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Bibliotecas Municipais de '1 Almada Biblioteca Central
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Jean Delumeau
A CIVILIZAc;AO DO RENASCIMENTO Volume I
Jean Delumeau considera 0 Renascimento enquanto "pro rnocao do Ocidente numa epoca em que a civilizacao da Europa ultrapassou , de modo decisivo , as civilizacoes que lhe eram paralel as' ' . Encarado numa persp ectiva de "desa fio e resposta " , 0 Renascimento passa pela "cntica do pen sarnento clerical da ldade Media , pela recuperacao demografica , pelos progressos tecnicos , pela aventura marf tima , por uma estetica nova , par urn cristianismo reelabo rado e rejuvenescido". 0 regresso a Antiguidade , "0 aparente regre sso as fontes da beleza, do saber e da reli giao foi apena s urn meio de progredir" . Nesta obra em dois volume s encontrarnos a ori gem dos movimentos e das pro fundas aspiracoes do nosso tempo.
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NOVA HISTORIA
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>? No dia em que todos os povos - mas estara proximo esse dia? - se confor marem a semelhante regra poderemos certamente falar tambem de um verdadeiro Renascimento. Raymond Bloch
(') Niio dependernos de urn rei; Que cada urn seja senhor de si proprio. (N. do T.)
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INTRODU~AO
A PROMO 1320 e 1450 abateu-se sobre a Europa uma co91uncao de desgra~Lpri '0i~oes, ep1dem1aS; guei'rl!~,gYm~AfO:-_~.m!al da mOrtaIfaaae;'dlininuiCao da producao de metais preciosos, avanco dos-'TiiICOS;desafios'essesque foraw vencittos com coragem e'·com genio:-A'hist6fia do Renascimento e a hist6ria desses desafios e dessas respostas. A crftica do pensameiill> clerical da Idade Media, a recuperacao demograflca~"osprogreSsos-i~cni cos;ii'l\vell.tura: maritima; \iiiia"e-sfehca nova, urn cristiaiiISiiio'reeIabolido .i"'rejiivenescldo":-'eli"'os'principais elementos da resposta do Ocidente as tao variadas dificuldades que no seu caminho se haviam acumulado. «:Qt:~!i.2...~--(t:~PQS~: pode-se aqui reconhecer a terminologia de A. Toyn bee, e eu penso que ela traduz admiravelmente 0 fen6meno do Renas cimento. Mas nao vou mais alem na esteira desse grande historiador Ingles, Vistas a uma certa distancia, a historia da Humanidade em geral e, mais especialmente, a da humanidade ocidental parecem menos uma sucessao de crescimentos e de desagregacoes que uma marcha para diante, entrecortada, e certo, de paragens e regressoes; mas paragens e regressoes apenas provis6rias. E verdade que houve porcoes de humanidade local mente falhadas, mas a Humanidade, globalmente considerada, nunca deixou de progredir de seculo em seculo, e isso tambem nos perlodos de conjuntura desfavoravel, Assim, e sem negligenciar 0 estudo da conjun tura na epoca do Renascimento, insisti principalmente nas modificacoes das estruturas materiais e mentais que permitiriam a civilizacao europeia avancar, entre os seculos XIII e XVII, no caminho do seu extraordi nario destino.
*
Identificar urn caminho nao implica acha-lo sempre belo, como nlio implica que nao haja outro possfvel. Como ao historiador compete com preender e nao julgar, nao procurei saber se 0 perlodo do Renascimento deveria ser preferido a «idade das catedraiss ou privilegiado em relacao ao «grande seculos. Para que essa estranha mas frequente distribuicao de premios? Por isso olio apresentei um Renascimento em que tudo fosse . exitos e beleza. Pelo contrario, a mais elementar obrigacao de lucidez conduz-nos a declarar que os seculos XV e XVI viram, de certo modo, um aumento de obscurantismo - 0 obscurantismo dos alquimistas, dos astrologos, das feiticeiras e dos cacadores de feiticeiras. Continuaram a dar relevo a tipos de homens - por exemplo, os condottieri - e de sen
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timentos, como 0 desejo de vinganca, que durante muito tempo foram tidos por caracteristicos do SY.lla§.£ipI~.nt()_ quando, na verdade, consti tuiam heranca do periodo anterior. Tempo de 6dios, de lutas terriveis, de processos insensatos, aepoca de Barba-Azul.e Torquemada, dos
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o historiador do seculo XX pela dureza da sua vida social. Nao s6 inaugl/l"ou a deportacao dos _Negr~s Pa.I."a. 0 Novo . Mundo como tambem alargou, na-pr6prIa'Europa~ 0 fosso que separava()s· humildes dos privi Iegiados, Os ricos tomaram-se mais ricos, os pobres passaram a ser mais pobres. Nlio se repisou ja muito a ascensao da burguesia na epoca de Jacques Coeur, dos Medicis ..e..D.Q$¥.u~n~er? A realidade e mais cODlpli~~a, pois os novos-ricos .IlPJessa.ram"sc a pa.ssar-.Lricliia.a::qiie-'j~jID 'se' viu renovada e insuflada. Claro que ela foi cada vez mais d6cll eni-rela~ao ao Principe. Mas"'ii~m por isso deixou de ser..a.. classe..possