a reconsiderar a validade das leis fundamentais, clássicas e quânticas. Em primeiro lugar, nossa recusa da banalização da irreversibilidade funda-se no fato de que, mesmo na física, a irreversibilidade não pode ser mais associada apenas a um aumento da desordem. Muito pelo contrário, os desenvolvimentos recentes da física e da química de não-equilíbrio mostram que a flecha do tempo pode ser uma fonte de ordem. (...) A irreversibilidade leva ao mesmo tempo à desordem e à ordem. Longe do equilíbrio, o papel construtivo da irreversibilidade torna-se ainda mais impressionante. Ela cria, ali, novas formas de coerência (...). A vida só é possível num universo longe do equilíbrio” (PRIGOGINE, 1996, p. 29-30).
Na realidade, Prigogine quer sublinhar, em síntese, que a investigação científica problematiza fatos que não se reduzem exclusivamente ao paradigma das certezas, baseado principalmente na física de Newton. O que isto compreende? De um lado, compreende fundamentalmente que, pelo menos do ponto de vista da atual ciência, a irreversibilidade, a incerteza, a instabilidade passam a ser discutidas sem o caráter depreciativo que ganhavam até pouco tempo. De outro lado, compreende também que longe de fazer a defesa ingênua do aniquilamento do rigor, do pensamento sistemático, da ordem, fatores admitidos como
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fundamentais para a ciência clássica, Prigogine, ao contrário, problematiza e amplia o debate sobre tais pontos. Estes, quando analisados junto ao acaso, à desorganização, à instabilidade e outros aspectos do gênero, enriquecem a compreensão do acontecimento científico até então visto de forma simplificada. Tal análise, principalmente desenvolvida a partir de estudos sobre a “flecha do tempo”, sugere, em resumo, que estamos diante de um novo paradigma científico, ou de uma “nova aliança”, onde, na análise do fato científico, os ditos conhecimentos menores e/ ou maiores não só estão retroagindo uns sobre os outros, como também oscilam e problematizam-se na relação entre o caos e a complexidade. O segundo acaso relacionou-se ao fato de que ao ter concluído minha tese de doutorado, reunindo um número considerável de anotações e delineamentos sobre as pesquisas em ciências humanas, mostrei tais apontamentos para outros docentes, entre eles, uma professora de literatura e doutora da Universidade Federal de Minas Gerais, que me sugeriram, então, que me impusesse a tarefa de transformar as anotações em um livro. Na verdade, Adelaine La Guardia, nome da referida professora, tem uma enorme participação nessa empreitada. Devo a ela não só a iniciativa de ter-me estimulado na transformação desse material na palavra escrita, como também a sugestão de tentar apresentá-la num estilo de multilivro, ou de livro intercambiável. Vejamos um trecho de um trabalho que me foi apresentado pela Adelaine, o qual, tratando do assunto, diz: “As folhas desse livro seriam cambiáveis, poderiam mudar de lugar e ser lidas de acordo com certas ordens de combinação determinadas pelo auto-operador [que de resto não se considera mais do que um leitor situado numa posição privilegiada, face à objetividade do livro que se anomiza]”. Enfim, trata-se “de um multilivro onde a partir de um número relativamente pequeno de possibilidades de base, se chegaria a milhares de combinações”(CAMPOS, 1977, p 18) A idéia de livro intercambiável, a partir do trecho acima, como se pode notar, provém de um texto de Mallarmè, “Le Li
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vre, instrument spirituel”, escrito dentro do espírito de uma nova física. O texto, além de fugir à idéia usual de livro, incorporava simultaneamente a permutação e o movimento como aspectos fundamentais, principalmente visando colocar o leitor como agente de estruturação do conteúdo. Ou seja, diante de um livro com essas características, além de o leitor poder lê-lo pela forma usual – aquela que segue do primeiro ao último capítulo, passo a passo –, é possível lê-lo também de outras maneiras; pode-se ler um capítulo da segunda parte, para só depois ler-se a primeira parte, por exemplo; pode-se ler sucessivamente um capítulo de uma parte e outro capítulo de outra parte, tudo isso sem prejuízo do entendimento do conteúdo. Além de permitir leituras diversas do modo usual sem prejuízo do conteúdo, o mais relevante aqui é que tal texto permite um diálogo com o leitor, no sentido de que este opere as páginas lidas e faça combinações diversas, dando-lhes uma ordem em função de seu interesse. Talvez nem seja necessário sublinhar que tal fato gera fundamentalmente uma ação criadora e transforma o leitor num auto-operador do texto em questão. Trata-se, enfim, do livro de espírito cambiável ou da operação da nova física do livro. Na tentativa de realizar tal espírito, esse livro encontra-se dividido em cinco capítulos. No primeiro deles, como uma espécie de introdução, observase uma visão panorâmica onde estão ressaltados alguns procedimentos que se devem adotar, principalmente tendo em vista o início ou o momento prévio da pesquisa acadêmica. Diga-se de passagem que é a partir da concretização desses procedimentos básicos, no citado planejamento prévio da pesquisa, que se faz a ruptura com o senso comum, que precisa se dar a partir da delimitação do assunto escolhido. Tal parte aqui ganha o título de “MOMENTO PRÉVIO DA PESQUISA: RUPTURA COM O SENSO COMUM”. No segundo capítulo, através do subtítulo “DA PROBLEMÁTICA À ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PEQUISA”, desenvolve-se uma discussão básica sobre os fundamentos e principais questões concernentes à elaboração do
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projeto de pesquisa. No terceiro capítulo, DA DISCUSSÃO DOS PRINCIPAIS MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA, há uma apresentação de alguns dos métodos científicos e uma discussão das principais técnicas que podem ser aplicadas através deles. No quarto capítulo, discute-se “A QUESTÃO DA BIBLIOGRAFIA E DA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA”. Além de dizer que se encontra aqui uma série de normas e regras básicas acerca do assunto citado, vale assinalar que anotar devidamente as fontes de consultas, fazer as fichas bibliográficas, destacando as possíveis citações de grande interesse de forma adequada, assim como registrando corretamente as referências bibliográficas das obras que ajudam o trabalho na sua idéia principal, são indubitavelmente um fator de grande valia para qualquer pesquisador. Nada pior do que por desconsiderarmos tal questão, perdemos um tempo desnecessário no meio de dezenas de livros já pesquisados, só porque precisamos fazer uma citação importante e estamos impossibilitados de localizar o texto pertinente, porque não temos todos os dados completos que o indiquem; nada pior do que meses após pesquisar um determinado assunto em uma biblioteca, termos que voltar novamente ao mesmo lugar, principalmente porque há uma série de textos imprescindíveis, que embora já tenham sido estudados, não foram anotados de forma devida e não podem ser citados corretamente. O quinto capítulo se refere à ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA. Em síntese, aqui encontraremos uma série de sugestões e críticas sobre o desenvolvimento de pontos relevantes que devem constar no projeto de pesquisa. Dentre as sugestões que debateremos, destacamos: o resumo, a introdução, a revisão da literatura em questão, o cronograma, entre outros pontos. Texto da primeira edição
CAPITULO I
Momento Prévio da Pesquisa: Ruptura com o Senso Comum
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1.1. Do diálogo ilustrativo aos parâmetros preliminares da pesquisa O que é de fato fazer uma pesquisa científica? Quais os principais elementos que devemos dominar para a sua elaboração? Que fundamentos precisamos saber e contratempos que devemos evitar? Há várias maneiras de responder tais questões. Dentre elas, por exemplo, pode-se optar por introduzir a matéria através de um diálogo ilustrativo que ocorre entre dois universitários. O referido diálogo, como se verá, pode não só nos situar como também nos dar um “pequeno empurrão”, de forma problematizadora, para dentro do campo de estudo que trata dos parâmetros básicos sobre o “como” iniciar-se nas pesquisas. Vejamos: - “Alguém sabe, por acaso, como se deve fazer para que se ache petróleo?”, indaga Tiago, um dos estudantes no pátio de uma universidade. - “Ora bolas, qualquer criança sabe que petróleo não cai do céu”, responde Gabriel, outro universitário. “Para achá-lo, basta que se perfure o solo”... - “Deve estar havendo algum engano, relacionado, quem sabe, ao fato de não se ter formulado a pergunta de forma adequada...Claro que todos nós sabemos que petróleo não cai do céu, é óbvio que para achá-lo, precisamos perfurar o solo. Mas, na realidade, reformulando a pergunta... eu quero saber o seguinte: qual ou quais são os procedimentos vitais para que, perfurando o solo, se obtenha uma maior probabilidade de achar petróleo?” (1)
Note-se que a partir do diálogo acima, há vários pontos que podem contribuir na tarefa de como iniciar um projeto de pesquisa.
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Em primeiro lugar, no referido diálogo há a escolha de um assunto num universo de possibilidades, ou seja, o candidato a pesquisador situa seu interesse, no caso, na questão do petróleo. Contudo, a partir de tal escolha, começamos a aprofundar na busca de se fazer um estudo sistematizado. Na procura em questão, uma das situações a destacar, por exemplo, foi o fato de que o candidato a pesquisador não soube colocar o problema de forma clara, ou seja, contrariando a busca de clareza e precisão, ele o apresentou de forma a suscitar simultaneamente diversas ambigüidades, para não dizer obviedades. Assim, então, chega-se ao segundo ponto importante de elaboração do projeto de pesquisa: para se iniciar uma pesquisa, além da escolha do assunto, é preciso que se elabore uma pergunta ou um problema de forma clara e sucinta, a qual leva ainda à delimitação do assunto. O que isto significa? Significa que esse segundo passo, antes de tudo, requer que se possa elaborar uma indagação que seja entendida por todos e aponte para um caráter delimitado e mensurável, de forma que tenha principalmente seus termos definidos com precisão. Enfim, caso não consigamos partir de uma pergunta deste gênero, há grandes chances de não só nos perdermos, como também de cairmos na vala do desânimo acadêmico. Isto sem contar que há grandes probabilidades de entrarmos ainda para o “time” dos que alimentam a sensação de que “estão perdidos” e, pelo menos do ponto de vista do estudo sistematizado, não chegam a canto algum. Por quê? Ora, como diz Bachelard, “é precisamente a busca do sentido do problema que dá a marca do verdadeiro espírito científico” (2). Ou seja, Os passos que o pesquisador terá que percorrer a seguir, até o término da pesquisa, dependerão deste passo inicial: a formulação do pro
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blema. Este será interessante ou não, contribuirá para o progresso da ciência ou não, terá valor ou não se o problema formulado tiver sido interessante ou banal. Embora o pesquisador não chegue a uma solução – freqüentemente não são encontradas soluções imediatas para os problemas –, cabe-lhe o mérito de ter aberto o caminho. Outros virão secundá-los em sua marcha através do emaranhado terreno do conhecimento científico. (...) Desde Einstein, acredita-se que é mais importante para o desenvolvimento da ciência saber formular problemas do que encontrar soluções (CERVO, 1983, p 77).
Mas continuemos nosso diálogo fictício com os candidatos a pesquisadores: - “Pô, cara, agora você foi mais claro”, diz Gabriel. “Bom, mas para evitarmos discutir em cima de uma série de “achismos”, ou de “opiniões pouco fundamentadas”, que tal se passássemos a agir como profissionais, quer dizer, que tal se para responder a essa pergunta, fôssemos à biblioteca e levantássemos tudo que é possível sobre a questão do petróleo? - “Bom, esta é uma possibilidade...”, rebate Tiago. “Mas, que tal se, além disto, para sermos ainda mais práticos, fôssemos trabalhar essa questão com um dos professores da universidade, desses que são particularmente especialistas na área? Afinal, agindo desta forma, sobretudo em termos profissionais, não estaríamos economizando tempo, energia, talento e dinheiro?”...
Qual dos dois estudantes estão certos? Evidentemente, os dois estão corretos, quer dizer, para iniciarmos um projeto de pesquisa de maneira viável, além de escolhermos um assunto e formularmos uma pergunta adequada que nos dá uma direção são necessários, em síntese, os seguintes fatores: a) fazermos uma averiguação bibliográfica sobre o que já foi publicado. Tarefa que além de ser imprescindível, deve ser realizada, no mínimo, junto de uma ou duas excelentes bibliotecas especializadas no assunto escolhido; b) procurarmos um ou dois especialistas da área, não só para discutirmos a pergunta ou a questão de estudo, mas também
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para que, no diálogo, se possa aprimorar a referida questão. Isto sem contar que nesse encontro, podem-se ouvir diversas outras sugestões, inclusive no plano bibliográfico. Assim, vejamos o que aconteceu com nossos personagens universitários, os quais, ousando exercer o seu estilo singular, escolheram, então, seguir seu própria caminho: um foi fazer o levantamento do assunto em um biblioteca de pós-graduação na USP; o outro foi conversar com um docente pesquisador na referida área de petróleo da mesma universidade. Dias após, ambos se encontraram e novamente foi possível registrar o seguinte diálogo: - “Meu amigo”, diz Gabriel, “levantei o assunto do petróleo na biblioteca especializada, cruzando-o, pelo computador, com duas subinformações: “perfuração” e “solo”. Desta maneira, então, a partir desse levantamento e do referido cruzamento, obtive uma série de artigos e obras publicadas no Brasil e no Exterior, dos últimos dois anos. O resultado desse nosso levantamento, em síntese, soma uma lista de 20 páginas com quase cem publicações.... - “Eu também obtive”, diz Tiago, “não só informações valiosas sobre o assunto inicial de estudo, – que se resumia na questão ‘Como perfurar o solo para obter petróleo?’ –, como também obtive ainda uma série de sugestões em termos de uma leitura específica em periódicos e livros sobre a perfuração do solo na busca do petróleo. Dentre os fatos importantes que levantei, destaco: a) é impossível desenvolver tal empreitada sozinho; b) a perfuração do solo requer que se faça um planejamento prévio e multidisciplinar, ou seja, há uma equipe que estuda o solo, outra que faz planejamento em termos da melhor forma de perfurá-lo; c) há os planejadores e há os executores mais diretos do projeto, enfim, não é um tarefa que se deva fazer a esmo, nem ao sabor do acaso. Para se perfurar o solo em busca do petróleo, é necessário que se faça previamente todo um planejamento teórico e técnico. Em suma, estou com uma série de indicações para leitura, inclusive, muitas delas, me parecem bastante agradáveis, porém, ainda assim, tenho algumas dúvidas: como sistematizar as leituras indi
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cadas? Devo começar, por exemplo, pelas leituras mais agradáveis? Qual deve ser o critério prioritário de minhas leituras?... Afinal, o que devo fazer?...”
Como se pode notar, além de elaborar uma pergunta adequada, fazer um levantamento de obras, discutir com especialistas, para desenvolver um estudo sistematizado, é necessária outra lista, complementar, de pontos relevantes. Dentre eles, destacamos: 1- elaboração de consulta das fontes de pesquisa em bibliotecas (Ver “Como fazer um estudo bibliográfico”, Capítulo 2, adiante); 2- elaboração da discussão de COMO fazer um programa seletivo de leituras dessas fontes (Capítulo 2) ; 3- elaboração de cronograma das etapas de pesquisa (Capítulo 5). Enfim, depois de percorrer essa série de pontos apresentados, estamos chegando ao instante denominado de primeira síntese escrita. Apresentando de outro modo, chegamos finalmente à etapa do primeiro planejamento da investigação, ou ao momento da fase preliminar da concretização do projeto, que é a fase de elaboração do anteprojeto de pesquisa. Este requer, como se pode observar, um momento prévio, que o apresentamos através da ilustração acima. Assim, antes de passarmos para as sugestões de como elaborar o anteprojeto em questão, vamos resumir ainda os passos importantes já percorridos. Tais passos, a partir da ilustração anterior, poderiam ser ressaltados como seguem: - A escolha de um tema: trata-se de escolher um assunto, delimitando-o necessariamente. Aqui, uma das regras básicas diz: “Querer ter o domínio absoluto de um assunto, estudá-lo e dominá-lo sem delimitação é uma falsa questão.” -A formulação de uma pergunta: além de se dar especial ênfase na clareza, que implica operar com termos bem definidos, tal pergunta é de grande utilidade no processo de delimitação do assunto escolhido. Isto sem contar que ela precisa ser pensada a partir do seguinte raciocínio: a indagação necessita ser desenvolvida dentro do caráter de mensuração, precisa ser formulada de maneira realista, no sentido de considerar inclusive sua viabilidade no que toca aos
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recursos disponíveis, sejam eles financeiros, pessoais ou mesmo quanto ao tempo hábil para realização de um cronograma de execução, entre outras condições (Ver capítulo 2, adiante, notadamente a seção: “Como formular um problema científico”) - A necessidade de se fazer um levantamento bibliográfico do assunto (mesmo antes da própria elaboração do anteprojeto de pesquisa): destaque-se que tal procedimento está aqui sendo ressaltado como algo imprescindível, de maneira que, caso não aconteça, pode comprometer todo o processo de pesquisa. Claro que independente da escolha por estudar um fenômeno através de uma “pesquisa de campo” ou de uma “pesquisa de levantamento”, por exemplo, precisamos ter o maior número de informações e de leituras possíveis sobre o assunto, inclusive, não só para delimitá-lo como também para desenvolvê-lo longe de um ponto de vista do senso comum. Além disto, o levantamento bibliográfico prévio é importante também para tomarmos contato com o maior número possível de pesquisas e leituras sobre o assunto, a fim de que possamos averiguar não só o que “já se conhece sobre o objeto da pesquisa”, mas principalmente para que possamos, a partir disto, aprofundar a sua compreensão e problematização. (Ver cap 2, especialmente a parte intitulada: “Como fazer um estudo bibliográfico.”) - O diálogo com especialista (s) da área: afora o que já foi dito, sugerimos que esse diálogo ocorra basicamente visando às seguintes metas: 1) para levantar e aprofundar a questão do levantamento de fontes de consultas; 2) para discutir e aprimorar o tema escolhido com um especialista da área em discussão; 3) confrontando, sempre que possível, suas sugestões e críticas com a de outros especialistas. Ressalte-se que essa confrontação, quando ocorrer, será de muita valia, menos com o objetivo de “jogar” descabidamente a posição de um especialista contra o outro e mais com o intuito de suscitar a polêmica da diversidade, uma vez que é, sobretudo, a partir dessa diversidade, própria das ciências humanas e sociais, que se pode
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aprender que é possível ler um mesmo fato de diferentes perspectivas (Ver Cap 2, “A questão das entrevistas com Especialistas”).
Feito estas considerações, passemos então para o instante em que começaremos a montar o ANTEPROJETO. Este, como se sabe, é uma espécie de primeira proposta sistematizada que antecede o Projeto de Pesquisa, a qual pode apresentar-se, por exemplo, com extensão entre 10 ou 20 linhas. Entretanto, mais importante do que o número mínimo ou máximo de linhas, deve ser relevante que ele aponte com clareza os objetivos, o problema central de estudo, a metodologia, para citar alguns elementos imprescindíveis, pois aqui o que está em questão é que se observa uma série de pontos que denotem uma linguagem acadêmica, sistematizada. Dentre os diversos pontos que o anteprojeto precisa ter, ainda no espírito de sistematização preliminar, destacamos: 1- INTRODUÇÃO (na qual, entre outras indicações, deve trazer uma visão geral sobre o que se quer pesquisar, a exposição dos motivos principais da pesquisa, uma discussão sobre a revisão da literatura do assunto escolhido e também uma justificativa); 2- OBJETIVOS; 3- QUESTÃO DE ESTUDO; 4- METODOLOGIA; 5- REVISÃO DA LITERATURA; 6- CRONOGRAMA; 7- NOTAS, MAPAS OU GRÁFICOS (se houver); 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. O Projeto de Pesquisa, por sua vez, é fruto do anteprojeto. Destaque-se ainda, como já vimos, que após sua escrita e implementação, esse anteprojeto torna-se o próprio Projeto de Pesquisa. 1.2. Ruptura com o senso comum: sugestão para implementá-la Fazer a ruptura com o senso comum, aqui, significa basicamente problematizar uma série de procedimentos que visam à elaboração preliminar da investigação científica. O conjunto desses procedimentos leva à elaboração do anteprojeto de pesquisa. Em outras palavras, a elaboração do referido anteprojeto, início do processo do estudo sistematizado, gesta-se aqui a partir da fase
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que denominamos de ruptura com o senso comum (3). Aliás, alguns autores, tais como QUIVY (1992), defendem a posição de que em termos de um quadro geral do desenvolvimento da pesquisa, estão em discussão TRÊS FASES BÁSICAS e SETE ETAPAS PRINCIPAIS. Tal fato implica, principalmente, que não só há uma inter-relação entre essas etapas e fases, como também existe um movimento seqüencial entre elas, que se inicia desde a primeira etapa (que se situa dentro da primeira fase), até à sétima e última etapa (que se situa na terceira fase). Para se ter uma idéia mais clara do que implicam essas fases e etapas básicas, sugerimos que se observe a Figura 1 adiante. Nela, como se vê, o momento preliminar em discussão situa-se na primeira parte desse esquema e recebe a denominação de Ruptura. Com relação à questão de implementação da ruptura, voltemos aos pontos básicos que foram já referidos visando o desenvolvimento do anteprojeto. A partir disso, então, chegamos à sugestão de diálogo singular para implementá-la, que é a seguinte: partindo do pressuposto de que estamos realmente interessados em elaborar o anteprojeto, então sugerimos que se pare, agora, nesse minuto, a leitura do presente livro e se tente dialogar, de maneira singular, com ele. De que forma? Ora, comece indagando ao livro como se pode proceder para escrever e desenvolver um texto que tenha pontos iguais aos que foram sugeridos acima para a escrita do anteprojeto. Em outras palavras, interrompa imediatamente a leitura, pegue uma folha de papel e um lápis, e pergunte ao livro como se escreve uma “introdução” (da forma sugerida, com visão geral do assunto, com justificativa, entre outros elementos do gênero), como se escreve um texto contendo a “questão de estudo”, os “objetivos”, a “metodologia”, para citar alguns pontos. Para começar, portanto, sugere-se, em primeiro lugar, que se dê uma olhada no sumário. Dentre os diversos itens apresentados, propomos que se escolha apenas um: delimitemos a nossa escolha, por exemplo, ao desenvolvimento da “questão de estudo” ou da “formulação do problema”. Neste caso, como foi sugerido, vou até o índice
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e de lá passo para a leitura das páginas específicas que tratam do assunto em questão. Depois venho e me imponho a tarefa de PASSAR PARA O PAPEL algumas das IDÉIAS RECOLHIDAS sobre o assunto em pauta. Para que serve tal exercício? Ora, excluídas as possíveis dificuldades que possam aparecer, esse exercício desde que feito com persistência, no fim da tarefa nos dará um material sui generis: o leitor terá obtido um texto importante, pensado e escrito pelo próprio punho, sobre a “questão de estudo ”. Sim, talvez o texto esteja bastante incompleto e não suficientemente à altura de uma questão de estudo ideal. Contudo, é a partir desse material que não só estamos começando a fazer um corte no conhecimento – que é um dos requisitos imprescindíveis para o começo do estudo sistematizado –, como também estamos ousando pôr algumas de nossas idéias no mundo, ou trazendo a nossa criatividade à tona. Isto sem contar que o resultado desse diálogo singular com o livro, nos dará um material razoável para um próximo momento: o encontro e o diálogo com um eventual especialista. Recapitulando: em primeiro lugar, estamos sugerindo que o leitor faça um exercício de diálogo com o livro sobre algumas questões básicas; que ele delimite sua escolha a uma das questões mais importantes para a fase preliminar da pesquisa: a formulação do problema. Depois de tal escolha e diálogo com o livro, rascunhe algumas idéias e compartilhe esse diálogo com outras pessoas mais experientes na área. Enfim, como se pode notar, propõe-se que se passe do diálogo com o livro ao diálogo com os especialistas. Eis uma das formas pelas quais, através de reflexão e diálogo crítico, pode-se começar um estudo sistematizado, que se dá pela elaboração de um anteprojeto de pesquisa e pela promoção da ruptura com o senso comum.
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Figura 1. Quadro das três fases e sete etapas de elaboração do projeto de pesquisa
(QUIVY, Op. cit, p 24) / (4)
1.3. A ruptura, ciências humanas e pensamento complexo Quando dissermos: ‘É complexo, é muito complexo!’ (...). Com as palavras ‘complexo’ não estamos dando uma explicação, mas sim assinalando uma dificuldade para explicar. Designamos algo que não podendo realmente explicar, vamos chamar de ‘complexo’. Por isso é que, se existe um pensamento complexo, este não será um pensamento capaz de abrir todas as portas (como essas chaves que abrem caixas – fortes ou automóveis), mas um pensamento onde estarão sempre presentes as dificuldades. No fundo, gostaríamos de evitar a complexidade, gostaríamos de ter idéias simples, leis simples, fórmulas simples, para compreender e explicar o que ocorre ao nosso redor e em nós. Mas, como essas fórmulas simples são cada vez mais
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insuficientes, estamos confrontados com o desafio da complexidade” (...). Tal desafio, “já nos expõe um problema: existe uma complexidade ou complexidades? (MORIN, 1996 c, p. 274).
Há várias maneiras de se começar o debate da questão da pesquisa em ciências humanas. Dentre elas, por exemplo, destaca-se a crítica que se faz sobretudo em relação ao seu objeto incerto. Tal crítica é feita, como se vê, na maioria das vezes para desmerecer as ciências humanas, acusando-as de conhecimento questionável e outros pontos do gênero. Assim, pelo menos de um ponto de vista científico clássico, devido ao alto grau de subjetividade e de uma série de outros fatores que dão margem ao seu caráter pouco propenso à determinação, as ciências humanas são postas de lado, principalmente diante da perspectiva de compará-la junto às ciências físicas, que indubitavelmente, tendem a nos fornecer maior grau de objetividade e certeza. Na realidade, caso estivéssemos ainda sob a égide da física de Newton, a qual – além de tender para a busca de certezas inquestionáveis em detrimento dos ruídos da instabilidade, do caos, da subjetividade –, era praticamente a base do paradigma hegemônico da física clássica, tal ponto de vista seria irretocável e estaria coberto de razão. Contudo, tendo em vista os avanços da física atual, notadamente da física quântica, tendo em consideração os trabalhos de PRIGOGINE (1984, 1990, 1992, 1996, 1996b), bem como as investigações sobre o pensamento complexo de MORIN (1996, 1996 b, 1996c), entre outros, tal argumento não tem mais sustentação. O que é o pensamento complexo? Em primeiro lugar, para começar, como o próprio trecho introdutório acima ilustrou, tal reflexão nasceu frente à necessidade de dar conta de fenômenos aleatórios, tais como a incerteza, a instabilidade, o caos, fenômenos de que o conhecimento científico clássico, através do paradigma da disjunção e da simplificação, notadamente baseado na física de Newton, não dava conta. Em segundo lugar, “há complexidades onde quer que se produza um emaranhamento de ações, de interações, de retroações. E esse emaranhamento é
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tal que nem um computador poderia captar todos os processos em curso” (MORIN, op. cit., p. 274). Em terceiro lugar, a questão da complexidade se compreende e se problematiza através de um pólo empírico e de um pólo lógico, ou seja, a complexidade aparece quando há simultaneamente dificuldades empíricas e dificuldades lógicas na leitura dos fenômenos. Dificuldades empíricas: o exemplo mais belo provém da meteorologia e é conhecido pelo nome de ‘efeito borboleta’. Uma borboleta que bate suas asas na Austrália pode, por uma série de causas e efeitos postos em movimentos, provocar um furacão em Buenos Aires, por exemplo. Essa complexidade tem a ver com o que Pascal havia visto muito bem (...): ‘Todas as coisas são ajudadas e ajudantes, todas as coisas são mediatas e imediatas, e todas estão ligadas entre si por um laço que conecta umas às outras, inclusive as mais distanciadas (...). Considero impossível conhecer o todo se não conheço as partes’. Esta é a primeira complexidade; nada está realmente isolado no Universo e tudo está em relação (...). O problema lógico aparece quando a lógica dedutiva se mostra insuficiente para dar uma prova num sistema de pensamento e surgem contradições que se tornam insuperáveis. É o que ocorre no campo da microfísica (MORIN, 1996 c, p. 274-275).
Com relação ao primeiro aspecto da complexidade, isto é, a problematização da questão da instabilidade, do caos, entre outros pontos do gênero, junto da análise do fenômeno de investigação, além do que já foi dito aqui, passaremos o leitor para alguns textos introdutórios sobre o assunto: MORIN (1995) e PRIGOGINE & STENGERS (1984). No que toca à discussão da complexidade pelo emaranhado de ações e retroações nas interações que envolvem o saber científico, pode-se dizer que há também aqui questões de suma importância. Trata-se de perceber que, sobretudo nos dias atuais, vive-se uma época em que os conhecimentos científicos, técnicos e sociológicos apresentam-se em um processo de interação, cujos graus são intensamente próximos e múltiplos. Em outras palavras, se a
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técnica gerada pela pesquisa científica muda a sociedade, retroativamente falando, a organização social tecnologizada também tem seu poder para influir e transformar o saber científico, ou seja, “a ciência tornou-se (uma) poderosa e maciça instituição no centro da sociedade, subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes econômicos e estatais. Assim, estamos num processo inter-retroativo” (MORIN, 1996, p. 19). Como exemplo, sugerimos que se observe a referida situação a partir da Figura 2, adiante. Nela, como se vê, tanto a ciência produz uma técnica que influi, direta ou indiretamente, nos micro e macrogrupos da organização social, inclusive no próprio Estado, quanto o circuito inverso revela-se como verdadeiro. STENGERS (1990), por outro lado, promovendo uma reflexão sobre ciência e poderes, traz um ponto de vista que se aproxima das reflexões de MORIN sobre o pensamento complexo. Chamando a atenção para a posição de que é preciso desfazer a idéia de que a ciência tem uma identidade própria, que ela é um capítulo à parte dos outros saberes e da história, tentando “desfazer” tais posições, mostrando, entre outros fatos, que não há só a história oficial da ciência, mas também outras histórias, assinala: As ciências, até aqui – e isso é mais um efeito de poder, do poder da instituição científica como tal – dão a impressão de se desenvolverem de maneira autônoma em relação ao “contexto” social, econômico, político.(...) As ciências não se desenvolvem em um contexto, mas criam seu próprio contexto.(...) Uma das questões das histórias das ciências é a maneira pela qual elas conseguirão ou não interessar, e a natureza da rede de interesse que conseguirão inventar (STENGERS, op. cit., p. 145-146).
Do ponto de vista do pensamento complexo junto ao conhecimento científico, ainda com relação ao esquema da Figura 2, fica patente um fato: se há alguns anos atrás, talvez ainda fosse possível
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defender a posição do “mau” uso do conhecimento científico pelos políticos, por uma organização social totalitária e mesmo pela crítica à sociedade de consumo, na atualidade, mormente considerando o atual quadro de enraizamento e hegemonia da ciência no seio da sociedade, é impossível desvincular a participação do pesquisador em relação ao quadro desse jogo de interretroações nas suas implicações políticas, científicas, técnicas. Em outras palavras, a acusação de atribuir o “lado mau” da ciência ao Estado, à sociedade ou aos políticos, isentando o cientista de qualquer participação, “vem a ser, para o investigador, a maneira de iludir a tomada de consciência das inter-retroações de ciência, sociedade, técnica e política” (MORIN, op. cit., p. 19). Quanto ao terceiro e último aspecto do ponto em discussão, ou seja, quanto ao aspecto do pólo empírico e do pólo lógico, pode-se dizer que em vez de simplificar e separar questões cruciais da ciência – tais como a questão do sujeito e do objeto do conhecimento, dos mundos ditos internos e externos, do biofísico e do antropossocial, entre outros exemplos –, Morin sublinha que há um enorme grau de complexidade vinculando tais fatores, que precisam ser revistos e repensados (5). Colocando de outro modo, “de todo a parte surge a necessidade de um princípio de explicação mais rico do que o princípio de simplificação (separação/redução), que podemos denominar de o princípio da complexidade. É certo que ele se baseia na necessidade de distinguir e de analisar, como o precedente (da ciência clássica), mas, além disso, procura estabelecer a comunicação entre aquilo que é distinguido: o objeto e o ambiente, a coisa observada e o seu observador. Esforça-se não por sacrificar o todo pela parte, a parte pelo todo, mas por conceber a difícil problemática da organização, em que, como dizia Pascal, “é impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, como é impossível conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes“ (MORIN, 1996, p. 30).
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Figura 2
(In: MORIN, 1996, p 20)
Enfim, feitas tais considerações sobre o pensamento complexo, quais são os parâmetros que se podem destacar para que se promovam rupturas com o senso comum através do pensamento complexo na produção do conhecimento, principalmente nas áreas de ciências humanas? Afora os argumentos já apresentados, neste particular, em síntese destacam-se as seguintes questões: 1) Para o pensamento complexo, todas as ciências são sociais. Além do que já foi dito, sobretudo em torno da Figura 2, o pensamento complexo tem um ponto de vista muito particular a tal respeito. Ora, considerando que a ciência está no meio da sociedade, considerando que embora tenha sua distinção em relação à mesma, é impossível separar um fator do outro, então, como se vê, qualquer que seja o tipo de ciência, inclusive as físicas e biológicas, todas são sociais. 2) O pensamento complexo não constitui receita/resposta pronta para todas as questões. O que está em questão aqui é o equívoco de entendê-lo como uma mera receita e não como um desafio e uma motivação para pensar os fenômenos de maneira diversa. Colocando de outro modo, tendo em vista que a referida complexidade nasceu para dar conta de fenômenos dos quais o paradigma da simplificação e da disjunção não dava conta, tomá-la como receita ou qualquer procedimento que a priori conduza para respostas prontas pode até, se for o caso, receber o nome de complexidade, mas, tal complexidade não é aquela que vai ao encontro do ponto de vista que estamos discutindo pela perspectiva de MORIN.
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Assim, ilustrando tal complexidade, vejamos o seguinte trecho: A complexidade não é, então, nem uma ‘nova visão do mundo’ nem ‘novo tipo de teoria’, mesmo que ela implique em novas visões dos saberes e se refira a teorias. A questão da complexidade é prática: ela se coloca quando um encontro ‘empírico’[ inclusive o empirismo da simulação em computador ou da descoberta da diferença entre sistemas estáveis e instáveis, ou entre sistemas próximos ou longe do equilíbrio] impõem um novo questionamento do poder atribuído a um conceito e atualiza uma dimensão da interrogação prática que tal conceito ocultava. (...) A questão da complexidade, tal como a penso, constitui a modalidade propriamente científica de problematização do novo. Tal novo, aqui, tem o sentido de que, a atenção para a criação de pertinência de novas questões e para a atualização de imposições que nos definem em relação àquilo que interrogamos, àquilo que fazemos intervir em nossas discussões, constitui a problematização propriamente científica da questão do novo e também uma problematização das relações entre ciências e poder (STENGERS, 1990, p. 171-172).
3) A complexidade não deve ser pensada como simples inimiga da ordem e da clareza. Um problema que dificulta a discussão do pensamento complexo é a questão de relacioná-lo pura e simplesmente ao fato de ser inimigo da ordem e da clareza. Ora, além dela se opor a tal equívoco, talvez nem seja necessário dizer que “a complexidade é, antes de tudo, o esforço para conceber um incontornável desafio que o real lança a nossa mente” (MORIN, 1996, p. 176). 4) Outro problema, como se observa, é ver a complexidade como sinônimo da completude. Vale dizer que embora a complexidade aponte para questões muito mais ligadas à incompletude do conhecimento do que à completude, na realidade esta não é a questão principal do pensamento complexo. O relevante para esse pensamento é a luta não propriamente contra a incompletude mas contra a mutilação do fenômeno em função de suas análises: “Num sentido, o pensamento complexo tenta dar
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conta daquilo que os tipos de pensamento mutilante se desfaz, excluindo o que eu chamo de simplificadores e por isso ele luta, não contra a incompletude, mas contra a mutilação” (MORIN, 1996, p. 176). Tal fato compreende basicamente que, se tentamos pensar no fato de que somos seres ao mesmo tempo físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que a complexidade é aquilo que tenta conceber a articulação, a identidade e a diferença de todos esses aspectos, enquanto o pensamento simplificante separa esses diferentes aspectos, ou unifica-os por uma redução mutilante. Portanto, nesse sentido, é evidente que a ambição da complexidade é prestar contas das articulações despedaçadas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento. De fato, (...) à complexidade tende para o conhecimento multidimensional (MORIN, op. cit., p. 176-177).
5) A idéia de complexidade convida a se passar da crítica da mutilação à problematização da multidimensionalidade e da incerteza na produção do saber científico. Desenvolver uma perspectiva contrária a essa mutilação, desenvolver uma perspectiva por tal problematização é desenvolver um pensamento complexo, o qual, longe de querer dar conta de tudo, quer compreender, sempre que possível, o humano nas suas diferentes dimensões ou multidimensionalidades. Ou seja, o pensamento complexo destaca que tudo aquilo que é humano, ou melhor, antropossocial, tem indiscutivelmente seu componente biofísico. Em outras palavras, É preciso encontrar o caminho de um pensamento multidimensional que, é lógico, integre e desenvolva formalização e quantificação, mas não se restrinja a isso. A realidade antropossocial é multidimensional; ela contém, sempre, uma dimensão individual, uma dimensão social e uma dimensão biológica. O econômico, o psicológico e o demográfico que correspondem às categorias disciplinares especializadas são as diferentes faces de uma mesma realidade; são aspectos que, evidentemente, é preciso distinguir e tratar como tais, mas não se deve isolá-los e torná-los não comunicantes. Esse é o apelo para
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o pensamento multidimensional. Finalmente e, sobretudo, é preciso encontrar o caminho de um pensamento dialógico (MORIN, op. cit., p. 180) / (6)
Assim, por aspirar a multidimensionalidade, por tentar discutir o homem de seus diferentes aspectos – físico, psíquico, cultural, social, entre outros –, é que o pensamento complexo comporta em seu âmago fatos que consideram e apontam principalmente para as questões da incerteza e incompletude. Na realidade, tal pensamento pode ser visto como o que se propõe a fazer fundamentalmente um diálogo entre ordem, desordem e organização, tentando conceber, nas suas especificidades e diversas particularidades, os fenômenos físicos, biológicos e humanos. O referido pensamento não necessariamente intenta a união de contrários, mas o estabelecimento de possíveis pontes de comunicação, junto às dimensões biofísicas, socio-culturais, históricas, as quais, longe de adotar saídas simplificadores e disjuntivas – tais como, por exemplo, as da certeza da física de Newton –, ele também pretende discutir juntamente com a clareza da suposta objetividade dos fatos, os ditos ruídos subjetivos, as ditas incertezas, para citar alguns exemplos, não como fatores de demérito, mas como um conhecimento de valor positivo e complementar no seio do pensamento científico. Para a perspectiva em questão, enfim, optar por tal procedimento é abrir-se para um universo de outras possibilidades na problematização do fenômeno científico. O princípio de explicação da ciência clássica tendia a reduzir o conhecido ao manipulável. Hoje, há que insistir fortemente na utilidade de um conhecimento que possa servir à reflexão, meditação, discussão, incorporação por todos, cada um no seu saber, na sua experiência, na sua vida... Os princípios ocultos da redução-disjunção que esclareceram a investigação na ciência clássica são os mesmos que nos tornaram cegos para a natureza ao mesmo tempo social e política da ciência, para a natureza ao mesmo tempo física, biológica, cultural, social, histórica
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de tudo o que é humano. Foram eles que estabeleceram e são eles que mantêm a grande disjunção natureza-cultura, objeto-sujeito. São eles que, em toda parte, não vêem mais do que aparências ingênuas na realidade complexa dos nossos seres, das nossas vidas, do nosso universo (MORIN, 1996, p. 30-31).
Ressalte-se também que pensar a questão da complexidade não é reduzir as ciências humanas à biologia ou mesmo a qualquer procedimento que faz exclusivamente uma simplificação daquela ao método da física clássica. Propor-se a analisar alguns fenômenos dessas áreas, discutir as possíveis pontes que há entre elas, problematizar tais fenômenos por uma relação complexa, não é de forma alguma reduzir a área “A” na área “B”, nem viceversa. Aliás, tomar o citado caminho da redução é não só tender ao processo de reprodução da redução-disjunção, como também é trilhar um caminho oposto ao do pensamento dialógico ou da complexidade. 6) Não comporta a prática do reducionismo o pensamento complexo. Assim como não é recomendável simplesmente reduzi-lo a uma definição prévia, o mesmo se dá com alguns conceitos com que tal pensamento lida, tais como o acaso, a desordem, o caos, entre outros. No tocante ao acaso, por exemplo, “o matemático Chaitin o definiu como uma incompressibilidade algoritma, ou seja, como irredutibilidade e indedutibilidade, a partir de um algoritmo, de uma seqüência de números ou de acontecimentos. Contudo, o mesmo Chaitin dizia que não há jeito de provar uma tal incompressibilidade”. Em outras palavras, deve-se tomar o cuidado com definições prévias que possam conter irredutibilidades, pois que, como vimos, a título de ilustração, “não podemos provar se aquilo que nos parece ser acaso não é devido à ignorância” (MORIN, 1996, p 178). 7) O pensamento complexo rompe com a ciência que tenta eliminar a singularidade. Trata-se de pensar os fenômenos nessa transgressão, ou seja, transgredir ou superar a posição corrente, sobretudo a que se relaciona com as ciências naturais,
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que faz uma abstração universal e eliminam a singularidade, a localidade e a temporalidade. A biologia atual não concebe a espécie como um quadro geral do qual o indivíduo é um caso singular. Ela concebe a espécie viva como uma singularidade que produz singularidades. A própria vida é uma organização singular entre os tipos de organização físico-química existentes. E, além disso, as descobertas de Hubble sobre a dispersão das galáxias e a descoberta do raio isótropo que vem de todos os horizontes do universo trouxeram a ressurreição de um cosmo singular que teria uma história singular na qual surgiria nossa própria história singular. Do mesmo modo, a localidade se torna uma noção física determinante: a idéia de localidade está necessariamente introduzida na física einsteiniana pelo fato de que as medidas só podem ser feitas num certo lugar e são relativas à própria situação em que são feitas. (...) Portanto, não podemos trocar o singular e o local pelo universal: ao contrário, devemos uni-los (MORIN, op. cit., p. 178- 179).
8) O pensamento complexo considera a misteriosa relação entre a desordem, ordem e organização. Além de tratar dessa relação misteriosa, contraditória e praticamente complementar entre tais fatores, o pensamento complexo está próximo de Prigogine (1996b). 9) Para o pensamento complexo a organização “é aquilo que constitui um sistema a partir de elementos diferentes; portanto, ela constitui, ao mesmo tempo, uma unidade e uma multiplicidade”, ou seja, (...) O interessante é que, ao mesmo tempo, um sistema é mais ou menos do que aquilo que poderíamos chamar de soma de suas partes. Alguma coisa de menos, em que sentido? Bom, é que essa organização provoca coações que inibem as potencialidades existentes em cada parte, isso acontecendo em todas as organizações, inclusive na social, na qual as coações jurídicas, políticas, militares e outras fazem com que muitas de nossas potencialidades sejam inibidas ou reprimidas. Porém, ao
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mesmo tempo, o todo organizado é alguma coisa a mais do que a soma das partes porque faz surgir qualidades que não existiriam nessa organização; essas qualidades são “emergentes”, ou seja, podem ser constatadas empiricamente, sem ser dedutíveis logicamente; essas qualidades emergentes retroagem no nível das partes e podem (ser) estimuladas a exprimir suas potencialidades. Assim podemos ver bem como a existência de uma cultura, de uma linguagem, de uma educação, propriedades que só podem existir no nível do todo social, recaem sobre as partes para permitir o desenvolvimento da mente e da inteligência dos indivíduos (MORIN, op. cit., p. 180).
Em suma, tendo em conta que pensar as ciências humanas, sobretudo do prisma do pensamento complexo, não é eliminar simplesmente muitos dos fatores clássicos do fazer ciência; considerando que, ao contrário, é tentar problematizar tanto os fatores clássicos da dita certeza quanto os da dita instabilidade numa relação de complexidade; então, agora sugerimos que passemos para a discussão dos próximos capítulos, nos quais nos fornecerão uma série de pontos básicos que servirão como base segura para desenvolvermos os fundamentos da pesquisa.
CAPITULO II
Da Problemática à Elaboração do Projeto de Pesquisa
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2.1. Da ruptura com o senso comum ao corte que delimita e desenvolve a investigação “- Mas”, – indaga Gabriel, um dos estudantes do nosso diálogo ilustrativo –, ”considerando que o estudo do petróleo é uma questão concreta e que, por sua vez, está de acordo com as ciências físicas, o que aconteceria se, por outro lado, escolhêssemos um problema que estivesse relacionado diretamente com o âmbito abstrato das ciências humanas? O que aconteceria se mudássemos de assunto, escolhendo-o entre um dos temas ditos dúbios, tal como, por exemplo, a questão da “poética e da psicanálise”? Como desenvolver uma pesquisa acadêmica a partir de um assunto que tendesse muito mais ao aspecto da subjetividade e menos ao da objetividade?” - “O professor que eu procurei para averiguar acerca da questão do petróleo”, responde Tiago, “disse-me algo interessante neste sentido. Na realidade, no decorrer do nosso “papo”, lhe fiz uma indagação: ‘professor, essas e outras sugestões que o Sr me está fornecendo só servem para pesquisas concretas, pesquisas como a questão do petróleo, no caso, que têm seu objeto situado nas ciências físicas ou naturais?’ Então, ele me respondeu: “Tiago, esse conjunto de procedimentos de elaboração prévia de pesquisa serve para todo o conjunto de ciências, ou seja, serve inclusive para o desenvolvimento das ciências humanas e sociais. Aliás, sobre esse particular, há um filósofo francês, Michel Foucault, que, pesquisando sobre as ciências humanas, afirmou: “Não há um objeto específico nas ‘humanidades’, há uma interligação entre esses objetos”... Bom, a partir disto, ”continua Tiago, “eu entendi que tais procedimentos prévios servem para todo tipo de problema, problemas esses que podem ser aplicados e desenvolvidos nas próprias ciências humanas”.
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Diante da eventual situação de escolhermos pesquisar um assunto relacionado ou bastante próximo do objeto das ciências humanas, diante da hipótese de estarmos realizando um estudo considerado muito subjetivo, ainda assim, a busca de sistematização nessas pesquisas está presente. Tal sistematização se desenvolve principalmente a partir da formulação de um problema, da escolha de um método, da apresentação de um projeto com outra série de pontos, tais como “objetivos”, “cronograma”, entre outros. Mas, seguindo a proposta do diálogo desses dois estudantes universitários, vejamos como ficaria uma pesquisa que envolvesse, por exemplo, a questão da Poética e da Psicanálise: Em primeiro lugar, independente do assunto escolhido, é necessário adotarmos os mesmos passos que nos conduziriam aos procedimentos anteriores, os quais, como já dissemos, objetivam criar uma ruptura com o senso comum. Ou seja, os passos sugeridos na primeira parte do presente trabalho, em síntese, são: formulação do problema inicial, levantamento bibliográfico, conversa com algum especialista, que no caso, precisa estar ligado na questão da poética e /ou na questão da psicanálise. Em termos de problema hipotético, o nosso seria inicialmente formulado da seguinte forma: “Até que ponto se observa um dispositivo deleuzeano entre a poética e a psicanálise, o qual, sobretudo a partir da clínica analítica, é fator significativo na criação de modos de existir diversos ao modo consensual?” (1)
Assim, munidos de um problema inicial, feitos os devidos contatos com alguns especialistas na área e também um levantamento
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bibliográfico sobre o assunto escolhido, entraríamos na fase da elaboração do projeto de pesquisa. Então o que fazer? Ora, em primeiro lugar, ainda observando a Figura 1, estamos exatamente agora no momento da CONSTRUÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE, que começa da problemática. Colocando de outro modo, em primeiro lugar é necessário que retomemos a formulação do problema, pois que, embora tenhamos trabalhado esse assunto no ponto anterior, é a partir dele que iniciaremos os desdobramentos possíveis para a elaboração do projeto de pesquisa. Como se pode notar, na questão de estudo em discussão há basicamente dois fatores principais em jogo: a POÉTICA e a PSICANÁLISE. Assim, além de pensar na definição dos termos, como já discutimos anteriormente (vide a nota nº 1), sugere-se que se faça uma outra indagação, que nos crie outro corte que aprofunde e desdobre a problemática em curso. Tal desdobramento, por sua vez, não só nos indicará caminhos de escrita e de leitura, como também tenderá a aprofundar o estudo no rascunho do projeto, gerando um esboço de sumário no mesmo. Em outras palavras, sugere-se que a partir do problema inicial, escolha-se um dos termos principais e se faça ainda uma indagação que promova um corte e nos direcione à leitura e à observação do material de estudo. Como, no nosso caso, há duas variáveis principais, ou dois termos principais, vejamos como tal corte ficaria, de um lado, com relação específica ao poético, de outro, com relação específica ao psicanalítico: Produção poética? Que produção poética? Tal pergunta cabe na presente elaboração do rascunho, sobretudo porque nos ajuda a delimitar essa questão de forma crítica, ou seja, fazer tal delimitação aqui é apontar para o fato de que, dentro do universo da poética, não são todas as produções poéticas que queremos pesquisar. Contudo, ainda partindo do pressuposto da delimitação desse campo de estudo, através da referida pergunta, sugere-se que se aprofunde tal especificação e se faça um corte no universo do assunto
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da poética, de maneira que, no rascunho, esse corte fique delineado com mais clareza. Apresentando de outro modo, considerando que agora estamos na Segunda fase da elaboração do projeto e, dessa forma, subentende-se que já foi feito um levantamento bibliográfico sobre o particular assunto (Ver capítulo anterior); considerando que, através do referido estudo bibliográfico, levantamos que o objeto poético é muito vasto e de difícil definição; considerando que por tal procedimento observou-se ainda que “não há condições de se ter uma só definição de poesia, mas várias”; considerando que essas diferentes definições podem ser debatidas por algumas de suas principais perspectivas teóricas que tratam do campo poético, assim, sugere- se que aprofundemos o citado corte, delimitando-o através de uma discussão de suas principais perspectivas. Em síntese, seguindo tal raciocínio, nosso possível esquema de rascunho de elaboração do sumário do projeto ficaria assim: título provável do trabalho: “Poética e psicanálise”; Sugestão como primeiro capítulo de desenvolvimento do trabalho: 1- Poética? Que Poética?”. Tal capítulo, então, hipoteticamente falando, poderia vir seguido dos seguintes subtítulos: “1.1- Poética pela perspectiva do Formalismo Russo”; “1.2- Poética pela perspectiva da semiótica de Peirce”; “1.3- Poética pela perspectiva do Paradigma estético de Guattari”. Vale dizer ainda que é principalmente através da formulação de tal rascunho que começaremos a elaborar, adiante, o “sumário” da pesquisa (Ver figura 12, capítulo 5, Livro Primeiro).
Ressalte-se ainda que delimitando tal problemática dessa ou de outra maneira, não só estamos criando caminhos que nos direcionarão no estudo e na escrita do projeto de pesquisa, como também estamos avançando na construção do mesmo. Assim, na medida em que possamos aprimorar a problemática em estudo, definamos ou redefinamos nossos objetivos, optemos por um método de análise e planejemos um cronograma inicial de estudo então, também estaremos delineando a ETAPA 4 (Ver Figura 1). Quanto à questão da psicanálise, o segundo fator de destaque na nossa problemática inicial, o mesmo raciocínio pode ser aplicado, ou seja, é possível criarmos um desdobramento a partir
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de uma indagação problematizadora, que não só faz um corte no assunto, como também pode nos orientar, tanto em nível de leitura como de escrita. Então, vejamos: Psicanálise? Que psicanálise? Essa indagação pode ser vista de vários ângulos. Dentre eles, o mais importante relaciona-se ao fato de que não se quer discutir todas as psicanálises, mas sim, especificamente, algumas das principais visões existentes, que são: a psicanálise da perspectiva de HERRMANN (1991; 1991 b); a psicanálise da perspectiva de ROLNIK (1995, 1995b) e a psicanálise da perspectiva institucional de GUIRADO (1987, 1995). Aqui, a escolha de tal corte é determinada não só por questões de preferência do pesquisador, mas principalmente obedecendo à pergunta inicial, às leituras levantadas, ao diálogo com o especialista (orientador e/ou consultor), fatores que foram discutidos na primeira parte do presente trabalho.
Como se nota, a questão principal inicial da pesquisa está presente, só que, dos passos preliminares para cá, ela vem sendo progressivamente aprimorada, ou seja, partindo da questão principal que começou a ser elaborada junto com os procedimentos prévios tratados no capítulo anterior é que começamos a desenvolver os primeiros rascunhos do projeto de pesquisa. Enfim, no exemplo acima, há um encadeamento entre a fase anterior e a presente fase que estamos debatendo, quer dizer, partindo da questão principal inicial é que chegamos à elaboração do Plano de Pesquisa que basicamente está ligado à problemática e à construção do modelo de análise (ver Figura de no 1/ Etapa 3 e etapa 4). Apresentando de outro modo, estamos no momento em que, saindo dos procedimentos básicos inicias, chega-se a formulação da problemática, a qual, uma vez discutida e aprimorada, nos levará à elaboração do projeto propriamente dito. Para tanto, é hora de dominarmos uma série de pontos vitais para o desenvolvimento do referido projeto e para a posterior execução do mesmo. Tais pontos, que serão trabalhados a seguir, são: “Como formular um problema científico”; “Como fazer um
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levantamento bibliográfico”(Definição da pesquisa bibliográfica, a questão das fontes, dos apontamentos, entre outros pontos); “A Entrevista com o Especialista”, etc. Ressalte-se que além do referido debate, discutiremos os principais métodos científicos que podem ser adotados em uma investigação (Capítulo 3) e a “questão da bibliografia e da referência bibliográfica” (Capítulo 4). Logo após, então, retomaremos a elaboração do projeto através do capítulo 5: “Da estruturação do projeto de pesquisa”. 2.2. Fundamentos do projeto de pesquisa: um delineamento do modelo de análise
2.2.1. Como formular um problema científico? “Sem a questão principal, não há boa tese.” (BEAUD, 1996, p. 52)
Há um velho ditado chinês que, guardando as devidas proporções, traz grandes contribuições na questão de “como elaborar um problema de pesquisa”. Ele diz: “Quando o estudante se preparar devidamente, o grande caminho começará a se desvelar”, ou seja, na hora em que o pesquisador se esforçar por elaborar adequadamente um problema, a resolução irá se delineando com maior probabilidade de acerto. O que é um problema científico? Define-se como uma indagação que aponta para questões claras, objetivas, delimitadas e com possibilidade de mensuração. Naturalmente, tal questão, precisa exprimir-se por termos que possam ser bem definidos. Afora isto, é importante ainda dizer que o problema em discussão também é sinônimo de questão de estudo, ou questão principal, em muitos trabalhos. Como delinear um problema científico? Os debatedores dessa matéria são unânimes em afirmar que tal problema, em síntese, embora não seja das tarefas mais fáceis, é também uma questão de treino e de aprendizagem, que pode ser executada a partir de
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alguns procedimentos básicos. Tais procedimentos relacionamse à compreensão de dois momentos fundamentais: de um lado, com o percorrer dos passos básicos já discutidos na Fase da Ruptura com senso comum; de outro, com a compreensão de que, para ser colocado como um problema científico, é necessário que o formulemos por quatro procedimentos principais, ou seja, ele será entendido sobretudo como científico, quando: 1º) for apresentado através de uma pergunta; 2º) for escrito pelo prisma da não-ambigüidade (busca da clareza e da precisão); 3º) for desenvolvido pelo prisma da delimitação e da mensuração; 4º) for discutido por uma dimensão viável e se apresentar livre de preconceitos e outros julgamentos de valor (GIL, 1995; BEUD,1996; ANDRADE, 1995, 1995 B). Problema apresentado através de uma pergunta:
Sugere-se a apresentação do problema por uma pergunta, principalmente devido ao fato de que, dessa maneira, ele se mostra sob uma forma mais objetiva e direta para o trato de determinada questão. Isto sem falar que formulá-lo a partir de uma pergunta, antes de tudo, facilita a compreensão do leitor do projeto, ajudando-o em termos de um entendimento mais claro e mais rápido da pesquisa proposta. Outro argumento a favor de apresentá-lo sob forma de pergunta reside principalmente no fato de que, segundo GIL (1995), ao se proceder desta maneira, o pesquisador terá maiores chances de delinear seu trabalho por uma via mais sistematizada. Em outras palavras, é a partir da pergunta da partida, aprimorada e desenvolvida, que se construirá a problemática, que não só é a “etapa 3” como é também o fim da Primeira Fase (Ver Figura 1). A partir de tal problemática, então, se entrará na Segunda Fase da pesquisa, a qual, como se verá, nos conduzirá à elaboração do projeto propriamente dito e à sua posterior execução.
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Problema escrito pelo prisma da não-ambigüidade
Mas a despeito de ser formulado como pergunta e contribuir com o processo de pesquisa, sobretudo na referida etapa da “problemática”, o problema em questão precisa ser posto de forma clara e precisa. O que tal fato implica? Implica que dificilmente podemos desenvolver um estudo sistematizado através de uma questão que se apresenta de forma ambígua e imprecisa. A título de ilustração, por exemplo, vamos imaginar que alguém queira desenvolver um estudo através da seguinte formulação: “como funciona nossa alma?” Ora, ainda que, para alguns, estejamos diante de uma questão relevante, esse problema, do ponto de vista acadêmico, está formulado de maneira contraproducente e precisa ser repensado. Dificilmente um pesquisador que seja minimamente experiente começará um estudo a partir de uma indagação do gênero. De outro lado, agora, vamos supor, ainda ilustrativamente falando, que nosso candidato a pesquisador resolva fazer um estudo sobre as manifestações do psiquismo inconsciente freudiano, manifestações essas que são transmitidas ao grupo de crianças “X”, matriculadas no maternal “Y”, de uma escola específica e num determinado espaço de tempo, através dos principais contos de fadas. Ora, como se vê, além de ser apresentado através de uma pergunta, o problema necessita de ser discutido por uma via que busque a clareza e a precisão. Nas ilustrações apresentadas, há maior probabilidade de se desenvolver uma pesquisa sistematizada pelo estudo formulado a partir das manifestações do inconsciente através dos contos de fadas, do que pelo estudo que tende à vagueza e que foi expresso aqui como o ‘estudo da alma’. Problema do prisma da delimitação e mensuração
Uma das maiores atitudes anticientíficas é a formulação da questão através do prisma de se adquirir um conhecimento absoluto sobre determinado tema. Aliás, ao contrário dessa pretensão, fazer ciência é admitir a possibilidade de se criar uma ruptura com o senso comum, principalmente na promoção de um corte dentro de determinado assunto escolhido para investigação. Falar em
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corte aqui, como se vê, é falar em delimitação do universo de estudo. Em outras palavras, uma das grandes características da atitude científica reside na delimitação: problema não delimitado, em síntese, é problema de falsa questão, pelo menos do ponto de vista de uma investigação científica. Outro ponto importante, que complementa a questão do corte, é a possibilidade de colocá-lo pelo prisma da mensuração. Um problema inadequado, do ponto de vista acadêmico, é principalmente aquele que não pode ser mensurável. Por exemplo, imaginemos uma indagação que diga o seguinte: “Qual a influência das revistas pornográficas no desenvolvimento sexual de todos os jovens no mundo ocidental?” Ora, aqui, a despeito de até se ter um problema relevante, nota-se que ele está posto de forma inadequada, sobretudo quanto ao aspecto da mensuração. Basta dizer que entre outros contrapontos, é impossível se estudar a influência das revistas pornográficas em todos os jovens do mundo, ou seja, há aqui sérios problemas, tanto em termos da delimitação como no que toca principalmente ao processo de mensuração. Problema de dimensão viável, livre de preconceitos e de julgamentos de valor
Para que o problema possa ser discutido cientificamente por uma dimensão viável, faz-se necessária a possibilidade de pensá-lo dentro das mínimas condições plausíveis para o desempenho favorável do pesquisador. Tais condições referem-se não só aos recursos econômicos ou materiais, mas também à disponibilidade de tempo hábil para a execução dentro de um cronograma realista e, ainda, a uma outra série de fatores, tais como, situação atual das fontes de consulta sobre o assunto escolhido, língua em que elas estão originalmente escritas. Mas as referidas condições devem ser vistas principalmente em relação aos recursos internos e profissionais do pesquisador para analisar criticamente os limites e possibilidades que deverá enfrentar na implementação da pesquisa.
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Ainda dentro dessa discussão, é que um problema científico necessita ser formulado livre de posições que envolvam preconceitos e julgamentos de valor. Assim, discutiremos agora alguns parâmetros que em relação a esses fatores, devem ser evitados. Tais parâmetros, em resumo, são: 1. Ainda que haja pesquisas que investiguem atitudes preconceituosas, elas não devem ser norteadas por pontos que estão necessariamente a serviço de causas preconceituosas, como por exemplo: “até que ponto todo latino-americano é pobre porque não gosta de trabalhar? “; “até que ponto os índices de ‘Qis” abaixo da média relacionam-se necessariamente com raças não-brancas?” 2. Deve-se ter o cuidado de evitar estudos que se guiem exclusivamente por questões ideológicas, direcionando inteiramente a capacidade crítica do pesquisador, estudos que até tenham boas intenções, acabam fazendo o mesmo jogo equivocado das posições dos que defendem que a “ciência é neutra”, que a “política nada tem a ver com produção científica”, etc. Ora, tanto uma posição quanto a outra acabam levando-nos à defesa de apriorismos, os quais, na realidade, além de refletirem uma cegueira ideológica, academicamente falando, prejudicam o processo de pesquisa, principalmente devido ao fator de preconceito e de julgamento de valor que levantam. Como exemplo desse tipo de estudo, pode-se citar: “Até que ponto o comunismo fracassou porque é menos inteligente do que o capitalismo?” Em suma, a título de ilustração, a fim de que evitemos maiores confusões, passemos agora às discussões de algumas perguntas que podem ser analisadas do ponto de vista da adequação ou inadequação científica: Exemplo 1: “Qual o impacto da mudança da vida dos extraterrestres na organização mundial?”
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Ora, como se pode notar, o problema acima não está formulado de forma adequada, pelo menos do ponto de vista de uma investigação científica. Entre outros defeitos de formulação, destacamos: a- O problema foi formulado de maneira muito vaga, com extrema generalidade e fazendo prever sua difícil solução, ou seja, quem de nós, no atual estágio humano, pode afirmar com sã consciência que conhece realmente o modo de vida de um ET? Quem de nós pode dar conta de estudar de fato toda a organização mundial?; b- Ele foi formulado também de forma que traz outras inconsistências, por exemplo, verifica-se uma impossibilidade de mensuração, cujo resultado é não se poder falar em métodos e instrumentos adequados. Exemplo 2: “Existirá vida depois da morte?”
Ora, aqui, como se observa, ainda que se tenha um problema de suma relevância, que justifica um importante estudo tanatológico, a pergunta foi formulada de maneira imprecisa, colocando-nos, entre outras dificuldades, diante de um sério impasse de mensuração. Portanto, ainda que possa trazer um assunto relevante, existencialmente falando, a pergunta precisa ser formulada dentro de um âmbito científico. Exemplo 3: “A sexualidade do século XXII será mais saudável do que a do século XXI?”
Note-se que, do ponto de vista da investigação científica, entre outros problemas, a pergunta aqui foi formulada de forma totalmente inadequada, pelas razões seguintes: a- como podemos discutir, acadêmica e objetivamente falando, um tipo de sexualidade que ocorrerá daqui há 100 anos? b- que instrumentos utilizaremos, que tempo hábil teremos, quais são os recursos disponíveis para que, a partir da indagação proposta, possamos mensurar toda sexualidade no século XXII?
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Exemplo 4: “Até que ponto, em relação ao HIV, haverá maior incidência de soropositivo em um agrupamento de adolescentes de uma escola “X” de orientação religiosa tradicional, que não só recomenda que o sexo seja praticado apenas no casamento formal, mas também se opõe a que seus alunos usem o preservativo sugerido nas campanhas do Ministério da Saúde?”
Como se vê, estamos diante de um problema que além de estar sob a forma de uma pergunta, levanta questões de suma relevância, que estão delimitadas e propostas através de parâmetros que podem ser investigados. Enfim, trata-se de uma questão que pode ser desenvolvida como um problema científico, ou seja, pretende-se desenvolver um estudo sobre a questão do soropositivo, devidamente delimitado no grupo de adolescentes de uma escola “X”. Tal estudo, por sua vez, pretende ser discutido principalmente junto da questão da prevenção nos adolescente que freqüentam uma escola tradicional, que é contra as recomendações práticas das campanhas de prevenção, campanha que sugere o uso de preservativos nas relações sexuais. Claro que, como em toda pergunta científica, observam-se termos que necessitam ser bem definidos. No caso em questão temos que conceituar o que chamamos de soropositivo; o que se entende por grupo adolescente; escola de orientação religiosa tradicional e campanhas de prevenção contra tal doença. Como se pode notar, a questão de prevenção, por exemplo, será discutida aqui principalmente através do uso de preservativo nas relações sexuais desse grupo de adolescente na referida escola. Exemplo 5: “ Será que os dirigentes religiosos exploram seus fiéis?”
Como se pode ver, o problema acima, ainda que esteja colocado em forma de indagação, não está sendo formulado como um problema científico. Dentre as inconsistências existentes, destacam-se:
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a- há sutilmente um julgamento de valor embutido na indagação; b- parece que tal indagação está sendo formulada de maneira que nos induza ao ponto de vista de quem a formulou, ou seja, tudo dá a entender que mesmo antes de partimos para a investigação, o autor da formulação já sabe onde se quer chegar. 2.2.2. Como fazer um estudo bibliográfico Praticamente todo conhecimento humano pode ser encontrado nos livros ou em outros impressos que se encontram nas bibliotecas. A pesquisa bibliográfica tem como objetivo encontrar respostas aos problemas formulados e o recurso é a consulta dos documentos bibliográficos. Para encontrar o material que interessa numa pesquisa é necessário saber como estão organizadas as bibliotecas e como podem servir os documentos impressos (CERVO, 1983, p. 79).
Tendo em vista o aprimoramento do processo de pesquisa, especialmente no que tange ao modelo de análise e à aprimoração da problemática, um dos pontos de suma importância para qualquer investigação é a questão do levantamento bibliográfico. Tal levantamento, apesar de ser um dos métodos de pesquisa – que é comumente denominado de “pesquisa teórica” –, está sendo posto aqui como uma das fases imprescindíveis, que deve ser dominada minimamente por qualquer pesquisador. Note-se que se está sublinhando que o levantamento bibliográfico, mesmo que preliminar, deve ser realizado por diferentes pesquisadores, ainda que muitos deles, no decorrer de suas pesquisas, optem por desenvolvê-las através de outros métodos de pesquisa. Considerando que, como diz Cervo acima, “praticamente todo conhecimento humano pode ser estudado nos livros, nas bibliotecas”; considerando que para se chegar a tal conhecimento é necessário dominar uma série de procedimentos e de técnicas bibliográficas; considerando, enfim, que o material bibliográfico está nas fontes primárias e secundárias de papel, dada sua relevância propomos a questão do “estudo bibliográfico” a partir de um conjunto de tópicos: definição da pesquisa bibliográfica; fontes
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bibliográficas; procedimentos básicos para o estudo das fontes; técnicas básicas de leituras; apontamentos; pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. Definição de pesquisa bibliográfica
Segundo GIL (1995), a pesquisa bibliográfica define-se basicamente por uma coleta de material disponível e já existente, o qual pode ser selecionado a partir de livros, de revistas, de periódicos especializados e de documentos diversos. Partindo de tal definição, vale indagar, afinal, qual será o porquê da necessidade de um levantamento bibliográfico para o aprimoramento e o desenvolvimento da pesquisa e da questão de estudo? Ora, se, como já dizia Bachelard, a “verdade, na ciência, é irmã da divergência e não da convergência”, ainda assim, se há uma questão consensual na elaboração básica de um projeto de pesquisa, é quanto à recomendação de que, para elaborar melhor a problemática e a construção do modelo de análise, é imprescindível que o pesquisador, além de fazer um corte no assunto escolhido, desenvolva um levantamento bibliográfico inicial. Na realidade, tal levantamento é o primeiro passo para o estudo sistematizado. Dito com outras palavras, se há um consenso na elaboração dos projetos de pesquisa, ele se relaciona principalmente com a necessidade de que o pesquisador, a partir da delimitação e da escolha do assunto, desenvolva leituras sistemáticas sobre a área em questão, a fim de que se possa caminhar de forma bem mais adequada no campo de análise pretendido. Como desenvolver uma investigação funcional sobre determinado assunto se me nego a aprofundá-lo, enriquecendo-o com o conhecimento já existente sobre o mesmo? Ainda que o referido pesquisador suponha ter determinado conhecimento sobre o assunto de pesquisa, ainda assim é importante a recomendação do levantamento bibliográfico: Escolhido seu assunto, você tem – ao menos em uma versão provisória ou transitória – sua “questão principal” e sua “problemática”(...).
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Assim, há a necessidade de torná-lo um assunto mais sistemático. De fato, precisa explorar bem o terreno (intelectual) em que irá trabalhar: conhecer o que já foi estudado, debatido, colocado antes [as teses ou hipóteses propostas, as principais interpretações ou construções teóricas]. Para isso, será preciso ‘dar uma olhada’ nas principais publicações existentes: artigos, estudos ou relatórios, teses e trabalhos universitários e obras publicadas (BEAUD, 1996, p. 67).
A partir disso, então, discutamos agora acerca das fontes bibliográficas possíveis, particularmente no sentido de como podemos ter acesso às mesmas. Vejamos, inclusive, quais são os procedimentos necessários que devemos compreender para dominá-las e aproveitá-las devidamente. Fontes bibliográficas “Quando queremos fazer uma pesquisa, não podemos desprezar nenhuma fonte, e isto por princípio” (ECO, 1989, p.112).
Diz Umberto Eco que em determinado momento de sua vida, diante da necessidade de desenvolver uma pesquisa específica, ele se viu diante de um impasse sério: – Eu tinha um problema específico, dizia. E nenhum dos autores que eu lia vinha em meu socorro para me ajudar a pensá-lo, quem sabe resolvê-lo. E, no entanto, se havia algo de original em minha tese, era precisamente aquela pergunta cuja resposta devia vir de fora da literatura de minha área de pesquisa (ECO, op, cit.).
Esse impasse de Eco pode ocorrer com muitos pesquisadores, ou seja, às vezes passamos por determinado ponto do processo de pesquisa, o qual é um verdadeiro “território de indeterminação”. Assim, o que fazer? Dentre as várias hipóteses possíveis para se enfrentar tal “ território”, Eco agarra-se basicamente em uma: trata-se, para ele, de se estar diante de enorme lacuna, que além de ser um “campo quase invisível”, pode ser suplantada se pudermos achar uma fonte de pesquisa sui generis, a qual nos dará
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informações significativas sobre essa área que se quer pesquisar. Em outras palavras, não que tal fonte não exista, apenas ela não está sendo encontrada no meio dos autores famosos, nos livros correntes das principais bibliotecas, nem na internet e nem entre as idéias e as sugestões dos especialistas do ramo. E, ainda a propósito, ECO continua com a palavra: – Então, deixando-me levar pelas ditas ondas do acaso, um dia, mesmo desconsolado e a procura do texto que me ajudasse a resolver esse impasse, ocorreu-me de entrar numa espécie de livraria bem simples de sebos, em Paris. Não! Até então eu não tinha o costume de entrar em qualquer livraria, quiçá uma bastante simplória como o daquele canto da rua, mas, lá entrando, comecei a folhear alguns livros de autores desconhecidos do século XIX e ali, por incrível que pareça, achei uma obra escrita em 1887, de um que eu nunca tinha ouvido falar, o qual me assaltou com estranheza... Apesar do título, L’idée du Beau dans la philosophie de Saint Thomas d’Aquin, o livro, a princípio, me atraiu mais pela bela encadernação do que pelas idéias. Como era barato e não o tinha conhecido ainda, pois que não se encontrava em bibliografia alguma, eu o adquiriu. Ao começar a estudá-lo, além de constatar que o autor da referida obra era um abade, comecei a pensar que se tratava de uma obra menor do século XIX. Em síntese, tal obra me pareceu que não acrescentaria nada de novo além do que já tinha sido escrito sobre o assunto. Entretanto, continuando a leitura mais por obstinação e menos até do que pela própria obra, de repente, “quase entre parêntese e como que por desatenção, sem que o bom abade se desse conta do alcance do que dizia”, continua Eco, “deparo com uma alusão à teoria do juízo em conexão com a da beleza! Eureca! Encontrara a solução! E quem a dera fora o pobre Abade Vallet; morto havia já duzentos anos, ignorado de todos, mas que ainda assim tinha algo a ensinar a quem estivesse disponível para ouvi-lo” (op. cit., p.112).
Enfim, em termos das pesquisas, essa história nos indica que se alguns dos impasses de nossas investigações podem ser resolvidos mediante o estudo de diferentes fontes, elas não necessariamente
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estão apenas em autores famosos, em livros de destaque, quiçá ao simples toque no computador através do “Google” e de qualquer outra ferramenta de busca na internet, ou seja, as “respostas” que procuramos para nossas investigações nem sempre estão facilmente disponíveis. Claro que as obras de autores famosos e as grandes bibliotecas, sobretudo dos grandes centros de pesquisas, ajudam, bem como a própria internet; contudo, afora o aforismo inicial que foi colocado (“não devemos desprezar, a princípio, nenhuma fonte de consulta”), a respeito desses impasses Eco ainda diz: fazer pesquisa é ter humildade, sobretudo com relação ao processo de levantamento de fontes, pois que “Todos podem ensinar-nos alguma coisa. Ou talvez sejamos nós os esforçados quando aprendemos algo de alguém não tão esforçado como nós. Ou então, quem parece não valer grande coisa tem qualidades ocultas. Ou ainda, quem não é bom para este o é para aquele (ECO, op. cit., p.112).
Feitas essas considerações iniciais e imprescindíveis, passemos para outra discussão sobre as fontes. Estas não só podem ser debatidas a partir de um horizonte pluralista, como também, dentre elas, as apresentaremos através de um dispositivo designado como “quadro das principais fontes bibliográficas”, que são: os livros de leitura corrente, os livros de referência, os textos de publicações periódicas, os impressos diversos. Para se ter, em suma, uma idéia desse horizonte múltiplo das “fontes de papel” disponíveis para uma pesquisa bibliográfica, sugere-se que se observe a Figura 3, adiante.
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Figura 3. Quadro das principais fontes bibliográficas
(In: GIL, 1995, p 49)
Em termos de uma rápida discussão das fontes acima, ressalte-se: Quanto aos livros de leitura corrente – são as fontes bibliográficas propriamente ditas. Assim, podem ser classificados não só como os que são de “leitura corrente ou de referência”, como também os que abrangem as obras literárias, do âmbito da ficção, da poesia, da dramaturgia, etc. Isto sem contar que aqui estão ainda as obras de divulgação técnica, nas quais se destacam os textos científicos na acepção da palavra. Quanto aos livros de referência – além de serem considerados os livros de consulta por excelência, podem ser de dois tipos, ou seja, livros de referência informativa e livros de referência remissiva. Os primeiros são caracteristicamente os livros de consulta (dicionários, enciclopédias, etc.), os segundos são os que se remetem a outras fontes. Quanto às publicações periódicas – trata-se de fontes que além de se apresentarem por publicações de intervalos regulares ou não, contam freqüentemente com a escrita de vários autores. Frise-se que essas fontes embora tendam a seguir uma meta mais ou menos definida, podem tratar de vários assuntos e de temas diversos. Dentre as principais fontes periódicas correntes, ressaltam-se os jornais e as revistas. Se de um lado, os jornais possuem, a favor, o dado da rapidez, as revistas, de outro lado, sobretudo as
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especializadas, ganham também pontos positivos. Basta pensar que, as referidas revistas tendem a apresentar informação de maneira menos superficial e mais elaborada (GIL, 1995).
Mas, além disto, como se pode observar na própria Figura 3 acima, há ainda outras fontes de papel. No caso, referimo-nos às “fontes de impressos diversos”. Estas podem ser entendidas da seguinte forma: de uma parte, há fontes bibliográficas secundárias, que são consideradas como fontes bibliográficas por excelência porque tratam de textos que se relacionam com a escrita de diversos autores sobre determinada questão e que estão impressas e reeditadas, basicamente, em livros, os quais estão disponíveis em diversas bibliotecas, livrarias, sebos, etc. De outro lado, também há outras fontes de papel. Trata-se das fontes documentais sobre determinadas questões que embora tenham ainda sido escritas e registradas, dado seu caráter de originalidade em relação ao texto de pesquisas, são fontes primárias. Dito com outras palavras, neste último caso, estamos falando de fontes que apontam potencialmente para o caráter inédito, que são basicamente sinônimo dos manuscritos do autor da obra. O Estudo desses manuscritos, por sua vez, pode gerar outros textos que ainda não foram pensados e escritos até então. A título de ilustração, pensemos, por exemplo, numa pesquisa sobre a psicanálise freudiana dos sonhos. Uma pesquisa baseada em “fontes secundárias” poderia ocorrer, digamos, a partir de um corte onde optaríamos por discutir a questão proposta a partir da escola inglesa de psicanálise. Assim, partiríamos para o levantamento e leitura dos livros existentes e disponíveis sobre essa escola. Uma pesquisa de “fonte primária”, por exemplo, poderia acontecer a partir dos manuscritos originais do texto da Interpretação dos sonhos, do próprio Freud (2). Procedimentos básicos para os estudos das fontes
Quanto à questão de como se pode ter acesso direto às fontes bibliográficas pode-se dizer que é basicamente através das biblio
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tecas públicas ou especializadas (situados em Institutos de Pesquisa, universidades, etc.). Há também outras formas de acesso, que são: a leitura dos catálogos de editoras, consultas diretas nas livrarias (especializadas ou não), assinaturas de periódicos e revistas diversas. Isto sem contar que ainda é possível levantá-las via computador, ou mesmo na possível consulta aos especialistas. Feitas tais considerações, vamos discutir, agora, uma situação hipotética a partir das seguintes perguntas: ora, após ter realizado um levantamento bibliográfico e ter obtido um razoável material em termos de textos e livros, o que preciso fazer para selecionálos? Será que é necessário estabelecer uma ordem de leitura prioritária? Enfim, afinal, é possível desenvolver tecnicamente uma leitura adequada desse material de forma sistemática? Do ponto de vista de se conseguir desenvolver uma leitura funcional e sistematizada das obras obtidas nas fontes levantadas, antes de tudo é preciso perceber uma série de técnicas de leituras que debatermos adiante. Contudo, tal procedimento passa inicialmente pela compreensão de que a pesquisa bibliográfica se dá a partir de dois momentos básicos: levantamento bibliográfico preliminar e levantamento bibliográfico propriamente dito. Levantamento bibliográfico preliminar
O levantamento bibliográfico preliminar ocorre principalmente em função, por um lado, de uma seleção inicial de obras, e também, por outro lado, para aprimorar a delimitação prévia do assunto escolhido. Como se pode notar, o levantamento bibliográfico preliminar é um fator ligado mais diretamente ao nosso primeiro capítulo (3). Especificamente ainda, quanto ao momento do levantamento bibliográfico preliminar, há aqui dois tipos básicos de leituras ou há duas técnicas de leituras, que são: a leitura prévia (ou exploratória) e a leitura seletiva, as quais serão desenvolvidas adiante.
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Levantamento bibliográfico propriamente dito
Especificamente quanto ao segundo tipo de pesquisa bibliográfica, ou quanto ao levantamento bibliográfico propriamente dito, além das duas técnicas anteriormente citadas, aplica-se também aqui duas outras técnicas básicas de leituras: leitura analítica e leitura interpretativa. Passemos, então, para o debate das mesmas. Técnicas básicas de leituras
Leitura prévia ou leitura exploratória – momento em que se farão as seleções das obras que serão pesquisadas posteriormente. A leitura prévia, em síntese, é uma leitura exploratória, ou seja, visa uma leitura primeira das obras com vistas a prepará-las para uma leitura um pouco mais elaborada num outro instante. Aqui, segundo alguns autores, a leitura é realizada como se fosse uma expedição de reconhecimento junto a um território desconhecido, ou seja, ela é realizada: Mediante o exame da folha de rosto, dos índices, da bibliografia e das notas de rodapé. Também faz parte deste tipo de leitura o estudo da introdução, do prefácio (quando houver), das conclusões e mesmo das orelhas dos livros. Com estes elementos é possível ter uma visão global da obra, bem como de sua utilidade para a pesquisa (GIL, 1995, p. 67).
Leitura seletiva – fase em que se realizará especificamente uma espécie de localização ou focalização de textos, livros, capítulos ou partes específicas dos mesmos, os quais apresentam e destacam conteúdos de suma importância para o trabalho em questão (ANDRADE, 1995). Além disto, vale destacar: A leitura seletiva é mais profunda que a exploratória; todavia, não é definitiva. É possível que se volte mais vezes ao mesmo material com propósitos bem diferentes. Isto porque a leitura de determinado texto pode conduzir a algumas indagações que, de certa forma, podem ser respondidas recorrendo-se a textos anteriormente vistos. Da mesma forma, é possível que determinado texto, eliminado como não
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pertinente, venha a ser objeto de leitura posterior, em decorrência de alterações dos propósitos do pesquisador (GIL, op. cit., p 68).
Leitura analítica: ela se dá fundamentalmente a partir da leitura dos textos já selecionados, embora isto não queira dizer que se exclua totalmente a hipótese de se estudar outros novos textos para o enriquecimento da pesquisa em questão. Contudo, tal fase se caracteriza basicamente pelo momento em que os textos devem ser prioritariamente analisados “como se fossem definitivos”. Ressalte-se que é, sobretudo, nesta fase que o pesquisador deve procurar entender o conteúdo do texto antes mesmo de criticá-lo ou refutá-lo de alguma forma. Tal fato, acrescido à circunstância de que o pesquisador tem um problema para testar, então, torna a leitura analítica um dos momentos mais difíceis da pesquisa bibliográfica. De forma geral, os autores convergem na compreensão da leitura em questão. Andrade, por exemplo, destaca que a leitura analítica, “crítica ou reflexiva permite a apreensão das idéias fundamentais de cada texto. Esta é a fase mais demorada da pesquisa bibliográfica, pois as anotações devem ser feitas somente após a compreensão e apreensão das idéias contidas no texto. São necessárias muitas leituras, para destacar o indispensável, o complementar e o desnecessário no texto lido. Não se pode sublinhar um livro pertencente à biblioteca; portanto, as anotações serão feitas primeiramente em folhas avulsas, depois lidas, selecionadas para serem transcritas em fichas” (ANDRADE, 1993, p 5). Lakatos, de outro lado, ressalta que a leitura analítica tem o objetivo básico de levar os pesquisadores ao seguinte: “1- Aprender a ler, ver, a escolher o mais importante dentro do texto; 2- Reconhecer a organização e estrutura de uma obra ou texto; 3- Interpretar o texto, familiarizando-se com idéias, estilos, vocabulários; 4- Chegar a níveis mais profundos de compreensão; 5- Reconhecer o valor do material, separando o importante do secundário ou acessório; 6- Encontrar idéias principais ou diretrizes e as secundárias; 7- Perceber como as idéias se relacio
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nam; 8- Identificar as conclusões e as bases que as sustentam” (LAKATOS, 1992, p 24). Mas, dentre os diversos autores que debatem a leitura analítica, há ainda um que a discute de forma mais esquadrinhada, ou seja, existe uma perspectiva defendendo que tal leitura pode ser delineada principalmente pelos seguintes momentos: “a) Leitura integral da obra ou do texto selecionado, para se ter uma visão do todo. Será conveniente valer-se de um dicionário para esclarecer o significado de palavras desconhecidas. Poderá também ser interessante em alguns casos apelar para trabalhos correlatos para se obter melhor compreensão da obra ou do texto. “b) identificação das idéias-chaves: ao ler atentamente uma frase, identificam-se algumas palavras-chave. Da mesma forma, num parágrafo, é possível escolher uma frase que o sintetiza. Ao longo do texto, por fim, podem-se selecionar alguns parágrafos que são os mais significativos. A partir da junção inteligente entre os parágrafos do texto, é possível identificar as idéias mais importantes. “c) Hierarquização das idéias. Após a identificação das idéias mais importantes contidas no texto, passa-se à sua hierarquização, ou seja, à organização das idéias seguindo a ordem de importância. Isto implica distinguir as idéias principais das secundárias e estabelecer tantas categorias de idéias quantas forem necessárias para a análise do texto. “d) Sintetização das idéias. Afora ser a última etapa do processo de leitura analítica, aqui se recompõe o todo decomposto pela análise, eliminando o que é secundário e fixando-se no essencial para a solução do problema proposto. A habilidade para sintetizar exige bastante treino e é fundamental na pesquisa bibliográfica. Quando esta habilidade não se encontra bem desenvolvida, o pesquisador tende a deparar-se com grande conjunto de informações de difícil manuseio, que podem comprometer o adequado desenvolvimento da pesquisa” (GIL, 1995, p.69).
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Leitura interpretativa: sendo a última etapa do processo de leitura, trata-se da fase de maior complexidade, pois é nela que a partir da questão de estudo, deve-se relacionar o que o autor ou os autores dizem com aquilo que queremos investigar. Traduzindo: Após a intelecção e análise do texto lido, segue-se a (leitura de) interpretação: procura-se estabelecer relações, confrontar idéias, refutar ou confirmar opiniões. A “interpretação” consiste em um processo de reelaboração pessoal das informações e idéias extraídas das leituras (ANDRADE, 1995, p.41).
Uma das maiores armadilhas, nessa referida fase, consiste principalmente no fato de os pesquisadores, geralmente com pouca experiência, procederem à interpretação dos dados baseando-se mais em opiniões pessoais e não em uma análise interpretativa do próprio conteúdo do texto em causa. Assim, para evitar tais armadilhas, entre outros sugestões recomenda-se que o pesquisador – inclusive de preferência num instante anterior ao momento da leitura em questão – tenha escolhida um autor ou uma teoria consistente de apoio para poder basear-se e passar à análise dos dados levantados, quando se fizer necessário. Ou seja, “Para isso não ocorrer (interpretação baseada exclusivamente no ponto de vista pessoal), é necessário que a interpretação se faça a partir da ligação dos dados com conhecimentos significativos, originados de pesquisas empíricas ou de teorias comprovadas” (GIL, 1995, p.70). Colocando com outras palavras: “Quem dispõe de boa teoria, diante do dado sabe interpretar, ou pelo menos sabe propor pistas de interpretação possível” (DEMO, 1990, p.23).
Apontamentos “No ato de documentar o que considera útil e relevante à fixação dos seus conhecimentos, você acumulará um significativo material que
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servirá de consulta às provas, aos escritos e pesquisas” (HÜHNE, 1988, p. 22).
A questão dos apontamentos sobre o material de pesquisa é de suma importância, mormente visando ao processo de organização das informações coletadas que podem colaborar bastante para a reflexão e o desenvolvimento propriamente dito do texto da pesquisa. A despeito de não existir necessariamente uma única forma de elaboração dos apontamentos ou da documentação do material coletado nas pesquisas, ainda assim, podem-se observar duas maneiras básicas de realizá-los: há os apontamentos feitos através de “fichas manuscritas”; há os apontamentos feitos e armazenados através de “fichas no computador”. Ressalte-se que, até pouco tempo, a primeira forma de armazenamento era a mais freqüente. A segunda forma de apontamento, por sua utilização mais recente, apresenta ainda certa dificuldade, pois, naturalmente, requer que o pesquisador disponha de um microcomputador, que possa ser usado durante todo o processo de pesquisa. Independente, porém, do processo utilizado, o relevante é compreender que o objetivo básico dessa fase é armazenar as informações colhidas nas obras pesquisadas da maneira mais funcional possível. Colocando com outras palavras, o “espírito da coisa” aqui é coletar e anotar as informações de tal forma que diante de uma necessidade ou um eventual contratempo na elaboração da pesquisa, possam-se obter a informação ou os dados importantes já colhidos sem perda de tempo. A título de exemplo, uma infeliz situação é aquela em que depois de muito pesquisar um assunto, na hora de escrever o texto o autor do trabalho enfrenta uma das piores vicissitudes: por não achar a citação devida, perde quase um dia inteiro para ir de novo a uma biblioteca que já freqüentou há tempos, apenas pelo fato contraproducente de que ele não se organizou devidamente em termos de anotações sistemáticas, seja pelo processo de “fichas manuais”, seja por qualquer outro sistema. Enfim, como a anotação manual de fichas (apontamentos via sistema de fichas comuns) ou os apontamentos via computador
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podem ser fatores que se complementam e não necessariamente se anulam, passaremos, a seguir, ao debate de algumas sugestões acerca do processo básico de fichamento. Apontamentos por sistema de fichas comuns
A anotação dos apontamentos pelo processo de fichas, de uma maneira geral, pode ser desenvolvida nas seguintes situações: a“fichas de indicação bibliográfica (autor, obra, assunto)”, a qual só deve ser feita após a leitura do capítulo 4 do presente livro; b- ficha de “transcrições, para citações”; c- fichas de “apreciação”; d- fichas de “esquemas”; e- fichas de “resumos”; f- fichas de “idéias sugeridas pelas leituras, etc.”. “Fichas de transcrição: enquanto se realiza a leitura analítica ou interpretativa das fontes bibliográficas, convém selecionar trechos de alguns autores, que poderão(...) ser usados como citações no trabalho ou servir para destacar idéias fundamentais de determinados autores, nas obras consultadas; “Fichas de apreciação: durante a pesquisa bibliográfica, é de grande utilidade fazer anotações a respeito de algumas obras, no que se refere a seu conteúdo ou estabelecendo comparações com outras da mesma área. Anotam-se críticas, comentários e opiniões sobre o que se leu. Este procedimento poupa o tempo que seria gasto no reexame das fontes bibliográficas; “Fichas de esquemas: os esquemas anotados nas fichas tanto podem referir-se a resumos de capítulos ou de obras, quanto de planos de trabalho. No primeiro caso, procura-se facilitar as revisões das matérias ou memorização de conteúdos; no segundo, trata-se de gravar, através de anotações, planos de trabalho ou de redação; “Fichas de resumos: os resumos anotados nas fichas podem ser descritivos ou informativos, dependendo da sua finalidade. O resumo descritivo, embora não dispense a leitura do original da obra, tem a vantagem de apontar suas partes principais, facilitando o processo de seleção da bibliografia. O resumo informativo, mais abrangen
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te, dispensa a leitura do texto original, por isso é de grande valia quando se deseja ter à mão o conteúdo de obras consultadas em uma biblioteca; “Fichas de idéias sugeridas pelas leituras: ocorre, muitas vezes, enquanto se procede ao levantamento bibliográfico, surgirem idéias para a realização de trabalhos ou para complementar um tipo de raciocínio ou para complementar um tipo de raciocínio ou de exemplificação no trabalho que se realiza ou em outro, provavelmente de outra área ou disciplina. A experiência ensina que essas “idéias cometas”, que passam de relance pela mente, se não forem devidamente anotadas, dificilmente ou jamais serão recuperadas. É, portanto, aconselhável que se anotem imediatamente, de preferência em fichas, essas idéias fugidias, sempre que elas ocorrerem” (ANDRADE, 1993, p. 44-45).
Apontamentos via computador
Em relação aos apontamentos realizados via computador, podemse aplicar exatamente os mesmos procedimentos que os “sistemas de apontamentos de fichas comuns”. A condição sine qua non, no caso, como já foi dito, é que o usuário possa contar com um “micro” disponível durante todo o processo de pesquisa. Ressaltese que com o desenvolvimento da tecnológica atual, o domínio da linguagem informatizada, ainda que mínimo, tornou-se um requisito necessário. Mas, além dos apontamentos, há outra série de vantagens que podem ser realizadas pelo computador. Dentre elas, destacamos a informatização de uma série de bibliotecas informatizadas e também um número enorme de fichários que podem ser acessados via CD-ROM. Assim, sobretudo para os pesquisadores que já dominam minimamente tais linguagens, há várias sugestões práticas sobre o acesso a tais bibliotecas virtuais e aos tipos específicos de CD-ROM. Dentre elas, destacamos: A melhor sugestão, nesse caso, é que cada um se dê ao trabalho de interrogar bibliotecários e documentalistas sobre o estado dos fichá-
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rios, dentro do campo em que vai conduzir sua pesquisa: quais são os fichários informatizados disponíveis? O que eles cobrem exatamente, como documentação e em que período? E, portanto, a quais fichários, informáticos e manuais, se deve recorrer? “Segundo a disciplina, a matéria e as áreas culturais que lhe interessam, cada um vai dispor de instrumentos cada vez mais poderosos. Cabe a você achá-los, escolhê-los e aprender a fazer o melhor uso deles, em função do tempo de que dispõe, de suas necessidades e da eficácia do instrumento com relação a essas necessidades (BEAUD, 1966, p. 74).
Outro fator que ajuda bastante, pelo menos nos dias atuais, é lançarmos mão de provedores de informação, tais como o do “Google” http://www.google.com.br/ ou do “Wikipédia, a enciclopédia livre”: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_ principal. Desnecessário afirmar que ambos estão ao alcance de um toque nas mãos no computador em qualquer país. A recomendação aqui é que mesmo que esses provedores se proponham a fazer um trabalho sério, sempre que possível, devemos checar as informações. Infelizmente, ainda que tal tecnologia permita o acesso ao conhecimento, há na internet algumas informações que não correspondem totalmente à realidade, portanto, notadamente em se tratando de trabalhos acadêmicos não nos custa nada cruzar todos os dados obtidos. Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Documental
É comum discutir-se a pesquisa documental como uma investigação que se aproxima e, às vezes, se apresenta até como sinônimo de pesquisa bibliográfica. A despeito de tal designação não implicar necessariamente um erro, pois que os dois tipos de pesquisas baseiam-se em “fontes de papel”, ainda assim é preciso discuti-las marcando uma diferença. A pesquisa documental diverge da bibliográfica, sobretudo porque ela é feita a partir de uma investigação realizada em tex
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tos de fontes primárias, ou seja, tal investigação é desenvolvida em textos que estão sendo estudados praticamente pela primeira vez. Geralmente tais estudos são realizados sobre manuscritos, documentos originais, enfim, textos raros, que funcionam como fonte primária para muitos outros textos, que são elaborados sobre uma escola de pensamento, um determinado pensador, ou um assunto específico. A pesquisa bibliográfica, por sua vez, é desenvolvida a partir de textos já elaborados e estudados, que no fundamental, são considerados textos de fontes secundárias. 2.2.3. A questão da entrevista com especialista/ orientador/ consultor “Que ninguém se confunda: assim como para os medicamentos, há o bom uso do orientador (ou especialista)” (BEAUD, 1996, p. 100).
O encontro com um especialista, num primeiro momento, como sinalizamos, visa ao aprimoramento da questão principal e de uma outra série de procedimentos prévios do processo de pesquisa, que já foram desenvolvidos no nosso capítulo 1. Num segundo momento, tal providência também é importante e deve ocorrer principalmente porque, considerando não só as possíveis dificuldades de início, mas também uma série de outros impasses freqüentes no desenvolvimento da pesquisa; considerando as dificuldades na elaboração de um instrumento eficaz que tenha probabilidade de firmar-se tanto na discussão quantitativa quanto na qualitativa; considerando que além disso, faz-se necessário também a escolha de uma teoria de apoio que possa ajudar na interpretação e debate dos dados coletados, de maneira que se evitem exclusivamente opiniões pessoais ou outros fatores próximos do senso comum; enfim, considerando essas e outras questões que nos afastam de um razoável desenvolvimento crítico do processo de elaboração da pesquisa, podendo-se contar com um interlocutor privilegiado – o especialista em questão – o trabalho de pesquisa só tem a ganhar. Em outras palavras, todo
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trabalho de pesquisa que pode contar com um interlocutor do gênero, para acompanhar, discutir, emitir sugestões e críticas nos diversos momentos de impasses, aumenta consideravelmente suas chances de realizar-se com qualidade. Quais são as principais questões implicadas no encontro com o orientador e/ou especialista na elaboração de uma pesquisa? Há aqui duas questões em pauta: de um lado, como já se viu, aumentamos as possibilidades de se ter um trabalho com qualidade, quando conseguimos desenvolver um diálogo problematizador e funcional com o especialista ou o interlocutor privilegiado; por outro lado, a apreensão “inteligente” da parte do pesquisador, acerca das sugestões e críticas que vierem à tona a partir de tal diálogo, é uma das condições de suma importância para a obtenção da referida qualidade. Para tanto, basta lembrar que como diz o aforismo introdutório dessa parte, “assim como deve se procurar fazer um bom uso dos remédios, há o bom uso dos interlocutores na pesquisa”. O que tal fato implica? Implica principalmente que escutar e pensar de forma funcional o diálogo com o consultor, especialista ou orientador, requer, antes de tudo, uma triagem do que é dito. Colocando com outras palavras, se existem, de uma parte, críticas e sugestões que devem ser seguidas “sem hesitações”, de outra parte há críticas e sugestões que talvez devam ser postas de lado. Vejam bem: não é que tais críticas devam ser necessariamente abandonadas; elas devem ser escutadas, analisadas e deixadas de lado para que possam ser usadas, quem sabe, num outro momento... O que se dirá de um arquiteto que por causa das reflexões e observações do mestre-de-obras e de seus conselheiros, improvisasse uma abertura suplementar, modificasse o nível de uma peça, deslocasse uma parede, recuasse um muro, invertesse uma escada, mudasse a planta da cozinha ou do banheiro, sem manter a coerência do conjunto? Acontece o mesmo com a tese (ou trabalho de pesquisa): procedidos sem a preocupação de conservar o “movimento de pensamento”, a
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“coerência da demonstração”, mesmo que existisse uma sugestão que fosse o máximo, do tipo “os dez melhoramentos”, ainda assim, tal sugestão aplicada desconsiderando a reflexão em pauta, indubitavelmente, poderia “conduzir ao pior” (BEAUD, 1996, p. 102).
Assim, tendo em conta alguns problemas que podem possivelmente aparecer nos encontros com o especialista, vale a pena reproduzir algumas sugestões que tratam do assunto, que são: 1- “Certas críticas e sugestões”, na maior parte das vezes, resultam do excelente conhecimento que o orientador tem da área escolhida. Desta forma, de um lado, é conveniente levar em conta 100% delas; 2- De outro lado, há “outras críticas ou sugestões que traduzem simplesmente um ‘mal-estar’ do leitor, uma dificuldade, uma reação quanto à leitura”. Ou seja, nesta última situação, tais críticas “não devem ser tomadas ao pé da letra, mas sim consideradas como sintoma de que alguma coisa pode não estar funcionando bem. Não queremos dizer com tal colocação que todas as críticas do orientador ou do especialista devam ser deixadas de lado, nem queremos dizer também que não seja necessário tal diálogo. Ao contrário, quer-se apenas sinalizar que dada sua importância, quando algo no trabalho não está funcionando bem, além de isto constituir-se num momento difícil, precisamos procurar as causas básicas de tal fator, sobretudo para que se possa fazer uma triagem e aproveitar, do que é dito, aquilo que realmente colabora para o desenvolvimento da pesquisa. Isto sem contar que, caso se consiga ter clareza do que ocorre, talvez se possam superar esses impasses e se evitar algumas situações desagradáveis e desgastantes para ambos os lados. Sublinhe-se ainda que a leitura de tais causas podem apontar para fatos curiosos: às vezes, as referidas críticas talvez tenham “a ver simplesmente com o que foi assinalado”; mas talvez tratem de algo mais complicado; “talvez tragam, por trás do problema apontado, outro problema...” 3- Mas, independente de onde estiver a dificuldade, e ”seja ela qual for, é o autor (no caso, o pesquisador) e só ele quem deve procurar a solução: o autor é o único responsável por sua tese; deve saber seguir os conselhos,
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levar em conta certas críticas; mas deve também saber resistir e se sustentar, pois só ele tem a visão do conjunto; e só ele assumirá a responsabilidade final” (BEAUD, op. cit., p.101- 102). Enfim, pensando em termos ideais, não é de se esperar que ocorram problemas nesses encontros. Contudo, realisticamente falando, como se trata de duas pessoas humanas e há também uma relação, ou uma díade relacional, sempre que for possível, deve-se tentar compreender os mal-entendidos por todos os ângulos possíveis, inclusive, se for o caso, do lado relacional de cada um dos dois implicados. Alguns pesquisadores têm como praxe procurar consultores ou orientadores entre o grupo de ex-professores, professores conhecidos ou indicados por outro professor que, de alguma forma, forneça uma base de um conhecimento prévio. Aqui, parte-se do princípio de que quando já se tem certo conhecimento sobre o outro, quando já se tem uma história, ainda que breve, sobre alguém, quando se tem uma certa vinculação de algum nível, aumentam as possibilidades de aceitação e entendimento. Claro que toda regra tem exceção, porém o “espírito da coisa” aqui, em síntese, é: a) ter o mínimo de abertura para com as críticas do outro; b) ter o mínimo de tolerância e atenção com o outro, lembrando que muitos desses especialistas, principalmente os mais experientes, são muito requisitados e não só têm diversas ocupações bastante sérias, como têm também várias teses, textos para ler, de modo que um pouco de compreensão ajuda bastante na relação; c) evitar importunar, a toda hora, o especialista com questões secundárias: “deve-se, é claro – salvo absoluta impossibilidade – seguir seus cursos e seminários, que são as melhores ocasiões para se beneficiar de conselhos dispensados coletivamente” (BEAUD, op. cit, p. 103).
CAPITULO III
Discussão dos Principais Métodos e Técnicas de Pesquisas
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N
ão seria ‘realista’ prender a realidade a um único parâmetro de pesquisa. Se soubéssemos com evidência inconteste o que é a realidade, não seria necessária a ciência. Neste sentido, a ciência vive do desafio imorredouro de descobrir a realidade que, sempre de novo, ao mesmo tempo se descobre e se esconde. Possivelmente esta marca é comum também à realidade natural, mas é,sobretudo, característica da realidade social. ‘O que se vê’, de modo geral, não é, nem de longe, a parte principal e, na conseqüência, o que está nos dados muitas vezes é manifestação secundária, ocasional, superficial (DEMO, 1990, p.19).
Embora muito se discuta, há ainda algumas confusões acerca dos métodos e técnicas de pesquisa. Dentre elas, destacam-se duas: a primeira reside na posição dos que confundem métodos com técnicas; a segunda situa-se entre aqueles que propondo uma análise da realidade, acabam reduzindo-a exclusivamente a uma visão simplista e dogmática. Como adiante trataremos especificamente da diferença entre método e técnica, passemos agora para a breve discussão introdutória do segundo elemento citado. No trecho de DEMO acima, fala-se da posição que defende dogmaticamente uma redução do real “a um único parâmetro de pesquisa”. O mais curioso é que ao se defender essa posição, pode-se estar esquecendo de que não só existem realidades e realidades, como também, ao tomar tal procedimento, a referida ciência pode estar recriando tal real, sobretudo a partir de determinado ponto de vista. Isto sem contar que o referido procedimento pode ocorrer tanto na análise da realidade natural como na análise da realidade social.
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De acordo com os quadros teóricos de referência, o real pode variar e inclusive apresentar-se contraditório. Para começar, todo dado empírico não fala por si, mas pela ‘boca’ de uma teoria. Se fosse evidente em si, produziria a mesma análise sempre. Na prática, sucede exatamente o oposto: dependendo do quadro teórico de referência, o mesmo dado passa a ‘evidenciar’ conclusões muito diversas, o que leva a aceitar que nos dados do IBGE, por exemplo, não está “o” Brasil, mas o Brasil do IBGE (DEMO, 1990, p. 21).
De outro lado, há também aqueles que talvez querendo se contrapor ao dogmatismo citado, acabam defendendo o seu oposto e também deixam lacunas indefensáveis do ponto de vista acadêmico. Colocando de outro modo, situam-se por aqui posições que em defesa das várias realidades possíveis, confundem equivocadamente tal ponto de vista com uma perspectiva ingênua de se fazer uma pesquisa sem o mínimo de rigor, livre de qualquer preocupação metodológica. Destaque-se que mesmo diante da diversidade do real, a questão de rigor e de método propriamente dito tem ainda seu valor em qualquer área de conhecimento. Ora, a preocupação com o método aponta-nos para o seguinte: É sinal de competência, no mínimo de bom nível. Marx, Escola de Frankfurt, Lévi-Strauss, Popper, todos sem exceção deixaram produções essenciais no campo do método, pois é impossível criar análises inspiradas sem discutir O COMO fazer (...). A despreocupação metodológica coincide com baixo nível acadêmico, pois passa ao largo da discussão sobre modos de explicar, substituindo-a por expectativas ingênuas de evidências prévias. Nada
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favorece mais o surgimento do discípulo “copiador” que a ignorância metodológica (DEMO, op. cit., p. 24).
Assim, tendo em vista a superação de tais impasses, vamos discutir a questão dos métodos e técnicas a partir de seus potenciais horizontes múltiplos, ou seja, primeiro vamos apresentar os tipos básicos de pesquisa existentes, relacionando-os com a discussão de seus principais métodos; após essa apresentação, passaremos para o debate das técnicas, ressaltando seu caráter de diferença com os métodos. Em suma, pretende-se mostrar com tal discussão que independente das firulas de que o “método A” é melhor do que o “método B”, o mais relevante é que, no seu conjunto, esses distintos métodos podem trazer enormes contribuições, sobretudo quando apontam para um objetivo comum: a criação, o aprimoramento e o avanço do conhecimento científico em benefício do humano nas diferentes sociedades. 3.1. Tipos básicos de pesquisa (1) Podem ser realizados vários tipos de pesquisas, que vão variar em função de diferentes enfoques. Considerando que se podem delinear esses diferentes tipos em função de distintos enfoques, vamos debatê-los, então, a partir dos seguintes pontos: a- Tipologia quanto à natureza; b- Tipologia quanto aos objetivos; c- Tipologia quanto aos procedimentos; d- Tipologia quanto ao objeto (ANDRADE, 1993;1995). 3.1.1. Tipologia quanto à natureza A pesquisa pode ocorrer a partir de dois tipos básicos: pesquisa de trabalho científico original ou pesquisa de trabalho científico não-original. Vejamos o que significam: Trabalho científico original: é aquele que precisa ser desenvolvido, principalmente, como o próprio nome já diz, a partir de um caráter original. Assim, ela se propõe a discutir um tema que está sendo particularmente estudado pela primeira vez.
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Como exemplo desse tipo de estudo, pode-se exemplificar com as teses de doutorado e outras pesquisas cuja elaboração exige-se o caráter em questão. Trabalho científico não-original: denominados também de pesquisas de resumo, trata-se de estudos que dispensam a originalidade, ou seja, “entende-se por pesquisa de resumo de assunto aquele texto que reúne, analisa e discute conhecimentos e informações já publicadas” (CERVO, 1983, p.52).
Ressalte-se que mesmo não exigindo o caráter original, tais resumos não dispensam o rigor acadêmico; consistem num tipo de “pesquisa fundamentada em trabalhos mais avançados (...), e que não se limita à simples cópia das idéias. A análise e interpretação dos fatos e idéias, a utilização de metodologia adequada, bem como o enfoque do tema de um ponto de vista original são qualidades necessárias ao resumo do assunto” (ANDRADE, op. cit., p. 97). Geralmente, os resumos são indicados para estudos monográficos de fim de curso na graduação e também em muitas dissertações de mestrados. Na realidade, esses estudos contribuem principalmente não só para iniciar os futuros pesquisadores, como também para aumentar o conhecimento desses pesquisadores sobre determinada área, que poderá ser desenvolvida, por exemplo, num futuro trabalho científico original. 3.1.2. Tipologia quanto aos objetivos Do ponto de vista dos objetivos, as pesquisas se dividem em três tipos: pesquisa exploratória; pesquisa descritiva e pesquisa explicativa. Pesquisa exploratória: é o início de todo trabalho científico. De uma maneira geral, tal pesquisa busca ampliar o número de informações sobre determinado ponto que se quer investigar. Além disto, a investigação exploratória, que pode ser basicamente ilustrada através da pesquisa bibliográfica e do estudo de caso, uma vez em curso, colabora bastante na delimitação,
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no aprimoramento do assunto de pesquisa, seja trabalhando a definição dos objetivos, seja formulando e reformulando a questão de estudo, seja trazendo novos dados que podem ampliar nossa percepção sobre o assunto em pauta. Pesquisa descritiva: nesse tipo, parte-se do princípio de que os fatos devem ser analisados, classificados e interpretados de maneira que o pesquisador não interfira neles, ou seja, nela ocorre principalmente uma menor possibilidade da interferência do pesquisador na análise dos fatos investigados. As pesquisas descritivas caracterizam-se notadamente pelo detalhe de que “os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não manipulados pelo pesquisador” (ANDRADE, 1993, p. 98). Situam-se aqui as investigações geralmente denominadas de pesquisas de levantamento, ou seja, as pesquisas descritivas são majoritariamente aquelas que desenvolvidas no âmbito das ciências humanas e sociais e que buscam levantar investigações sobre opinião, mercado, etc. Na realidade, em tal situação, observam-se pesquisas de levantamentos não só de caráter sócio-econômico, como também de caráter psicossocial. Dentre as pesquisas descritivas salientam-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental, etc. Outras pesquisas deste tipo são as que se propõem a estudar o nível de atendimento dos órgãos públicos de uma comunidade, as condições de habitação de seus habitantes, o índice de criminalidade que aí se registra, etc. São incluídas neste grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população. Também são pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis, como, por exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relação entre preferência político-partidária e nível de rendimentos ou escolaridade (GIL, 1995, p.46).
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Ressalte-se ainda que é freqüente se observar, de um lado, algumas pesquisas descritivas que se destacam por transcender a simples descrição dos dados; não se restringindo a mera “identificação da existência de relações entre variáveis”, elas pretendem “determinar a natureza dessa relação”. Nestes casos, então, a pesquisa descritiva aproxima-se da pesquisa explicativa. De outro lado, há também algumas pesquisas descritivas que, além de levantarem uma série de dados sobre determinado fenômeno e a despeito de estarem com objetivos bem alinhados com os da pesquisa descritiva, habitualmente contribuem para “formar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias” (GIL, op. cit., p. 46). Pesquisa explicativa: trata-se de um tipo de pesquisa considerada mais complexa, sobretudo por visar fundamentalmente detectar os fatores que influenciam a concretização de determinados fenômenos. Colocando com outras palavras, “a pesquisa explicativa tem por objetivo aprofundar o conhecimento da realidade, procurando a razão, o ‘porquê’ das coisas; por isso mesmo, está mais sujeita a cometer erros. Contudo, pode-se afirmar que os resultados das pesquisas explicativas fundamentam o conhecimento científico” (ANDRADE, 1995, p. 16). Alguns autores, tais como GIL (1995), afirmam que o conhecimento científico como um todo está fundamentalmente baseado nos resultados estabelecidos pelas investigações explicativas. É evidente que tal afirmação não implica que as pesquisas exploratórias e descritivas não tenham valor. Ressalta-se apenas que as referidas pesquisas funcionam geralmente como etapas imprescindíveis para a obtenção de outras explicações científicas. Por exemplo, freqüentemente pode-se observar que uma pesquisa explicativa é a continuação de outra descritiva, pois “a identificação dos fatores que determinam determinado fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado” (GIL, op. cit., p. 47). Além de destacar que, no presente grupo em discussão, estão as pesquisas experimentais e ex-post-facto, podem-se sublinhar ainda
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dois pontos importantes: 1- se nas ciências ditas naturais é comum ver-se as pesquisa explicativas serem realizadas pelo método experimental, de outro lado, nas ciências sociais, tal método apresenta uma série de dificuldades e podem-se observar outros métodos complementando-o; 2- nas ciências humanas, como, por exemplo, na psicologia, ainda que se observem a apresentação de elevado grau de controle, nem sempre se podem realizar pesquisas totalmente explicativas. Assim, então, tais pesquisas passam a ser denominadas de “quase experimentais”. 3.1.3. Tipologia quanto aos procedimentos Discutir as pesquisas em relação aos seus procedimentos é situálas basicamente quanto aos seus elementos mais importantes na coleta de dados, ou seja, é delinear a maneira através da qual se obtêm os dados da investigação. Assim, podem-se observar dois grandes grupos relativos em tal coleta: os dados, de um lado, são coletados através de “fontes de papel”; de outro, são coletados através de “fontes de pessoas”. Pesquisas de “fontes de papel”: estão neste agrupamento a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. Pesquisas de “fontes de pessoas”: situam-se aqui a pesquisa experimental, a pesquisa ex-post-facto, a pesquisa de levantamento e o estudo de caso. Ressalte-se ainda que independente das polêmicas, é junto das “fontes de pessoas” que estão também a “pesquisa-ação e a pesquisa participante” (GIL, op. cit., p. 48). 3.1.4. Tipologia quanto ao objeto As pesquisas quanto ao objeto classificam-se particularmente como: pesquisa bibliográfica; de laboratório; de campo. Pesquisa bibliográfica: Pode constituir-se tanto como um método de pesquisa propriamente dito quanto como um procedimento importante para o momento preliminar da investigação, pois, como já foi ressaltado, o estudo bibliográfico
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é imprescindível para toda fase preliminar da investigação. Assim, sugerimos que se consulte o que discutimos sobre tal fator, principalmente nos Capítulo 1 e 2, e na parte denominada “Como fazer um levantamento bibliográfico”. Pesquisa de laboratório: São as pesquisas realizadas em ambientes específicos onde o pesquisador obtém condições de “provocar, produzir e reproduzir fenômenos, em condições de controle” (ANDRADE, 1993, p. 100). Embora as grandes maiorias das pesquisas de laboratório sejam experimentais, tal pesquisa não é sinônimo de pesquisa experimental. Além de ressaltar que nas ciências sociais e humanas também se faz esse tipo de pesquisa, e antes de passarmos para a apresentação de uma espécie de roteiro-padrão acerca da elaboração da pesquisa de laboratório, sugerimos a observação do trecho: Convém esclarecer que a pesquisa experimental não se identifica com a lei de laboratório, assim como a descritiva não é sinônimo de pesquisa de campo. Os termos ‘campo’ e ‘ laboratório’ indicam apenas o contexto onde elas se realizam” (CERVO, 1983, p. 59).
Do ponto de vista do desenvolvimento, é possível realizar-se uma pesquisa de laboratório a partir do Roteiro de Delineamento para Pesquisa de Laboratório, que se encontra presente adiante (Ver Quadro 1). Pesquisa de campo: Refere-se basicamente ao tipo de pesquisa na qual a coleta de dados é realizada em campo, ou seja, os dados são coletados no local onde ocorrem espontaneamente os fenômenos. Destaque-se que há a pretensão de que os referidos dados sejam coletados de maneira que não haja “interferência do pesquisador sobre eles” (ANDRADE, op. cit., p. 101). Deve-se dizer ainda que o tipo de pesquisa em questão, desenvolvida principalmente no âmbito das ciências sociais e humanas, não se caracteriza fundamentalmente como experimental, ou seja, ainda que possa haver pesquisa de campo experimental,
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ela em si mesma não tem o objetivo de produzir ou reproduzir os fenômenos estudados. A título de esclarecimento, em linhas gerais, é preciso destacar que a pesquisa de campo para ser desenvolvida necessita de um “planejamento geral” e um “plano específico”, que visam à coleta de dados de maneira funcional. Além disto, para a realização da investigação em questão, há a necessidade de se apresentar um “relatório escrito de várias etapas da pesquisa, incluindo os resultados obtidos” (ANDRADE, 1995). Quadro 1. Roteiro de delineamento de pesquisa de laboratório 1- Determinação do assunto 2- Pesquisa bibliográfica prévia 3- Formulação de problema 4- Formulação de hipótese ou hipótese pela determinação das variáveis independentes que se pretendem manipular em condições de controle 5- Prever, conhecer e testar a precisão dos instrumentos que serão utilizados na manipulação e nas mensurações das variáveis independentes 6- selecionar as técnicas convenientes para o caso 7- Provocar o fenômeno e controlar a relação entre as variáveis independentes e os eventos, com o objetivo de testar a hipótese pré-estabelecida 8- Generalizar ou ampliar os resultados 9- Fazer predições baseadas na hipótese confirmada 10- Reiterar experimentos para confirmar predições (RUIZ, 1991, p. 56-57; ANDRADE, 1993, p. 100)
O projeto de pesquisa, no caso, é aquele elaborado com vista à obtenção de bolsa de estudo ou financiamento diverso junto às agências de fomento à pesquisa. Ele é também escrito para ser mostrado ao orientador de uma monografia na graduação, ou mesmo em diferentes situações nos cursos de pós-graduação. O planejamento de pesquisa, por sua vez, mesmo tendo relação com o projeto, aponta para outro procedimento. Ele diz das etapas básicas, para se pensar e repensar previa e detalhadamente todos os possíveis passos que devemos realizar em prol da pesquisa. Em outras palavras, uma pesquisa, sobretudo de campo, jamais deve ser realizada sem o planejamento prévio. Por exemplo, às vezes, em função do assunto focalizado, o planejamento da pesquisa
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aponta como necessário uma pesquisa exploratória, seja para clarear os objetivos, seja para refazer e aprimorar as hipóteses da investigação. Como se vê, ainda sobre o planejamento, ele é de suma importância tanto no que tange ao aprimoramento da parte teórica como no que concerne à coleta de dados. Assim, ele se inicia freqüentemente pela primeira parte citada, para depois procederse ao plano da obtenção dos dados. Vejamos, então, a sugestão de dois esquemas básicos para a pesquisa de campo: Esquema do projeto de pesquisa de campo (Ver adiante, Quadro 2); Esquema do planejamento de pesquisa (Ver adiante, Quadro 3). Ressalte-se que tais sugestões devem ser lidas menos como sugestões cristalizadas e mais como pontos de reflexão, os quais, em função de cada pesquisa e contexto próprio, podem ser aprimorados. Quadro 2. Esquema do Projeto de Pesquisa de Campo 1- Título do trabalho ou tema: ele deve obedecer aos critérios de relevância, viabilidade e originalidade; 2- Delimitação do assunto: determinar o tipo de enfoque, bem como sua extensão e profundidade; 3- Objetivos: esclarecer o que pretendemos, bem como os resultados que desejamos obter com a pesquisa; 4- Justificativa: porque foi escolhido o tema em questão, qual a relevância e oportunidade do assunto; 5- Universo da pesquisa: a que se refere a pesquisa, quais são os sujeitos que serão investigados, qual seu objeto; 6- Metodologia: quais os métodos e técnicas que serão utilizadas na pesquisa. Pode incluir um roteiro com as principais etapas do trabalho; 7- Cronograma: qual o tempo necessário para se desenvolver cada fase da pesquisa, ou seja, discriminar quantas semanas ou quantos meses serão destinados a cada etapa; 8- Orçamento: especificar os recursos humanos e materiais indispensáveis para a realização do projeto, com uma estimativa dos custos, quando este item for necessário; 9- Bibliografia básica: apresentar uma lista bibliográfica que contenha obras referentes aos pressupostos do tema ou embasamento teórico do assunto. Esta bibliografia não precisa ser completa, exaustiva, mas deverá ser elaborada de acordo com as normas da ABNT. (ANDRADE, 1993, p.112)
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3.2. Métodos de pesquisa A complexidade e a mutabilidade do real são tão grandes como a imprecisão e rigidez dos métodos de investigação destinados a compreendê-lo melhor (...). Neste sentido, o processo de (formação) do conhecimento não é mais do que uma vitória parcial e efêmera sobre a ignorância humana (QUIVY, 1992, p. 147).
Método pode ser conceituado como um conjunto de procedimentos os quais são desenvolvidos visando à criação do conhecimento (ANDRADE, 1993); contudo, mormente de um ponto de vista de elaboração dos trabalhos científicos, os métodos podem ser debatidos através de dois modos básicos de compreensão: 3.2.1método de abordagem ; 3.2.2) método de procedimento. Quadro 3. Planejamento de pesquisa de campo 1- Escolha do tema 2- Delimitação do assunto 3- Levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica 4- Formulação do problema 5- Construção das hipóteses 6- Indicação das variáveis 7- Delimitação do universo (amostragem) 8- Seleção dos métodos e técnicas 9- Construção dos instrumentos da pesquisa 10- Teste dos instrumentos e procedimentos metodológicos. (ANDRADE, 1993, p.113)
3.2.1. Compreensão pelo método de abordagem O método de abordagem trata fundamentalmente do plano geral de trabalho; fala de seus pressupostos lógicos, do processo de raciocínio escolhido. Enfim, discutir o método de abordagem é debater um conjunto de procedimentos essencialmente racionais, caracterizados basicamente por “uma abordagem mais ampla, em nível de abstração mais elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade” (LAKATOS, 1992, p. 106). Em outras palavras, os
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métodos de abordagens podem se entendidos como um conjunto de procedimentos gerais, Baseados em princípios lógicos, permitindo sua utilização em várias ciências. O método dedutivo, por exemplo, tanto pode ser usado na Matemática, na Sociologia, na Economia, na Lógica ou na Física Teórica (ANDRADE, op. cit, p. 105).
Em termos de seu delineamento e conforme especificamente o tipo de raciocínio empregado, o método de abordagem pode ser discutido através de quatro maneiras principais: a) método indutivo; b) método dedutivo; c) método hipotético-dedutivo; d) método dialético. Antes de passarmos para essa discussão, ressalte-se ainda que é possível que tais métodos de abordagens apareçam tanto de uma forma exclusiva em algumas pesquisas como de forma simultânea em outras. Podem-se observar, por exemplo, alguns estudos sendo feitos apenas pelo método indutivo, outros se desenvolvendo ao mesmo tempo através do método dialético e dedutivo. Método indutivo: trata-se de método que promove uma conexão ascendente, ou seja, tal raciocínio parte de premissas particulares em direção às premissas gerais. Certos autores, tais como ANDRADE, estudando o método indutivo, afirmam que o mesmo confunde-se com o método experimental, que pode ser delineado a partir das seguintes etapas: “Observação: manifestações da realidade, espontâneas ou provocadas; “Hipótese(s): tentativa de explicação; “Experimentação: observação da reação de causa-efeito, imaginada na etapa anterior; “Comparação: classificação, análise e crítica dos dados recolhidos; “Abstração: verificação dos pontos de acordo e de desacordo dos dados recolhidos;
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“Generalização: consiste em estender a outros casos, da mesma espécie, um conceito obtido com base nos dados observados” (ANDRADE, 1993, p. 105-106).
Método dedutivo: aqui ocorre a promoção da conexão descendente, ou seja, os pressupostos de raciocínio partem de premissas gerais para premissas particulares. A dedução, enfim, “é a argumentação que torna explícitas verdades particulares contidas em verdades universais” (CERVO, 1983, p. 41). Método hipotético-dedutivo: caracteriza-se principalmente pelo seu aspecto lógico. Desta forma, relaciona-se fundamental e historicamente com a questão da experimentação, fato que lhe dá destaque particularmente nas investigações das ciências naturais. Vale ressaltar ainda que “não é fácil estabelecer a distinção entre o método hipótetico-dedutivo e o indutivo, uma vez que ambos são fundamentados na observação. A diferença é que o método hipotético-dedutivo não se limita à generalização empírica das observações realizadas, podendo-se, através dele, chegar à construção de teorias e leis” (ANDRADE, 1993, p. 106). Alguns autores, tais como INÁCIO FILHO, entre outros, sinalizam que há uma controvérsia estéril entre a questão de se responder se o método científico está mais para indutivo do que para dedutivo, e vice-versa. Para o referido autor tal polêmica pode ser colocada menos como uma saída cristalizada e mais como um ponto de reflexão a partir do seguinte raciocínio: considerando que tanto a indução quanto a dedução são dois momentos da formação e do processo do conhecimento, então, tais momentos não são necessariamente excludentes. Como isso é possível? Isso se torna viável não por uma lógica formal, mas sim por uma lógica dialética, que contém os princípios da unidade e dos conflitos dos contrários. Colocando com outras palavras, (...) é a ação recíproca desses dois momentos (indução e dedução) que caracteriza o movimento do conhecimento. Isto, de certa maneira, já era percebido em tentativas de compreender o movimento do conheci
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mento, mas não era explicitado enquanto lógica, o que só foi possível com a formulação da lógica dialética, (sobretudo) a partir de Hegel (INÁCIO FILHO, 1994, p. 92).
Método dialético: O método dialético, não obstante toda a controvérsia que possa gerar, sobretudo para aqueles que não aceitam ideologicamente os preceitos marxistas, caso se consiga pensar além dos preconceitos e dos contrapontos ideológicos, traz contribuições significativas sobre o processo de formação do conhecimento. Define-se como um método de investigação dos fenômenos em constante mudança, os quais ocorrem inerentemente a partir das ações recíprocas e contraditórias entre a natureza e a sociedade (POLITZER, 1970; ANDRADE, 1993; LAKATOS, 1991; MARTINS, 1989). O que tal fato implica? Implica principalmente que o método dialético se opõe a todo conhecimento que quer se colocar pretensamente de forma estática ou cristalizada. O referido método, ao contrário, problematiza o processo de formação de conhecimento dentro de um contínuo de constantes mudanças, mudanças inacabadas que contém um todo que abarca contrários em incessantes conflitos. Em tal processo, enfim, há sempre algo que se cria, se desfaz, se agrega, se desagrega. Ilustrativamente, é como se o real, nessa perspectiva, pudesse ser exemplificado por uma massa heterogênea com todos os contrários em constante luta. Tal massa, além de estar dentro do fluxo sem ponto final, só pode ser entendida a partir de análises objetivas, concretas, do que se entende por real. Este, por sua vez, relaciona-se basicamente ao seguinte fato: a dialética marxista aqui quer problematizar o que denominam de verdade, porém “para além das aparências imediatas, para além das mitificações”. Assim, em oposição à compreensão idealista, tal perspectiva acredita que a partir da análise de condições objetivas pode-se entender o real e colocá-lo disponível às mudanças sociais. Com relação aos princípios do método dialético, diz POLITZER (1970) que é possível delineá-lo a partir de quatro pontos básicos: princípio da ação recíproca e da conexão universal; prin
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cípio da transformação e do desenvolvimento incessante; princípio da mudança qualitativa; princípio da luta dos contrários. Princípio da ação recíproca e da conexão universal
Para o ponto de vista dialético os acontecimentos que se investigam não se apresentam separados da realidade, ou seja, se o metafísico separa aquilo que é realidade daquilo que não é, na referida perspectiva o princípio básico, que diz da ação recíproca e da conexão universal, é que “tudo se relaciona”; todas as coisas partem do dito mundo real e guardam uma relação entre si. Colocando com outras palavras, tal princípio aplica-se à questão mundo real versus mundo ideal, quanto a outros problemas, tais como a questão da produção teórica versus produção da prática, entre outros exemplos. Enfim, de um lado, se o metafísico julga que aquilo que ele pensa e produz não se relaciona com o que ele faz, de outro lado, o adepto do método dialético não separa tais fatores a partir de suas análise objetivas. Princípio da transformação e do desenvolvimento incessante
Para o dialético, em contraposição ainda ao metafísico, tudo está em movimento, tudo se transforma. Embora essas transformações ocorram de forma lenta e quase invisível aos olhos do senso comum – como, por exemplo, o desabrochar de um botão que vira rosa e, após exprimir-se em perfume e beleza, também fenece lentamente –, ainda assim, para o método dialético, sobretudo conforme esse segundo princípio, não existe nada imutável. Há inúmeros outros exemplos nos quais, mesmo diante de corpos aparentemente imóveis, esse segundo princípio dialético pode ser aplicado. Dentre outras ilustrações, vejamos: vamos imaginar que exista uma maçã imóvel sobre a mesa do professor. Caso fiquemos apenas nas aparências, diríamos que ela está de fato imóvel. Contudo, pela dialética, que vai além das aparências,
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se constará que ela, a despeito de estar aparentemente fixa sobre a mesa e mesmo supondo que esteja ali há meses, na verdade, está em transformação. Por quê? Porque, aqui, segundo o princípio da transformação e do desenvolvimento incessante, a maçã, no caso, está se alterando, pois que, “a mudança é universal, o desenvolvimento é incessante”. Colocando de outra maneira, se no primeiro princípio constatou-se que na análise do real, “tudo se relaciona”, um outro princípio desse real, além da unidade, é também o do movimento. Aliás, diga-se de passagem, tal movimento não é apenas um aspecto secundário da realidade, quer dizer: quando se fala em natureza, fala-se em movimento; quando se fala em realidade, fala-se do movimento. Assim, considerando que a realidade é movimento, é processo, então, tal fator “ se manifesta, portanto, na natureza e na sociedade” (POLITZER, op. cit., p. 46). Quanto à natureza, vejamos ainda uma ilustração sobre esse segundo princípio dialético: imaginemos um automóvel que está rodando em alta velocidade em uma estrada. De repente, ele Choca-se contra uma árvore e incendeia-se. Haverá nisso ‘dissipação da matéria’? Não; o automóvel em chamas é uma realidade tão material quanto o automóvel que rodava em perfeitas condições; é um aspecto novo, uma qualidade nova da matéria. A matéria é indestrutível, mas muda de forma. Suas transformações não são outra coisa que as transformações do movimento, o movimento é matéria (...). No caso do automóvel, cuja gasolina se inflamou pelo choque, a energia química, que, no motor, fez a explosão, se transforma em energia cinética (isto é, em movimento mecânico), transforma-se, agora, totalmente, em calor (em energia calorífica). A energia calorífica (o calor) pode, por sua vez, transformar-se em energia cinética: o calor existente na locomotiva transforma-se em movimento mecânico, que faz com que a locomotiva se desloque (...). Todas essas transformações não são mais do que a matéria em movimento (POLITZER, op. cit., p. 47).
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Princípio da mudança qualitativa
Segundo o método dialético, há duas formas básicas de se analisar os movimentos dos fenômenos naturais e sociais: são as mudanças quantitativas e qualitativas. Assim, espera-se não só que a primeira mudança leve ao segundo tipo de mudança – a qual ocorre freqüentemente por acumulação –, como também que tal mudança apresente-se com um estado particularmente diverso em relação ao estado anterior. Colocando de outro modo, para a dialética, a mudança qualitativa, longe de ser considerado um dado ilusório, é um fato objetivo. Tal fato, por sua vez, ocorre principalmente quando, no processo de mudanças, seja no mundo físico, seja no social, alcança-se uma fase peculiar que é qualitativamente diversa ao estado anterior. Se aqueço a água, sua temperatura se eleva gradativamente. Quando atinge 100 graus centígrados, entra em ebulição e se transforma em vapor d’água (...). São duas espécies de mudanças. O aumento progressivo de calor constitui mudança de quantidade, isto é, a quantidade de calor existente na água aumenta. Em dado momento, porém, a água muda de estado: sua qualidade de líquido desaparece; ela se transforma em gás, sem, contudo, mudar sua natureza química. Chamamos de mudança quantitativa o simples aumento (ou simples diminuição) de quantidade. Chamamos de mudança qualitativa a passagem de uma qualidade para a outra, a passagem de um estado para outro (POLITZER, op. cit., p. 57).
Nas sociedades, por sua vez, a passagem da quantidade para a qualidade, segundo Politzer, pode ocorrer tanto por mudanças lentas e graduais como por mudanças rápidas e/ou por saltos (crises). Como exemplo de mudanças qualitativas graduais, ele ilustra com as transformações da língua. Contudo, ainda como exemplo das mudanças rápidas, diz: “ Se forem necessários 60223 votos para eleger um candidato, será, precisamente, o ‘60223’ sufrágio que vai realizar o salto qualitativo, pelo qual o candidato se torna deputado. Esse salto, essa mudança rápida e súbita foi,
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entretanto, preparada pela acumulação gradual e insensível de sufrágios: 1+1+1... Enfim, eis um exemplo muito simples do salto qualitativo, da mudança radical” (Op. cit., p. 58). Enfim, poderíamos encher páginas e mais páginas com exemplos desse princípio. Entretanto, a idéia central aqui, é que, do ponto de vista do processo dialético, além de se destacar que a realidade contém tanto o quantitativo como o qualitativo, a mudança qualitativa é uma mudança de estado (2). Na realidade, para concluir, vale dizer: “A acumulação quantitativa prepara a transformação qualitativa, ainda que não aparente fazê-lo(...)”. Em outras palavras, “se o metafísico, ou nega as mudanças qualitativas, ou, então, admite-as sem explicá-las, atribuindo-as ao acaso ou aos milagres (...). O dialético, ao contrário, compreende o movimento da realidade, unindo, necessariamente, mudanças quantitativas e mudanças qualitativas, e as une na sua prática”(Ibidem p. 68). Princípio da luta dos contrários
Quanto ao quarto e último princípio do método dialético, pode-se dizer que se refere principalmente a uma questão fundamental que está intrinsecamente relacionada aos outros três princípios anteriormente discutidos, ou seja, se todas os fatos na natureza e na sociedade guardam uma relação, se tudo está em movimento e há a tendência de se passar da quantidade à qualidade, então, cabe a indagação: qual é o motor da mudança? Para o método dialético, discutir o motor de toda mudança na natureza e na sociedade é tratar do quarto princípio em questão, quer dizer, é falar da “luta dos contrários”. O que tal fato implica? Implica que, segundo POLITZER esse motor do processo dialético ocorre, sobretudo, através de três fatores básicos que são: a contradição é interna; a contradição é inovadora; a questão da unidade dos contrários. A contradição é interna: Considerando que, como já foi exposto, toda realidade é movimento; considerando que no processo do referido movimento, há uma contradição, pois fala-se de
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uma realidade que tem fatores diversos, destaque-se que tal contradição é inerente ao referido processo. Colocando com outras palavras, há uma luta interna na contradição do processo de movimento, a qual, longe de ser um fator exterior ao mesmo, é a sua essência. Ilustrativamente, pode-se dizer: “Por que a vida, depois de dar flores e frutos, entra em decadência até morrer? Porque não é apenas vida. A vida se transforma na morte, porque a vida traz em si uma contradição interna, porque ela é a luta quotidiana contra a morte. (...) O metafísico opõe a vida à morte, como dois absolutos, sem lhes ver a unidade profunda, unidade de forças contrárias (...). A contradição é, pois, interna a toda mudança” (POLITZER, 1970, p. 71). A contradição é inovadora: Além de perceber o caráter interno da contradição no processo dialético, é necessário compreender que tal contradição é a luta entre o velho e o novo. Esta é uma das grandes questões do princípio em discussão: a luta contraditória entre o velho e o novo, se resolve quando o novo supera o antigo, destacando o caráter inovador do método dialético. A título de ilustração, pode-se observar que esse fato é comum, sobretudo na história das ciências. Aqui, se de um lado há progresso e avanço, de outro tal procedimento ocorre principalmente porque há uma luta entre os contrários, ou seja, há uma batalha entre uma perspectiva estabelecida e uma perspectiva nova. Assim, quando a idéia nova prepondera é porque houve um “corte”, ou uma vitória do novo em relação ao antigo, aparecendo, então, novas formas de se perceber determinado fenômeno. A questão da unidade dos contrários: Aqui, o que está em jogo é um axioma fundamental da dialética, ou seja, “os contrários se combatem; porém, são inseparáveis” (POLITZER, op. cit., p. 76). Colocando com outras palavras, não há “motor” no processo dialético se não houver uma luta entre, no mínimo, duas forças contraditórias, isto é, problematizar tal fato é compreender, em síntese, o terceiro caráter da contradição, que é
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a unidade dos contrários. Vejamos um exemplo: “Existe, em um dia, um período de luz e um período de escuridão. Pode ser um dia de 12 horas e uma noite de 12 horas. Portanto, dia e noite são dois opostos que se excluem entre si, o que não impede que sejam iguais e constituam as duas partes de um mesmo dia de 24 horas. Por sua vez, na natureza há o repouso e o movimento, que são contrários entre si. Para o físico, entretanto, o repouso é uma espécie de movimento e, reciprocamente, o movimento pode ser considerado como uma espécie de repouso. Portanto, existe unidade entre os contrários, apresentando-os em sua unidade indissolúvel” (LAKATOS, 1991, p.105). 3.2.2. Compreensão pelo método de procedimento O método de procedimento, em contrapartida ao método de abordagem, tem um caráter mais específico, ou seja, apresentase menos da perspectiva do plano geral do trabalho e mais do ponto de vista de suas etapas, ressaltando suas particularidades (ANDRADE, op. cit.). Em outras palavras, Os métodos de procedimento seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos e menos abstratas. Dir-se-ia até serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos. Pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitados a um domínio particular (LAKATOS, 1991, p. 106).
Partindo de tais considerações, pode-se dizer que os principais métodos de procedimentos, que podem ser usados nas ciências sociais e nas humanidades, são: a- Método histórico; b- Método estatístico; c- Método estruturalista; d- Método funcionalista; e- Método comparativo e f- Método monográfico ou de estudo de caso. Método histórico: investiga os fenômenos sociais e humanos nos seus processos históricos, averiguando-os juntos das instituições do passado a fim de ver os possíveis graus de influência
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na sociedade atual. Tal método, em suma, parte do princípio de que considerando que “as atuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado”, então, “é importante pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função” (LAKATOS, 1991, p. 106-107). Método estatístico: utiliza-se fundamentalmente da perspectiva estatística, a qual lida com probabilidades. Ainda que indique certa margem de erro, suas conclusões mostram-se com grandes possibilidades de acertos, pois, “a manipulação estatística permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado. Um exemplo: pesquisa sobre a correlação entre nível de escolaridade e número de filhos” (ANDRADE, 1995, p. 23). Método estruturalista: arquitetado por Lévi-Strauss, parte de determinado acontecimento concreto para chegar aos fatos abstratos, e vice-versa. Tal relação, em síntese, pode ser delineada por um modelo de compreensão acerca de uma realidade estruturada, que vai tanto do abstrato para o concreto, como deste último fator para o primeiro. Em outras palavras: o método estruturalista “é utilizado para designar as correntes do pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar a realidade em todos os níveis” (ANDRADE, 1995, p. 24). Método funcionalista: tendo Malinowski como um dos maiores expoentes, trata-se de um procedimento que “é, a rigor, mais um método de interpretação do que de investigação” (LAKATOS, 1991, p. 110; ANDRADE, 1993; 1995). O que tal fato compreende? Ora, considerando que a sociedade pode ser vista como um fenômeno constituído por diferentes partes componentes e tais partes não só apresentam-se com diversidades, mas se relacionam e são simultaneamente independentes entre si; tendo em conta que cada uma dessas partes apresenta funções essenciais na vida social; considerando ainda que se as “partes são bem mais entendidas”, pode-se compreender “as funções que desempenham no todo”, assim, então, o método funcionalista se propõe a estudar a sociedade
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a partir da função “de suas unidades”, ou seja, estudá-la como um sistema “organizado de atividades”. A título de ilustração, vejamos um trecho: O método funcionalista considera, de um lado, a sociedade como uma estrutura complexa de indivíduos, (os quais estão) reunidos numa trama de ações e reações sociais; de outro, como um sistema de instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação às outras. Qualquer que seja o enfoque fica claro que o conceito de sociedade é visto como um todo em funcionamento, um sistema em operação. E o papel das partes nesse todo é compreendido como funções no complexo de estrutura e organização (LAKATOS, 1991, p. 110).
Método comparativo: tendo em conta que a investigação das diferenças e similitudes entre as diversas culturas, sociedades, agrupamentos pode apontar para contribuições no estudo do comportamento humano, assim tal método, em síntese, se propõe a problematizar comparações entre esses diferentes grupos, com o intuito de levantar semelhanças e destacar as diversidades. Em outras palavras, “é um método usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento”. A título de exemplo, pode-se pensar aqui nas “pesquisas sobre as classes sociais no Brasil, na época colonial e atualmente; pesquisas sobre aspectos sociais da colonização portuguesa e espanhola na América Latina” (ANDRADE, 1995, p. 23). Método monográfico ou estudo de caso: parte do princípio de que qualquer caso que se discuta além da superfície dos fatos e com sistematização pode ser significativo para a compreensão de muitos outros. Isto sem contar que o referido caso, a despeito de considerar-se uma possível margem de erro, pode ser representativo de muitos os outros casos semelhantes. Em outras palavras, O método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comuni
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dades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos. (...) Em seu início, o método consistia no exame de aspectos particulares, como, por exemplo, o orçamento familiar, as características de profissões ou de indústrias domiciliares, o custo de vida, etc. Entretanto, o estudo monográfico pode, também, em vez de se concentrar em um aspecto, abranger o conjunto de atividades de um grupo social particular, como no exemplo das cooperativas e do grupo indígena. A vantagem do método consiste em respeitar a ‘totalidade solidária’ dos grupos, ao estudar, em primeiro lugar, a vida do grupo na sua unidade concreta, evitando, portanto, a prematura dissociação de seus elementos. São exemplos desse tipo de estudo as monografias regionais, as rurais, as de aldeia e, até, as urbanas (LAKATOS, 1991, p. 108). Ressalte-se ainda que, como diz LAKATOS, os métodos de procedimento também podem ser utilizados concomitantemente. Tal fato pode vir a acontecer, com o objetivo básico de se alcançar várias visões sobre determinado objeto de estudo. Vejamos, então, um trecho de ilustração: “Para analisar o papel que os sindicatos desempenham na sociedade, pode-se pesquisar a origem e o desenvolvimento do sindicato, e a forma específica em que aparece nas diferentes sociedades”, através do método histórico, comparativo. Agora, ilustrando, digamos, com A análise de garimpos e garimpeiros de Patrocínio Paulista – tese de doutoramento da Profa. Marina de Andrade Marconi, observamos o desenvolvimento dos métodos históricos, estatístico e monográfico. Tal texto, como se vê, “exigiu a pesquisa, no passado, das atividades dos garimpeiros, suas migrações e métodos de trabalho; na investigação da característica do garimpeiro de hoje, foi empregado o método estatístico; e, finalmente, ao limitar a pesquisa a determinada categoria, utilizou-se o método monográfico” (LAKATOS, op. cit., p.112) / (3).
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3.3. Técnicas de Pesquisa Por técnicas de pesquisa entende-se o conjunto de normas ou preceitos usados especificamente pela ciência na busca de seus propósitos; falam antes de tudo da parte prática ou das habilidades concretas no aspecto de se usar tais preceitos e normas na busca de material fundamental para o estudo: a “técnica é a instrumentação específica da coleta de dados” na investigação (ANDRADE, 1995, p. 24). A questão da técnica, em síntese, pode ser apresentada por dois grandes agrupamentos: técnicas da documentação indireta e técnicas de documentação direta. 3.3.1. Documentação indireta Compreende os procedimentos básicos desenvolvidos na pesquisa bibliográfica (os quais, como vimos, se relacionam com as fontes secundárias) e na pesquisa documental (fontes primárias). Considerando que já debatemos a pesquisa bibliográfica e suas principais técnicas relativas às fontes secundárias de papel (ver capítulo 2), passaremos, agora, para uma discussão sobre a coleta de dados na pesquisa documental. A pesquisa documental se dá basicamente pelo levantamento de textos, que se caracterizam por ser de “primeira mão”. Tratase de textos que ainda não se prestaram para o embasamento de algum estudo e que podem servir como fonte original sobre determinado assunto. Vale lembrar que eles, por serem praticamente “virgens”, trazem um potencial peculiar para futuros trabalhos. Enfim, além de destacar que os referidos textos podem ser “retrospectivos ou contemporâneos”, ressalte-se que se encontram aqui, geralmente, os manuscritos originais de um autor ou qualquer documento raro de determinado assunto. Estamos falando das fontes primárias da pesquisa, as quais, a partir de estudos sistematizados, podem contribuir com toda uma linha de pensamento sui generis, principalmente no sentido de trazer novas contribuições acerca de um tema, de um autor ou de uma determinada obra.
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As técnicas de leitura e de apontamentos de tais fontes são praticamente idênticas às que são empregadas na pesquisa bibliográfica (ver capítulo 2), contudo, além do que já foi apresentado no referido capítulo, vale sublinhar algumas considerações importantes, sobretudo quanto aos possíveis locais de coletas de dados da pesquisa documental. Tais considerações, em resumo, são: a) “A coleta de dados para uma pesquisa documental pode ser realizada em biblioteca, mas o pesquisador deve recorrer também aos acervos de arquivos públicos ou particulares”, seja nos “cartórios, museus, fontes estatísticas, obras de arte, fitas de vídeo ou sonoras, etc. b) “Nos arquivos públicos, sejam federais, estaduais ou municipais, o pesquisador, de modo geral poderá encontrar: b.1) ordens régias, decretos, leis, ofícios, relatórios, anuários, alvarás, etc.; b.2) publicações parlamentares: atas, debates, projetos de lei, relatórios, etc. c) Quanto aos “arquivos particulares”, eles “poderão guardar: correspondência, diários, memórias, autobiografias, objetos artísticos, fotos, filmes, fitas de áudio e de vídeo, etc. d) Com relação às “entidades e instituições de ordem privada, tais como bancos, escolas, igrejas, partidos políticos, empresas e sindicatos”, é possível encontrar o seguinte material arquivado: “correspondências, registros, contratos, atas, memoriais, ofícios, comunicados, programas, objetos de arte, fotografias, fitas de áudio e de vídeo, etc. e) “Nos cartórios, poderão ser encontrados: registros de nascimentos e de casamentos; desquites e divórcios; atestados de óbitos; escrituras de compra e venda; hipotecas; falências e concordatas; testamentos e inventários e outros documentos jurídicos. f) “As fontes estatísticas e cartográficas, poderão ser localizadas nos arquivos de empresas, associações, sindicatos, museus, escolas ou no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)” (ANDRADE, 1995, p 24-25)
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3.3.2. Documentação direta Diz respeito, por sua vez, a duas modalidades básicas: observação direta intensiva e observação direta extensiva. A primeira modalidade relaciona-se com as técnicas de observação e as entrevistas. A segunda diz respeito às técnicas empregadas sobretudo no levantamento de dados para as pesquisas de campo, ou seja, são técnicas de grande utilidade, principalmente na coleta de dados para as citadas pesquisas através de formulários, questionários, testes e outros procedimentos. Observação direta intensiva
A observação: lança mão dos sentidos humanos para registrar certos parâmetros da realidade, que são utilizados não apenas como um mero ouvir e ver e muito mais como um procedimento importante no exame crítico de certos fatos da investigação. Destaque-se que tal fator é ferramenta técnica importante, principalmente nas pesquisas de campo em Antropologia. Afora isto, saliente-se ainda que a observação se apresenta através de várias modalidades técnicas, as quais podem ser vistas no Quadro 4, abaixo: Quadro 4. Diferentes tipos de observação SISTEMÁTICA: quando planejada, estruturada; ASSISTEMÁTICA: não estruturada; PARTICIPANTE: quando o pesquisador participa dos fatos observados; NÃO-PARTICIPANTE: o pesquisador limita-se à observação dos fatos; INDIVIDUAL: realizada por um pesquisador apenas; EM EQUIPE: pesquisa desenvolvida por um grupo de trabalho; NA VIDA REAL: os fatos são observados “em campo”, no ambiente natural onde ocorrem; EM LABORATÓRIO: os fatos são observados em laboratórios, salas, ou seja, em ambiente artificial, embora o pesquisador procure reproduzir o ambiente natural do fato estudado. (ANDRADE, Op. cit., p 25-26)
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A entrevista: ela pode ser definida do seguinte modo: Trata-se de “um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversa de natureza profissional” (LAKATOS, 1991, p. 195).
O “espírito da coisa” dessa técnica de observação direta intensiva e de sua definição, como se vê, aponta fundamentalmente para a preocupação de se obter “informações do entrevistado sobre determinado assunto ou problema. Além disto, especificamente ainda quanto a pesquisas, também é importante observar que para que o entrevistador realize uma entrevista de qualidade, antes de tudo, é necessário que ele possua alguns requisitos indispensáveis. Dentre eles, segundo (ANDRADE, op. cit., p 26-27), destacamos: 1) “Facilidade de comunicação e adaptação ao nível de linguagem do entrevistador; 2) “Boa educação e preparo intelectual para indagar, mesmo a respeito de assuntos que ainda não conheça profundamente; 3) “Apresentação pessoal agradável e simpatia, a fim de inspirar confiança no entrevistado; 4) “Espírito de observação agudo, para tirar o máximo proveito do que for observado durante a entrevista; 5) “Imparcialidade: não influenciar os entrevistados com gestos, palavras ou opiniões pessoais; 6) “Honestidade e precisão no desenvolvimento do trabalho”
Afora tais considerações, é ainda relevante sublinhar que as técnicas de entrevistas se apresentam em quatro modalidades básicas, que são: a entrevista estruturada; a entrevista não-estruturada; entrevista semi-estruturada e o painel (ver Quadro 5, abaixo).
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Quadro 5. Diferentes tipos de entrevistas 1-PADRONIZADA OU ESTRUTURADA: consiste em fazer uma série de perguntas a um informante, conforme um roteiro preestabelecido. Esse roteiro pode constituir-se de um formulário que será aplicado da mesma forma a todos os informantes, para que se obtenham respostas para as mesmas perguntas. O teor e a ordem das perguntas não podem ser alterados, a fim de que possam comparar as diferenças entre as respostas dos vários informantes, o que não seria possível se as perguntas fossem modificadas ou sua ordem alterada. 2- ENTREVISTA DESPADRONIZADA OU NÃO-ESTRUTURADA (entrevista livre): Conversa informal, que pode ser alimentada por perguntas abertas, ou de sentido genérico, proporcionando maior liberdade para o informante. Há três maneiras de se conduzir uma entrevista não-padronizada: 2.1- Entrevista focalizada: mesmo sem obedecer a uma estrutura formal, preestabelecida, o pesquisador utiliza um roteiro, com os principais tópicos relativos ao assunto de pesquisa; 2.2- Entrevista clínica: para esse tipo de entrevista se torna necessário organizar perguntas específicas, que possam esclarecer a conduta, os sentimentos do entrevistador; 2.3- Entrevista não-dirigida: o informante tem liberdade total para relatar experiências ou apresentar opiniões. O pesquisador limita-se a incentivar o informante a falar sobre determinado assunto, sem forçá-lo a responder. 3-PAINEL: segundo LAKATOS (1991, p. 197), “Consiste na repetição de perguntas, de tempos em tempos, às mesmas pessoas, a fim de estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de maneira diversas, para que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições”. Colocando de outra forma, “esse é um tipo de entrevista simultânea, realizada com várias pessoas, que são levadas a externar opiniões a respeito de um assunto. Ainda que se baseie na conversa informal, da qual participam os vários entrevistados, a entrevista deve ser desenvolvida de maneira lógica, coerente. Para obter os resultados esperados, o pesquisador deve preparar um roteiro, a fim de que todos os entrevistados exponham seus pontos de vista sobre os mesmos assuntos. As perguntas podem ser repetidas, com uma formulação diferente, para que as respostas sejam confirmadas (ANDRADE, Op. cit., p 27).
Ainda quanto aos tipos de entrevistas, em termos de enriquecimento, acrescentaríamos mais uma, que é a entrevista semiestruturada. Esta, em síntese, é o tipo de entrevista na qual o pesquisador, ao se propor a realizá-la junto ao objeto de pesquisa, de um lado, comparece com um temário básico de perguntas anteriormente preparadas, de outro, também deixa espaço para que, caso aconteça, surjam outras questões que não estejam previstas nesse temário. Em outras palavras, estamos falando aqui de um tipo de entrevista que é uma posição intermediária entre a “padronizada” e a “despadronizada” ou “livre”.
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Mas, independente disso, Lakatos e Marconi, entre outros, apontam para o fato de que antes de se realizar a entrevista propriamente dita, é necessário que se faça uma preparação básica da mesma. Tal preparação, diga-se de passagem, é uma das etapas de suma importância para a concretização da técnica em questão. A referida preparação não só requer um tempo para que o pesquisador a providencie, como também exige que se pensem algumas medidas que levem à obtenção da informação de maneira clara. As referidas medidas, em síntese, são: “a) Planejamento da entrevista: deve ter em vista o objetivo a ser alcançado; b) Conhecimento prévio do entrevistado: objetiva conhecer o grau de familiaridade dele com o assunto; c) Oportunidade da entrevista: marcar com antecedência a hora e o local, para assegurar-se de que será recebido; d) Condições favoráveis: garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e de sua identidade; e) Contato com líderes: espera-se obter maior entrosamento com o entrevistado e maior variabilidade de informações; f) Conhecimento prévio do campo: evita desencontros e perda de tempo; g) Preparação específica: organizar roteiro ou formulário com as questões importantes” (LAKATOS, 1991, p. 199).
Por último, considerando que, como a técnica de entrevista objetiva fundamentalmente obter dados válidos e pertinentes sobre determinado assunto, ela constitui uma verdadeira arte; assim, visando levar ao processo de aprimorar tal “técnica-arte”, sugerem-se alguns pontos básicos, que foram descobertos no estudo que fizemos na literatura em questão, e que aqui serão denominados “diretrizes e normas básicas da entrevista” (ver Quadro 6, abaixo).
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Quadro 6. Diretrizes e normas básicas da entrevista (sugestões de pontos fundamentais para maior êxito na técnica em questão) 1- CONTATO INICIAL: o pesquisador deve entrar em contato com o informante e estabelecer, desde o primeiro momento, uma conversa amistosa, explicando a finalidade da pesquisa, seu objeto, relevância e ressaltar a necessidade de sua colaboração. É importante obter e manter a confiança do entrevistado, assegurando-lhe o caráter confidencial de suas informações. Criar um ambiente que estimule e que leve o entrevistado a ficar à vontade e a falar espontânea e naturalmente, sem tolhimentos de qualquer ordem. A conversa deve ser mantida numa atmosfera de cordialidade e de amizade (rapport). (...) Mediante a técnica da entrevista, o pesquisador pode levar o entrevistado a uma penetração maior em sua própria experiência, explorando áreas importantes, mas não previstas no roteiro de perguntas (...). O entrevistador pode falar, mas principalmente deve ouvir, procurando sempre manter o controle da entrevista. 2- FORMULAÇÃO DE PERGUNTAS: as perguntas devem ser feitas de acordo com o tipo de entrevista: padronizadas, obedecendo ao roteiro ou formulário preestabelecido; não-padronizadas, deixando o informante falar à vontade e, depois, ajudá-lo com outras perguntas, entrando em maiores detalhes (...). Para não confundir o entrevistado, deve-se fazer uma pergunta de cada vez e, primeiro, as que não tenham probabilidade de ser recusadas. Deve-se permitir ao informante restringir ou limitar suas informações. Toda pergunta que sugira resposta deve ser evitada. 3- REGISTRO DE RESPOSTAS: as respostas, se possível, devem ser anotadas no momento da entrevista, para maior fidelidade e veracidade das informações. O uso do gravador é ideal, se o informante concordar com a sua utilização. A anotação posterior apresenta duas inconveniências: falha de memória e/ou distorção do fato, quando não se guardam todos os elementos (...). O registro dever ser feito com as mesmas palavras que o entrevistador usar, evitando-se resumi-las. Outra preocupação é manter o entrevistador atento em relação aos erros, devendo-se conferir as respostas, sempre que puder. Se possível, anotar gestos, atitudes e inflexão de voz. Ter em mãos todo o material necessário para registrar as informações. 4- TÉRMINO DA ENTREVISTA: a entrevista deve terminar como começou, isto é, em ambiente de cordialidade, para que o pesquisador, se necessário, possa voltar e obter novos dados, sem que o informante se oponha a isso. 5- REQUISITOS IMPORTANTES: as respostas de uma entrevista devem atender aos seguintes requisitos (...): validade, relevância, especificidade e clareza, profundidade e extensão. 5.1- Validade: comparação com fonte externa, com a de outro entrevistador, observando as dúvidas, incertezas e hesitações demonstradas pelo entrevistado. 5.2- Relevância: importância em relação aos objetivos da pesquisa. 5.3- Especificidade e clareza: referência a dados, data, nomes, lugares, quantidade, percentagens, prazos, etc., com objetividade. A clareza dos termos colabora na especificidade. 5.4- Profundidade: está relacionada com os sentimentos, pensamentos e lembranças do entrevistado, sua intensidade e intimidade. 5.5- Extensão: amplitude da resposta. (LAKATOS, 1991, p. 199- 201)
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Observação direta extensiva
Como já foi tido, trata-se de técnicas que são principalmente empregadas na coleta de dados das pesquisas de campo. Colocando com outras palavras, realizam-se “através de questionários, de formulários, de medidas de opinião e atitudes e de técnicas mercadológicas” (LAKATOS, 1991, p. 201). Enfim, tais técnicas comportam as seguintes modalidades: o questionário; os testes; o formulário. Questionário: trata-se de um instrumento que pode ser construído ou se basear em algum já existente, desde que contribua para com o processo de coleta de dados e venha ao encontro dos objetivos da pesquisa em questão. Além de sublinhar que deve ser constituído por perguntas ordenadas dentro de determinada série, o questionário é geralmente enviado pelo correio, do pesquisador ao informante. Obviamente, tal correspondência precisa contar com uma apresentação excelente e com instruções objetivas, bem como com uma carta de apresentação que solicita a participação do informante, deixando claro que o questionário em questão, após ser devidamente respondido, deve ser enviado ao pesquisador. É necessário frisar, segundo LAKATOS (1991), que os questionários enviados, por essa modalidade técnica de pesquisa, via correio, apresentam, em média, apenas 25% de retorno. Assim, se de um lado tal técnica de pesquisa apresenta vantagens, sobretudo porque, ao se enviar o questionário pelo correio, economizam-se tempo e dinheiro, e, além disso, obtém-se maior probabilidade de atingir um grande número de pessoas, de outro lado, como uma das desvantagens do referido procedimento técnico, destaca-se o baixo índice de retorno de questionários ao pesquisador. Teste: trata-se de instrumento de pesquisa que pode ser elaborado e usado para se obter dados quantitativos sobre determinado fator pesquisado (ANDRADE, 1995). Formulário: denota-se como um dos instrumentos principais da pesquisa que se caracteriza por obter informações dire-
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tamente do entrevistado. Colocando com outras palavras, o formulário “é o nome geral usado para designar uma coleção de questões que são perguntadas e anotadas por um entrevistador numa situação face a face com outra pessoa” (SELTIZ, apud LAKATOS, 1991, p. 212).
Como toda técnica de pesquisa, o formulário também apresenta vantagens e desvantagens. Assim, vejamos: Do ponto de vista das vantagens: a) pode ser utilizado junto de todo segmento da população, seja ela analfabeta ou não, pois é preenchido pelo pesquisador; b) conta com a presença do pesquisador, que assim pode explicitar os objetivos da investigação, clareando alguns pontos que podem estar obscuros, colaborando com o estabelecimento do rapport entre entrevistador e entrevistado; c) considerando que é o próprio pesquisador que vai anotar as respostas no formulário, há a possibilidade de reformulação de itens e uma maior flexibilidade, podendo, então, ajustar-se alguns itens, ou mesmo modificá-los, caso haja necessidade.
a) b) c) d)
Do ponto de vista das desvantagens: há a possibilidade de que dada a presença do entrevistador, o entrevistado tenha menos liberdade de responder; existem riscos de distorções, sobretudo pela influência do pesquisador; é um instrumento de maior demora, pois deve ser aplicado com uma pessoa de cada vez; existe também uma enorme possibilidade de aparecer a questão da insegurança nas respostas do entrevistado. Assim, sobretudo porque não há garantia de anonimato, tal fator poderá influir nas respostas, no sentido de que nem sempre essas respostas serão totalmente sinceras, etc. (LAKATOS, 1991).
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Mas, enfim, considerando que toda técnica de pesquisa tem seus prós e contras, como já foi comentado, então vantagens e desvantagens devem ser cuidadosamente pensadas pelo pesquisador, principalmente na fase de teste preliminar desse instrumento.
CAPITULO IV
A Questão da Bibliografia e da Referência Bibliográfica
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A
discussão de anotarmos devidamente os livros pesquisados durante o estudo sistematizado, o instante de como citar esses livros e diferentes autores dentro do corpo do texto da pesquisa, o ponto que diz sobre o como se faz adequadamente essas citações cujas fontes devem ficar no final do estudo e receber a denominação de referências bibliográficas, tais são as questões básicas de que trataremos agora. Assim, com vistas a tal objetivo, vamos dividir esse debate em duas partes: num primeiro momento, faremos uma discussão sobre a maneira de se fazer adequadamente referência às citações das obras pesquisadas, a qual poderá ser coletada através de livros correntes, revistas especializadas, artigos em jornais, sites de internet, entre outras fontes. Num segundo momento, promoveremos uma discussão centrada em torno da questão de como transcrever as citações no interior do texto propriamente dito, ou no corpo do trabalho que estamos escrevendo ou que já escrevemos como texto da pesquisa. Ressalte-se que tais sugestões podem ser aplicadas tanto em trabalhos de pesquisas, livros, teses, quanto em artigos, resenhas e em qualquer texto de cunho acadêmico. 4.1. Referências de livros correntes, revistas, jornais, etc. (1)
4.1.1. Referência em relação aos livros SOBRENOME DO AUTOR (maiúsculo), Prenome. Título do trabalho (sublinhado). (Escrever, quando for o caso, o subtítulo sem sublinhar). Cidade da edição (dois pontos): Nome da editora (vírgula), ano de publicação.
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Exemplos: SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. HERRMANN, Fábio. Psicanálise do quotidiano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1977. LUKÁCS, György. Socialismo e democratização. Escritos políticos (1956-1971. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
Obs. 1: No caso dos livros com diferentes edições, se o autor do trabalho desejar citá-las, deve proceder da mesma forma com todos os outros livros que se encontram nas referências bibliográficas e têm reedições. Nestes casos, as referências sobre os números específicos das edições deverão ficar logo após o título (e/ou subtítulo) da obra, do seguinte modo: CUNHA, Euclides da. Os sertões; campanha de canudos. 3. ed. São Paulo: Editora Abril, 1979. PIGNATARI, Décio. Semiótica & literatura. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1987. KONDER, Leandro. Marxismo e alienação. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
Obs. 2: Como se pode observar, toda vez que a referência mudar de linha, ela começará na linha seguinte, mas só que abaixo da palavra que está iniciando a citação, no caso, abaixo do início do “Sobrenome” da referência bibliográfica. Assim, vejamos: KLEMPERER, Victor. A linguagem do terceiro Reich. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.
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LESSA, Sergio. Para além de Marx: criticada teoria do trabalho imaterial. São Paulo: Xamã, 2005. ALVES, Rubem. A chegada e a despedida e o médico. In: REZENDE, Vera Lúcia, org. Reflexões sobre a vida e a morte. Campinas: Unicamp, 2000.
Obs. 3: Deve-se sublinhar, como se vê, apenas o título das obras, deixando sem sublinhar os subtítulos. Além dos exemplos, já citados acima, pode-se ilustrar com: FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas; uma arqueologia das ciências humanas. Lisboa: Edições 70, 1991. Coutinho, Carlos Nelson. Lukács, Proust e Kafka. Literatura e sociedade no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
Obs. 4: No caso de obras que ainda tendo um conteúdo de grande interesse, não apresentem o ano de publicação da edição. Nestes casos, então, a referência deverá colocar no lugar da data um “s/d”, da seguinte forma: DELEUZE, Gilles. Espinoza e os signos. Porto- Portugual: Rés, s/d. SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo: CultrixUSP, s/d.
Obs. 5: No caso de obra possuir mais de um volume, deve-se indicar, no fim, mediante a abreviatura ‘V.’, o número dos volumes, de outro lado, quando se quer citar especificamente o número do volume efetivamente utilizado, procede-se da seguinte maneira: ZWEIG, Stefan. Maria Antonieta. Obras completas. Rio de Janeiro: Ed. Delta, 1955. 9 V. DOSTOIÉVSKI, F.M. Um jogador. Obras completas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. V. 2
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Obs. 6: Quando há, de um lado, uma obra com vários volumes, mas se quer destacar somente um que tem título próprio, neste caso, este volume deve ser transcrito após a indicação do número dos volumes como segue: Barreto, Sergio. Direito comercial. 4 ed. Porto Alegre: Rio Grande, 1980. 8 v. v 3: Direito universal
Obs. 7: No caso de uma obra escrita por até 3 (três) autores faz-se a citação de todos eles na entrada, mas separando-se os nomes por “ponto e vírgula”. De outro lado, se a obra foi escrita por mais de três autores, ou escolhe-se um dos nomes mais famosos entre eles e acrescenta-se, logo a seguir, a expressão “et al” (abreviação de “et alii” = e outros) ou colocam-se até os três primeiros nomes acrescidos da mesma expressão citada. Vejamos o exemplo: PEREIRA, Mário, VINÍCIOS; José, CARREIROS, Pedro. Técnicas corporais. São Paulo: Editora X, 2000. FOUCAULT, Michel et al. Júlio Verne; uma literatura revolucionária. São Paulo: Editora Documentos, 1969. BELLOUR, Raymond; FOUCAULT, Michel; ROUDAUT, Jean et al. Júlio Verne; uma literatura revolucionária. São Paulo: Editora Documentos, 1969.
Obs. 8: No caso de citarmos um capítulo, o qual não só conste de obra coletiva, mas que também tenha organizador, procede-se como nos exemplos abaixo: SCHNAIDERMAN, Boris. Dostoiévski: a ficção como pensamento. In: NOVAES, Adauto, Org. Artepensamento. São Paulo: Companhia das letras, 1994. p.241-248. PELLEGRINO, Hélio. Édipo e paixão. In: NOVAES, Adauto, Org. Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das letras, 1987. p.307-327. RODRIGUES, Heliana de Barros Conde. Para um Foucault do ano 2100: ética, política e direitos da criança. In: COIMBRA Cecília Maria Bouças; AYRES, Lygia Santa Maria; NASCIMETO, Maria Livia do,
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orgs. Pivetes; encontros entre a psicologia e o judiciário. Curitiba: Juruá, 2008. P 123-130.
Obs. 9: Diante da situação em que o autor do artigo citado é o mesmo da obra, nestes casos, procede-se da seguinte maneira: CASSORLA, Roosevelt. As mortes por suicídio no Brasil. In: Do suicídio. Estudos brasileiros. Campinas: Papirus, 1991. p. 41-59. BASTOS, Rogério Lustosa. Psicologia social e subjetividade: entre a sociedade disciplinar e a de controle no capitalismo mundializado. In: Psicologia, microrrupturas e subjetividades. Rio de Janeiro: E-papers Editora, 2003. p. 87-109.
Obs. 10: No caso de obras cujos autores têm nos nomes partículas como FILHO, JÚNIOR, etc., a entrada se dá pelo último sobrenome seguido da partícula como nos exemplos seguintes: Mário da Silva Filho entra por: SILVA FILHO, Mário da. Júlia de Ferreira Jr. entra por: FERREIRA JR, Júlia de.
4.1.2. Referência de textos de revistas Citação de artigos em revista com autor: SOBRENOME, Prenome. Título do artigo. Nome da revista (sublinhado), Cidade da publicação, No do volume, No do fascículo, página (s): [inicial-final], mês. Ano de publicação. Suplemento, No especial (quando existir).
Exemplos: MAIA, Antônio. Sobre a analítica do poder de Foucault. Tempo social. Revista de Sociologia da USP, São Paulo, V. 7, no 1-2, p: 83-103, out. 1995. GUIRADO, Marlene. A teoria dos campos no campo da teoria. Ide. Revista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), São Paulo, no 24, p: 26-38, maio, 1994.
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Obs. Citação de artigos em revista sem autor: Aqui se começa pelo título do artigo, mas a primeira palavra do referido título deve ser escrita em letra maiúscula. Os outros elementos ficam como no caso anterior, “com autor”: Exemplo: MÉTODOS farmacêuticos em animais. Revista brasileira de animais domésticos. Rio de Janeiro: Associação de Animais domésticos, v 1, n 1, p: 12-13, jul/dez, 1990. Citação da própria revista como um todo
No que toca às referências de artigos em revistas, existem casos, os quais, tratando de um assunto particular ou apresentando-se como uma espécie de fascículo, “suplemento, número especial”, destacam-se como uma publicação que vale ser citada integralmente na referência. TÍTULO DA REVISTA (maiúscula). Título do fascículo, suplemento, etc. Cidade da edição (dois pontos): Editor, Volume (V) e Número (N) [separados por vírgulas], mês, ano (ponto). no total de páginas.
Exemplos: TEMPO SOCIAL – REVISTA DE SOCIOLOGIA DA USP. Foucault: um pensamento desconcertante. São Paulo: Departamento de sociologia da USP, V. 7, nos 1-2, Out. 1995. 247 p. REVISTA DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGENS. Michel Foucault: uma analítica da experiência. Lisboa: Departamento de Comunicação Social da Universidade de Lisboa/ Ed. Cosmo, V. 19, dez. 1993.
4.1.3. Referência de artigos de jornais SOBRENOME, Prenome. Título do artigo. Título do Jornal (sublinhado/ vírgula), Cidade de publicação (vírgula), data (dia, mês, ano/ ponto). Número ou título do caderno (vírgula), página do artigo (ponto).
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Exemplos: TOURAINE, Alain. Ecos da ausência do Estado. Sociedades exigem que o poder retome as funções de árbitro na solução de injustiças. Folha de São Paulo, São Paulo, 17 de Nov. de 1996. MAIS, p. 11. CONDE, Miguel. Tudo é poesia. Heloisa Buarque de Holanda lança antologia digital, prepara biografia e foge dos chatos. O Globo. Rio de Janeiro, 11/08/2009. Segundo Caderno, p. 1.
Obs.: Citação em artigo em jornais sem autor: Aqui se adota idêntico procedimento ao que foi usado para revistas “sem autor”: Exemplo: CORTE de Miami reduz pena de espião cubano ‘herói’ de Cuba. Folha de São Paulo, 14 out. 2009, Primeiro Caderno, p. 13.
4.1.4. Referências de Monografias, Dissertações, teses e demais trabalhos acadêmicos SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título. Local, ano. Tese, dissertação, monografia ou trabalho acadêmico (grau e área) – Unidade de ensino, Instituição.
Exemplos: SANTIAGO, Maria Cecília Leão. A manipulação da informação e a geração 68. Rio de Janeiro, 2008. Monografia de fim de curso de graduação de comunicação e jornalismo. Escola de Comunicação e Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). BARROS, R. B de. Grupo: afirmação de um simulacro. São Paulo, 1994. Tese de doutorado em Psicologia Clínica. Programa de PósGraduação em Psicologia Clínica da PUC/São Paulo. V 1 e V 2.
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4.2. Das referências das obras no corpo do texto da pesquisa
4.2.1. Regras gerais a) Toda e qualquer citação transcrita para o corpo do trabalho de pesquisa de forma ipsis-litteris, deve ser feita entre aspas, desde que a citação ocupe até três linhas. Exemplo: - Em outras palavras quer-se dizer que, “nada torna, nada repete, porque tudo é real” (PESSOA, 1986, p. 169). b) No caso de a citação ocupar mais de três linhas, dispensa-se as aspas, utilizando-se o seguinte destaque: alinhamento recuado a direita em relação ao empregado no texto; entrelinha menor do que a utilizada no texto. Exemplo: Tal perspectiva caminha ao encontro de alguns estudos sobre o capital, nos quais, entre outros, podemos destacar: em todo ofício que se apossa, a manufatura cria uma classe de trabalhadores sem qualquer destreza especial, os quais o artesanato punha totalmente de lado (MARX, 1988, p 401).
c) Deve-se indicar, como condição indispensável, os dados completos da fonte de consulta, de forma que ela possa ser identificada com exatidão. Observe-se ainda que essas indicações não precisam necessariamente vir após a própria citação; podem ser indicadas em notas de roda pé (obviamente de acordo com a ABNT), ou em uma lista no fim do texto, que é o mais freqüente. Seguindo isto, a citação no corpo do texto deve ser apresentada de forma abreviada, remetendo o leitor para as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. Esta é uma listagem em ordem alfabética situada como última seção do trabalho, onde o leitor encontrará a indicação
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completa das obras citadas. Vejamos, de acordo com a ABNT, o exemplo a seguir: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986.
4.2.2. Outras situações a) Tratando-se da mesma obra, depois que foi feita a primeira citação, a segunda citação poderá apresentar-se de forma abrevida, usando-se algumas abreviaturas latinas, desde que se tome o cuidado para que não haja possíveis confusões entre algumas citações intercaladas. As principais abreviaturas latinas são: 1- Opus citatum ou Op. cit = obra citada; 2- Ibidem ou ibid = na mesma obra; 3- Idem ou id = o mesmo autor (ZANDONADE, 1990, p 40).
Exemplos: - MARX (1988, p. 402) - MARX (Op. cit., p. 402) - MARX (Ibidem, p. 403) b) Na hipótese de ser necessário citar no texto um trecho que já é citação feita em outro trabalho, a citação da citação, deve obedecer à seguinte ordem: SOBRENOME DO AUTOR (do documento original) + a expressão latina “apud” + SOBRENOME DO AUTOR (da obra consultada), devendo esta última ter as suas indicações referidas na íntegra.
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Exemplo: RICHARD apud LANGER, 1989, p.219. c) Na hipótese de citar dados obtidos de fontes coletados em palestras, debates, comunicações científicas em congressos, etc., deve-se proceder citando o texto em questão e indicando, entre parêntese a expressão: “informação oral”. Exemplo: Em um congresso internacional de psicanalistas, do IPA, na década de 60, em uma época onde nem todos ainda tinham acesso ao texto das Obras completas de Freud (tal texto, à época, ainda não tinha sido traduzido e divulgado amplamente), ao escutar uma exposição de um caso, feito por um analista-orador, todos os presentes interromperam-no e o criticaram. Inclusive, alguns mais afoitos, chegaram ao disparate de sugerir que dado as intervenções fora de propósito da ilustração apresentada, aquele “autor desconhecido”, jamais teria condição de analisar alguém, quiçá de ser analista... E o mais curioso: ao final da exposição, ao ser revelado a identidade do autor do caso ilustrado, houve um espanto geral, ou seja, esse “desconhecido” era nada mais nada menos que o Dr. Sigmund Freud e o caso relatado em questão era “O homem dos ratos” (HERRMANN, Grupo de Estudo, 1995, Informação oral).
d) Na hipótese de ser preciso citar um material coletado em fontes que ainda não estão publicadas, em tal situação, além de se indicar os dados bibliográficos correntes, no final escreve-se: “em fase de elaboração”; “Xerox” ou “no prelo”, quando for o caso. Exemplo: [“citação do texto em questão....] In: Souza, Gabriel. As regras do método político. São Paulo: Editora X, no prelo.
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4.3. Referências quanto às entrevistas
4.3.1. Entrevistas publicadas SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Titulo da entrevista. Órgão de publicação. Cidade, no, data (dia mês ano/ quando houver). Palavra “Entrevista”.
Exemplo: FILHO, Alberto Venâncio. Euclides para os íntimos. História: revista da biblioteca nacional. Rio de Janeiro, no4 (ano 4), agosto de 2009. Entrevista.
4.3.2. Entrevistas não publicadas SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Entrevista concedida pelo autor em questão sobre o assunto “X”. Cidade, data.
Exemplo: XAVIER, Chico. Entrevista concedida pelo mediu Xavier acerca da literatura e do espiritismo no Brasil. Uberaba/MG, 1988.
4.4. Referências quanto aos filmes Título (maiúscula). Nome do diretor. Local (maiúscula): Produtora: Distribuidora, data. Sistema de gravação (maiúscula).
Exemplos: PIXOTE: A LEI DO MAIS FORTE. Hector Babenco. BRASIL: HB filmes: Europa filmes, 1981. DVD.
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4.5. Referências quanto aos documentos eletrônicos/internet em geral
4.5.1. Citações de Disquetes AUTOR do arquivo. Título do arquivo. Extensão do arquivo (se houver). Local, data. Características físicas. Tipo de suporte. Notas (se houver).
Exemplo: PEREIRA, Márcia. Filosofia marxista.doc. Rio de Janeiro, 14 outubro de 2009. 1 arquivo (405 bytes). 1 disquete, 3 ½ pol. Word for Windows 6.0
4.5.2. Citações de CD-ROM AUTOR/ GRUPOS/INSTITUIÇOES DE AUTORIA. Título do trabalho (sublinhado ou negrito). Cidade: editora, número, ano. CD-ROM.
Exemplos: FREITAS, Mário. Obras completas. Brasília: Editora Y, no12, 2000. CD-ROM. IBICT. Bases de dados em ciência e tecnologia. Brasília: IBICT, no 3, 2006. CD-ROM.
Obs. Citação de partes de documentos: Escreve-se o nome do autor (da parte) e o título do trabalho (da parte) citada do documento, o restante da citação segue como a anterior. Exemplo: LIMA, Maria. Questões da citação na internet. In: IBICT. Bases de dados em ciência e tecnologia. Brasília: IBICT, no 3, 2006. CDROM.
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4.5.3. Citações de E-MAIL Diante de mundo no qual a tecnologia vem avançando em grande velocidade e diariamente, assim, entre outras fontes, pode-se colher dados para o nosso objeto de pesquisa através do correio eletrônico. Considerando isto, vejamos abaixo como citá-las. AUTOR DA MENSAGEM. Endereço do remetente. Assunto da mensagem. Dia, mês e ano. E-mail para: nome do destinatário. Endereço do destinatário. Dia do recebimento
Exemplo: MARQUES, M.
[email protected] Educação e MST. 10. 15 outubro 2009. Mensagem para:
[email protected] Em 14 maio 2009.
4.5.4. Citações de Lista de Discussões AUTOR. Titulo (assunto). Disponível em: (endereço da lista). Acesso em: data do acesso.
Exemplo: MEYER, Lúcia. O pensamento evangélico e a ética do lucro. Disponível em:
[email protected] Acesso em 20 setembro 2009.
4.5.5. Citações de Monografias / documentos como um todo (ON-LINE) AUTOR. Título. Local (cidade): editora, data. Disponível na Internet. Endereço. Data de acesso
Exemplos: INSTITUIÇÃO Y. Código de condutas da Instituição Y. Disponível em: HTTP://www.insituicaoY.com/codigo/manual.html Acesso em: 20 maio de 2008. CARVALHO, Ivi. O debate do Serviço Social e o partido do mercado. Disponível em: www.ess.ufrj/monografias/debate_mundializado/html. Acesso em: 9 julho 2009.
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4.5.6. Citações de Periódicos no todo (ON LINE) TÍTULO DA PUBLICAÇÃO. Cidade (quando houver): Editora, vol., n.º, mês, ano. Disponível em <endereço>. Acesso em: data de acesso.
Exemplo PRAIA VERMELHA: REVISTA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ. Rio de Janeiro, vol 18, no 2 (2008): Cultura política e revolução. Disponível em: http://web.intranet.ess.ufrj. br/ejornal/index.php/praiavermalha Acesso em: 16 de outubro 2009.
Obs. Citação de um ARTIGO da publicação do Periódico ONLINE Procede-se da seguinte forma: AUTOR. Título do artigo. Os demais componentes seguem como a “citação do periódico como um todo (ON-LINE)”. Exemplo: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Ponto de vista: descobertas, sonhos e desastres nos anos 60. PRAIA VERMELHA: REVISTA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ. Rio de Janeiro, vol 18, no 2 (2008): Cultura política e revolução. Disponível em: http://web.intranet.ess.ufrj.br/ejornal/index.php/praiavermalha Acesso em: 16 de outubro 2009.
4.5.7. Citações de artigos de Jornais (ON-LINE) AUTOR. Título do artigo. Título do jornal. Data. Disponível em: <endereço>. Acesso em: data de acesso.
Exemplo: ALENCAR, Kennedy, Chile opta por modelo nipo-brasileiro da TV digital. Folha ON-LINE. 14 novembro 2009. Disponível em: http:// www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/brasiliaonline/ult2307u623628. shtml. Acesso em 16 Outubro 2009.
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4.5.8. Citações de “sites www” AUTOR. Título. Disponível em: <endereço>. Acesso em: data de acesso.
Exemplo ANDRADE, Claudia. Para relator da ONU, há tentativa de tirar credibilidade do MST no Brasil. Disponível em: http://noticias.uol. com.br/ultnot/internacional/2009/10/16/ult1859u1698.jhtm. Acesso em 19 outubro 2009.
CAPITULO V
Etapas e Estruturação do Projeto de Pesquisa
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5.1. Etapas da Pesquisa Desenvolver uma pesquisa, antes de tudo, é percorrer uma série de passos básicos que são constituídos de questões sistematizadas e racionais. Assim, nunca é demais lembrar que tais passos devem ser planejados e realizados por etapas (1). De acordo com a literatura em questão, ainda que os autores em geral concordem que há a necessidade do planejamento e do estabelecimento de etapas básicas para serem seguidas, cada um deles defende um número próprio dessas etapas. Vejamos, então, algumas ilustrações: LAKATOS (1991, p.155), por exemplo, propõe que as seguintes etapas básicas da investigação científica: 1- Seleção do tópico ou problema para a investigação; 2- Definição e diferenciação do problema; 3- Levantamento de hipótese de trabalho; 4- Coleta, sistematização e classificação dos dados; 5- Análise e interpretação dos dados; 6- Relatório do resultado da pesquisa. SALVADOR (1977, p. 43), de outro lado, sugere o desenvolvimento em questão em três fases: 1- Escolha de um tema; 2- Formulação de problemas; 3- Elaboração de um plano. No presente trabalho, adotamos o ponto de vista de QUIVY (1992), segundo o qual uma pesquisa deve ser desenvolvida através das seguintes três fases básicas: 1- Ruptura com o senso comum;
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2- Construção do modelo de análise; 3- Verificação e/ou demonstração (ver capítulo 1, especialmente a Figura 1 e o capítulo 2, notadamente a seção “2.1”). O que tal fato implica? Além do que já foi colocada nos capítulos referidos, implica que para se fazer uma pesquisa é fundamental compreender três pontos básicos, que podem ser vistos a partir do esquema abaixo. Quadro do esquema da pesquisa 1- elaboração do planejamento prévio: fase que, além da elaboração do citado planejamento prévio ou do anteprojeto, está basicamente relacionada ao instante em que deve ser feita uma ruptura com o senso comum (Ver capítulo 1); 2 – elaboração do planejamento propriamente dito ou “construção do modelo de análise”: esta fase contempla a discussão de uma série de pontos, nos quais apontam para os fundamentos que podem delinear o projeto de pesquisa. Tais fundamentos, como se vê, já foram desenvolvidos no presente livro (Vide Cap 2; Cap 3 e Cap 4); 3- execução, verificação e/ou demonstração: etapa que não só precisa passar pela discussão de todos os pontos discutidos nos capítulos anteriores, como também necessita principalmente da elaboração do projeto de pesquisa. Por quê? Ora, a execução de uma pesquisa requer, antes de tudo, um planejamento sistematizado. Para tanto, nada melhor que a escrita de um projeto que aponte basicamente para uma proposta de execução. Tal proposta deverá conter, entre outros fatos importantes, o método, as principais técnicas e outros procedimentos, os quais, em síntese, estarão se expressando dentro da “língua” da comunidade dos pesquisadores.
A partir de tais esclarecimentos, na próxima parte desenvolverse-á discussão acerca da estrutura e da elaboração do projeto de pesquisa. Espera-se que essa discussão fique suficientemente clara, principalmente para que, ao partirmos para a execução da pesquisa, tenhamos maior probabilidade de êxito.
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5.2. Estruturação do Projeto Desde que se tenha em vista uma pesquisa qualquer, deve-se pensar antes de tudo em elaborar um projeto que possa garantir sua viabilidade (...). O projeto faz a previsão e a provisão dos recursos necessários para atingir o objetivo proposto de solucionar um problema e estabelece a ordem e a natureza das diversas tarefas a serem executadas dentro de um cronograma a ser observado. (...) Tudo deve ser estudado e planejado, a fim de que as fases da pesquisa se processem normalmente, sem riscos de surpresas desagradáveis. O projeto de pesquisa é, muitas vezes, a garantia de êxito. (...) Evidentemente, o projeto de pesquisa pode ser modificado, adaptando-se às novas exigências. Assim, será sempre motivo de tranqüilidade para o pesquisador, além de testemunhar seu espírito sistemático e sua força de vontade. (...) Todo pesquisador deve desenvolver a capacidade de elaborar projetos de pesquisa, pelo menos para atender a seus interesses pessoais ou do grupo em que está inserido. As instituições financeiras de projetos, tanto públicas como privadas, possuem geralmente um roteiro próprio com instruções específicas para montagem do projeto. O interessado deve então submeter-se àquele modelo (CERVO, 1983, p. 62-65)
A execução de um projeto requer principalmente, como se observa, que se faça um planejamento, que é, no dizer de GIL (1995, p 22), uma espécie de documento “explicitador das ações a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa”. Partindo do pressuposto de que já temos um problema formulado, de que já tenhamos percorrido as etapas iniciais da pesquisa, de que já tenhamos adquirido um suficiente conhecimento dos pontos fundamentais da pesquisa e estejamos na fase da elaboração do projeto, qual é ou quais são os passos seguintes? Em primeiro lugar, deve-se lembrar que frente a diversidade das pesquisas, é impossível que haja apenas um modelo cristalizado para todos os tipos; contudo, ainda assim, pode-se discutir um esquema geral que contenha uma série de tópicos que se destacam
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habitualmente nos projetos, os quais são os seguintes: apresentação; objetivos; justificativa; revisão da literatura em questão; questão de estudo; metodologia; cronograma; orçamento; anexos e/ou notas (se for o caso); referências bibliográficas. 5.2.1. Apresentação Será discutida aqui a apresentação quanto aos caracteres gerais do trabalho e quanto ao corpo do texto. Apresentação quanto aos caracteres gerais do trabalho
A apresentação dos caracteres gerais do trabalho consta dos seguintes pontos: folha de rosto; identificação do trabalho. A folha de rosto e todas as outras folhas subseqüentes do texto da pesquisa seguem um padrão básico: devem ser do tamanho ofício (de 31,5 cm por 21, 5cm). Pede-se que se escreva com a letra “arial” ou “times new roman”, número 12. As páginas devem ser digitadas em espaço dois e precisam também apresentar as seguintes margens: Margem superior: 3 cm Margem inferior: 2 cm Margem direita: 2 cm Margem esquerda: 3 cm Estas distâncias (devem ser) constantes ao longo do trabalho. (LAKATOS, op. cit., p.137) Vale sublinhar também que, em hipótese alguma, deve-se usar de qualquer artifício que mude as medidas da margem direita, seja colocando algum sinal, barras ou travessões. Afora tais recomendações, ressalte-se que a capa do trabalho de pesquisa deve apresentar os seguintes elementos: Nome completo da instituição em que foi defendido o trabalho [no alto da página, centrado]; Nome completo do autor do trabalho (mais ou menos centralizado)
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Título e possível subtítulo do trabalho [no centro da página/ logo abaixo do nome do autor]; Nome da cidade e o ano [embaixo da página, no centro]. Para maiores esclarecimentos sobre os pontos acima, sugere-se que se observe a Figura 4. No caso de trabalhos de pesquisa confeccionados como dissertações de mestrado ou doutorado, a folha de rosto (página 2 do trabalho) deverá apresentar os seguintes dados: Nome completo do autor [acima, centrado no alto da página]; Título completo do trabalho [centrado no meio da página]; Um pouco abaixo, à direita, coloca-se o nome da instituição e para que se destina academicamente o referido trabalho; Nome da cidade e ano, [centralizados, embaixo]. Para que também não pairem dúvidas, sugere-se que se observe a Figura 5. Em síntese, a apresentação, quanto aos caracteres gerais do trabalho, consta de: Capa e folha de rosto (com as medidas já recomendadas); Itens básicos de apresentação do trabalho na capa e na folha de rosto (conforme já indicado); Página de aprovação, no caso de mestrado e doutorado, para que conste o nome da banca examinadora (Ver Figura 6); Página de dedicatória, que é opcional (Ver Figura 7); Página para epigrafe (opcional) Resumo (2) Página de agradecimentos (também opcional); Sumário (Ver Figura 8).
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Figura 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
NOME DO AUTOR TÍTULO DA TESE OU DA DISSERTAÇAO/ MONOGRAFIA
Cidade Ano
Apresentação quanto ao corpo do texto
Nesta parte, devem constar os seguintes itens: introdução; desenvolvimento, conclusão (ões). Introdução : em tese, ela deve abordar sinteticamente: a apresentação da idéia geral do trabalho (a apresentação do objeto); seus objetivos (principalmente do ponto de vista acadêmico);qual ou quais contribuições que o trabalho pode trazer especificamente para aquela área de conhecimento, justificando assim a pesquisa que está sendo feita. Além disso, entre outros pontos de destaque na introdução, é importante relatar não só qual foi a metodologia e as técnicas principais empregadas no trabalho, assim como qual ou quais foram as teorias ou a teoria de apoio para que se tenha discutido e analisado aquele estudo sobre uma particularidade do dito real. Ressalte-se também que a introdução deve ser redigida no final do trabalho.
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Desenvolvimento do trabalho: trata-se do espaço através do qual se deve falar da “fundamentação lógica do trabalho, cuja finalidade é expor e demonstrar suas principais idéias. É subdivido em partes, capítulos, itens e subitens, cada um deles numerado progressivamente” (LAKATOS, 1992, p 140). Tais itens e subitens podem variar de um trabalho para o outro e dificilmente poderão ser vistos sempre da mesma forma. Assim, a título de sugestão, além da questão da apresentação e/ou introdução que agora desenvolvemos, vamos debatê-los adiante através dos seguintes tópicos: objetivos; justificativa; revisão da literatura; metodologia; etc. Conclusão: refere-se a uma das partes de suma importância para o relatório final ou para o texto definitivo da pesquisa, o qual só deve ser escrito após a realização de todas as etapas desse trabalho investigativo. Consiste no “resumo completo, mas sintetizado, da argumentação desenvolvida na parte anterior, com recomendações e sugestões para se atuar sobre os fenômenos estudados e/ou prosseguir nos estudos” (LAKATOS, op. cit., p. 140). Um parêntese: quando estivermos escrevendo o ante-projeto ou o projeto de pesquisa, os quais tratam de propostas de investigações que ainda serão aplicadas, escreveremos esses textos sem a conclusão. Esta, como se vê, só constará no sumário e será escrita quando estivemos com a pesquisa pronta, ou seja, quando já tivermos realizado todos os passos básicos de concretização da investigação que será apresentada como a nossa monografia, a nossa dissertação ou tese de doutorado. 5.2.2. Objetivos Todo trabalho de pesquisa deve delinear com clareza seu (s) objetivo (s). Em outros termos, deve sublinhar para o leitor o que se vai estudar e aonde se pretende chegar. Em outras palavras, para LAKATOS, discorrer sobre os objetivos de um trabalho sistematizado é responder, sobretudo para os leitores, as seguintes
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perguntas: POR QUÊ? PARA QUÊ? PARA QUEM? (LAKATOS, 1991). Figura 5 NOME DO AUTOR
TÍTULO E SUBTÍTULO DO TRABALHO (Se houver subtítulo)
Tese apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em “X” da UFRJ, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor na área X, sob a orientação do Prof. Dr. Fulano de tal.
Rio de Janeiro 2009
CERVO (1983), por seu turno, ainda sobre a questão do objetivo, acentua que pensar tal questão é explicitar, “muitas vezes, a natureza do trabalho, o tipo do problema a ser selecionado, o material a coletar, etc.” Particularmente com relação à natureza, os objetivos variam enormemente. Podem ser abrangentes, específicos, mais imediatos ou mais de longo prazo. Isto sem contar que podem também ser intrínsecos – “quando se referem a problemas que se quer resolver” a partir da própria formulação de estudo; ou extrínsecos – quando dizem do “dever de aula, (...) dos trabalhos finais dos cursos de formação, da resolução de problemas pessoais, etc. (CERVO, op. cit, p.76).
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Figura 6. Página de Aprovação NOME DO AUTOR TÍTULO DO TRABALHO Tese apresentada como pré-requisito para obtenção do título de doutor no Programa de Pós-Gradução na área X, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, submetida à banca examinadora, composta pelos seguintes membros:
_______________ Prof. Dr (orientador) ________________ Prof. Dr. _______________ Prof. Dr. _______________ Prof. Dr. ______________ Prof. Dr. Rio de Janeiro..., (mês) de 2009
Figura 7. Página de dedicatória
Ao Hélio Pellegrino com gratidão e saudade (Opcional)
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5.2.3.Justificativa É a parte do trabalho onde se debate à questão do porquê do tema escolhido, sublinhando-se o grau de importância dele, os estudos existentes na área e as principais contribuições que a realização da pesquisa poderá trazer. Além disso, aqui “pode-se também”, se for o caso, “elaborar um histórico sucinto do problema, para demostrar o estágio de desenvolvimento do assunto”, valendose para tanto “do material levantado na pesquisa bibliográfica” (ANDRADE, 1933, p. 136). Vale dizer ainda que a justificativa difere da revisão bibliográfica e, por este motivo, não apresenta citações de outros autores. Difere, também, da teoria de base, que vai servir de elemento unificador entre o concreto da pesquisa e o conhecimento teórico da ciência na qual se insere. Portanto, quando se trata de analisar as razões de ordem teórica ou se referir ao estágio de desenvolvimento da teoria, não se pretende explicitar o referencial teórico que se irá adotar, mas apenas ressaltar a importância da pesquisa no campo da teoria. (...) Deduz-se, dessas características, que ao conhecimento científico do pesquisador soma-se boa parte de criatividade e capacidade para convencer, para a redação da justificativa (LAKATOS, 1991, p. 219-130).
Como último elemento sobre o assunto em discussão, ressaltese também que a justificativa deve ser comunicada de forma clara e simples. Um dos problemas mais contraproducentes aqui são os textos de justificativas que se apresentam da seguinte maneira: “justificamos o estudo do tema ‘X’ por ser muito complexo, interessante, etc.”. Ora, qual é o estudo sistematizado que não traz seu grau de complexidade? Inclusive, se não o houvesse, talvez nem fosse o caso de se estar propondo o desenvolvimento de uma pesquisa.
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Figura 8
SUMÁRIO INTRODUÇÃO. MÉTODOLOGIA CAPÍTULO 1- TÍTULO CAPÍTULO 2 – TÍTULO CAPÍTULO 3- TÍTULO RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES (opcional) CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS (opcional) APÊNDICES (opcional)
5.2.4.Revisão da literatura em questão Visa basicamente situar o leitor em termos do estado da questão de investigação, relacionando-a aos estudos publicados e à(s) teoria(s) existente(s) que falam não só de nossa escolha no corte feito teoricamente para o estudo, como também do lugar que optamos para dialogar e interpretar os dados levantados. Tal situação, em síntese, vem à tona através de um estudo bibliográfico, que não só dá um panorama geral sobre a questão de estudo em determinada área de conhecimento, como também fornece elementos imprescindíveis para sua fundamentação teórica. Esta, por sua vez, “consiste em explicitar os conceitos fundamentais que serão utilizados para proceder-se à análise, bem como as categorias e os pressupostos teóricos que balizarão todo o desenvolvimento da pesquisa” (INÁCIO FILHO, 1994, p. 49). Em outras palavras, A revisão da literatura tem por finalidade colocar o leitor a par do estado da questão, referindo-se aos estudos publicados a respeito do assunto (....). Não se trata de apresentar a história completa do assunto (...), mas também não se deve limitá-lo apenas à enunciação
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das obras. Apresentam-se as obras principais, aquelas que constituem marcos no conhecimento específico da área, acrescentando uma ligeira análise de apreciação sucinta de cada obra referida (ANDRADE, 1995, p. 96).
Note-se que, embora existam, de um lado, alguns autores, entre eles, CERVO (1983), que discutem separadamente a questão da revisão bibliográfica e a do embasamento teórico, de outro, há outros, tais como LAKATOS (1992), que tratam essa questão dentro de um mesmo ponto. Este último autor, por exemplo, desenvolve o referido ponto na elaboração do projeto a partir de um único tópico, que se denomina o “Embasamento teórico”. Tal embasamento, por sua vez, compreende os seguintes fatores: a “teoria de base” – que fala principalmente da escolha de uma teoria de apoio, visando o exercício de um caráter interpretativo junto aos dados obtidos e levantados – e a “revisão bibliográfica”. Como já discutimos a questão da revisão bibliográfica, vale a pena reproduzir um trecho acerca da teoria de base: “Todo projeto de pesquisa deve conter as premissas ou pressupostos teóricos sobre os quais o pesquisador (o coordenador e os principais elementos de sua equipe) fundamentará sua interpretação”. Por exemplo, pensemos na situação hipotética onde se quer pesquisar as atitudes individuais e grupais, subordinadas e correlacionadas na organização de empresa, objetivando discutir a questão de “chefia” e “liderança”, com menos ou mais eficiência na organização de um determinado estabelecimento. Ora, “uma das possíveis teorias que se aplicam a atitudes dos componentes da empresa é a do tipo ideal de autoridade legítima, descrita por Weber” (LAKATOS, op.cit, p.110).
5.2.5. Questão de estudo O problema científico ou a questão de estudo, como já se viu, é uma indagação que envolve intrinsecamente uma dificuldade, não só do ponto de vista teórico e prático, como também sugere
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uma discussão que aponte para a possibilidade de mensuração e solução viável em termos de um estudo sistematizado. A questão de estudo ou o problema, em tese, está para a pesquisa em ciências humanas assim como a questão da hipótese está para as pesquisas de caráter experimental. Além de sinalizar que, de acordo com GIL (1991), a questão da hipótese no método experimental é uma decorrência do problema, convém dizer que, sem o problema formulado adequadamente ou sem a hipótese de estudo, dificilmente se desenvolve uma investigação acadêmica. Ou seja, Uma vez formulado o problema, as etapas seguintes, nas fases da pesquisa, devem ser previstas a fim de que se tenha certeza da viabilidade da mesma através das técnicas existentes. Elabora-se, pois, um plano provisório do assunto. Este servirá de guia, embora venha a adaptar-se posteriormente, à marcha da pesquisa, modificando-se ou transformando-se em razão dos resultados parciais ou definitivos (CERVO, 1983, p.78).
Mas, tratando da questão de estudo ou da formulação do problema, para evitarmos o argumento circular, remetemos o leitor para a leitura dos capítulos 1 e 2, notadamente recomendando atenção para as partes que tratam do problema científico. 5.2.6. Metodologia Considerando que a metodologia é um dos itens de maior importância no projeto, tendo em conta que, sobretudo devido a tal fato, já a discutimos num capítulo à parte, remetemos o leitor para o mesmo (Ver capítulo 3, deste livro). 5.2.7. Cronograma O cronograma, em primeiro lugar, sobretudo do ponto de vista de Lakatos (1991), se propõe a debater a indagação do “QUANDO”. Em segundo lugar, pode ser concebido também como uma das partes da pesquisa que precisa destacar e relacionar,
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preferencialmente num quadro gráfico, as atividades básicas da pesquisa com suas várias etapas ou fases, ou seja, independente de apresentar um número diferente de atividades e etapas, ele necessita demarcar claramente “a previsão de tempo necessário para passar de uma fase para outra” (GIL, 1991, p.138). Além disso, sobre o desenvolvimento do cronograma há duas questões importantes: em primeiro lugar, não se pode esquecer de que há, em algumas pesquisas, a necessidade de se desenvolver etapas simultâneas, as quais também devem ficar indicadas; em segundo lugar, sobretudo considerando estudos interpretativos, cujas fases dependem da realização de outras, também não devemos esquecer-nos de especificar tal detalhe. 5.2.8. Orçamento O orçamento trata de discutir a questão dos custos e da situação financeira do projeto, visando, sobretudo, sua concretização. Para LAKATOS (1991), ele responde a indagação COM QUANTO. Assim, vejamos: O orçamento distribui os gastos por vários itens, que devem necessariamente ser separados. Inclui: PESSOAL: do coordenador aos pesquisadores de campo, todos os elementos devem ter computados os seus ganhos, quer globais, mensais, semanais ou por hora/atividade, incluindo os programadores de computador; MATERIAL, subdivido em: - elementos consumidos no processo de realização da pesquisa, como papel, canetas, lápis, cartões ou plaquetas de identificação dos pesquisadores de campo, hora/computador, datilografia, xerox, encadernação, etc.; - elementos permanentes, cuja posse pode retornar à entidade financiadora, ou serem alugados, como máquinas de escrever, calculadoras, etc. (LAKATOS, op. cit, p.226).
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5.2.9. Notas e/ou anexos As notas, bem como os anexos, são partes do trabalho de pesquisa que não devem necessariamente constar em todos os trabalhos, aparecendo com os diferentes tipos de trabalhos e de investigação. As notas são uma espécie de complementação necessária ao texto principal. Em tese, funcionam como apoio à idéia central, que não só podem ajudar na compreensão e clareza dessa idéia, como também podem destacar-se como um tipo de argumentação imprescindível, ainda que secundária. Sublinhamos o caráter secundário de tal argumento, porque, em caso contrário, obviamente recomenda-se que a nota passe a fazer parte do texto, figurando assim no argumento principal. Ressalte-se ainda que, elas podem aparecer no projeto de pesquisa no fim do texto – forma mais usual- ou na situação de nota de rodapé. Os anexos, de outro lado, são basicamente constituídos de contribuições esclarecedores de autores diversos, os quais podem enriquecer o assunto de pesquisa. Contudo, recomenda-se que os anexos não só tragam a devida citação das fontes mas procurem se restringir exclusivamente ao que for necessário à compreensão da investigação em questão (LAKATOS, 1991). 5.2.10. Referências bibliográficas Por tratar-se também de uma das partes de suma importância para o desenvolvimento e a escrita do projeto, a qual nos dá garantia de respeitar o direito autoral de outros pesquisadores e fornece uma indicação segura para que os interessados possam buscar novas fontes de estudo, sugerimos que o leitor veja o capítulo 4. Mas, além disso, como observação geral sobre o assunto, pode-se dizer que a bibliografia final, “apresentada no projeto de pesquisa, abrange os livros, artigos, publicações e documentos utilizados, nas diferentes fases: – metodologia da pesquisa; – instrumental teórico; – revisão bibliográfica” (LAKATOS, op. cit, p. 227).
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Notas
Capítulo 1: (1) Tal trecho foi inspirado, sobretudo, na leitura da obra de QUIVY (1992). (2) In: BACHELARD, Gaston. La formation de l’esprit scientifique, p 14. (3) Ressalte-se que gestar um processo de pesquisa, produzindo uma série de procedimentos que façam um corte com o senso comum, não quer dizer que se tenha menosprezo por esse senso comum ou mesmo por qualquer tipo de conhecimento que está menos ou mais instituído. Na realidade, em síntese, para compreender tal fato, é necessário entender que longe de dicotomizar a questão da práxis versus teoria, da realidade dita objetiva versus da realidade dita subjetiva e mesmo do conhecimento instituído versus do conhecimento instituinte, esses e outros eventos se apresentam processualmente no desenvolvimento da pesquisa, e se criam principalmente numa interação crítica e dialética. Ainda sobre a ruptura que se faz para produzir uma pesquisa, fora dessas dicotomias simplistas, vale ilustrar com um trecho: “A realidade concreta é algo mais que fatos ou dados tomados mais ou menos em si mesmos. Ela é todos esses fatos e todos esses dados e mais a percepção que deles esteja tendo a população neles envolvidos. Assim, a realidade concreta se dá a mim na relação dialética entre objetividade e subjetividade” (FREIRE, 1985, P 35). (4) Ainda sobre o quadro de Quivy, há alguns pontos a ressaltar: A- Embora apareçam 3 fases e 7 etapas básicas de forma aparentemente independente, na realidade, tais fatores têm uma relação estreita e não possuem um caráter estanque. Ao contrário, tais etapas, além de estarem dessa maneira como mero recurso didático, elas têm uma ordem seqüêncial entre si, ou seja, parte-se da “etapa 1” à “etapa 2”, até atingir-se sucessivamente à última etapa do processo; B- No que toca ainda ao citado quadro de Quivy, aqui ele é apresentado com uma pequena diferença, ou seja, especificamente falando, na etapa 2 (situada na fase de ruptura = 1a fase), além da visita aos especialistas, o autor citado sugere que se faça, sempre que possível, algumas entrevistas com o objeto de estudo. Tal sugestão pode ser justificada quando se pensa, de um lado, em se realizar uma pesquisa de levantamento com um número significativo de uma população. Neste caso, como planejamento prévio talvez caiba algumas entrevistas exploratórias com um número reduzido desse universo. Contudo, diante da hipótese de se trabalhar com alguns Estudos de Caso, sobretudo com um universo bem reduzido, de outro lado, nem sempre tal procedimento se aplica. (5) De certa forma, ainda que apresentando outras preocupações, há aqui certa proximidade entre o pensamento complexo de Morin e a perspectiva de Thomas Kuhn. Este último, por exemplo, defende que a ciência se produz por paradigmas que falam de fatores que não se restringem exclusivamente ao método científico clássico (KUHN, 1996).
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(6) O termo dialógico, como o próprio Morin defende, quer dizer “que duas lógicas, dois princípios, estão unidos sem que a dualidade se perca nessa unidade: daí vem a idéia de “unidualidade” que propus para certos casos; desse modo, o homem é um ser unidual, totalmente biológico e totalmente cultural a um só tempo” (MORIN, 1996, p 189).
Capítulo 2: (1) Diante da formulação de um problema, não se pode esquecer de que necessitamos de definir claramente os termos que nele estão implicados. Quanto ao problema em questão, além de sinalizar que os termos principais são a poética e a psicanálise, ressalte-se que esses fatores podem ser definidos, entre outras possibilidades, no texto de BASTOS (1996). Com relação aos termos secundários, ou seja, quanto ao “dispositivo deleuzeano” (que está fundamentalmente relacionado ao termo “intercessor” do ponto de vista de Deleuze) e também as conceituações quanto ao “modo de vida consensual ou vigente” e “modo de vida diverso a tal fato”, eles podem ser definidos ou no texto já referido ou então a partir da seguinte obra: DELEUZE (1993). (2) Com relação à fonte primária dos textos de Freud, a título ainda de ilustração, recomendamos o trabalho de GRUBRICH-SIMITIS (1995). (3) Ainda sobre o levantamento bibliográfico preliminar, que se relaciona principalmente com o Capítulo 1 (Ruptura com o senso comum), nunca é demais lembrar que se trata de um momento de suma importância em todo processo de pesquisa. Pesquisadores mais afoitos que o pulam, abrem mão de um dos recursos vitais em prol do objeto. Tal atitude, na realidade, pode pôr em xeque a própria pesquisa, notadamente no que tange a delimitação e o aprimoramento da problemática. Para os que, afoitamente desconsideram ainda tal fato, vale observar: “Note-se que para delimitar um tema, é indispensável conhecer, pelo menos, genericamente o assunto. Por isso, fica mais fácil delimitar o tema após algumas leituras exploratórias” (ANDRADE, 1993, p 64).
Capítulo 3: (1) Quanto ao horizonte múltiplo da classificação das pesquisas, DEMO diz que há no mínimo quatro tipos e pesquisas. Tais tipos, que se intercomunicam entre si, são: “1Pesquisa teórica: dedicada a estudar teorias; 2- Pesquisa metodológica: que se ocupa dos modos de se fazer ciência; 3- Pesquisa empírica: dedicada a codificar a face mensurável da realidade social; 4- Pesquisa prática ou pesquisa-ação: voltada para intervir na realidade social” (In: ANDRADE, 1995, p 14; DEMO, 1989, p 13). (2) A título de ilustração, destaque-se ainda que o princípio dialético de qualidade é uma mudança de estado, a qual, em resumo, pode ser problematizada da seguinte forma: “A água líquida torna-se vapor d’água ou, também, a água líquida torna-se água sólida (gelo). O ovo torna-se pinto. O botão torna-se flor. O ser vivo, ao morrer, torna-se cadáver” (POLITZER, 1970, p 58)
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(3) Ainda sobre o desenvolvimento da questão da metodologia, vale destacar: ela “é importante quando se analisa o quadro de referência utilizado”, o qual é dado pelo autor de determinada investigação. Tal quadro, “pode ser compreendido como uma totalidade que abrange dada teoria e a metodologia específica dessa teoria. Teoria, aqui, é considerada toda generalização relativa a fenômenos físicos ou sociais, estabelecida com o rigor científico necessário para que possa servir de base segura à interpretação da realidade; metodologia, por sua vez, engloba métodos de abordagem e de procedimento e técnicas. Assim, a teoria do materialismo histórico, o Método de abordagem dialético, os métodos de procedimento histórico e comparativo, juntamente com técnicas específicas de coletas de dados, formam o quadro de referência marxista” (LAKATOS, 1991, p. 112).
Capítulo 4: (1) Neste livro, as referências bibliográficas e as citações das obras foram escritas a partir das Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Isto sem contar que também nos inspiramos em leituras de diferentes obras. Dentre elas, destacamos: LAKATOS (1992); ANDRADE (1995) e ZANDONADE (1990). Porém, aqui, queremos fazer especial agradecimento ao texto de ZANDONADE, o qual, ao fornecer-me gentilmente um livro de sua autoria, incentivou bastante nosso trabalho.
Capítulo 5: (1) Embora tal estudo tenha sido concretizado a partir da leitura de vários livros, queremos agradecer especialmente ao texto de ANDRADE (1995), o qual, entre outros méritos, inspirou especialmente essa primeira parte do capítulo 5. (2) O “Resumo” deve ser escrito de forma sucinta, ou seja, além de ser apresentado em um parágrafo único, deve ressaltar os pontos mais significativos do trabalho. Em síntese, afora o que foi dito, ele deve ser escrito dentro de, no máximo, 300 palavras e, no final, abaixo do texto do resumo, devem contar as palavras chaves do trabalho.
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Referências Bibliográficas
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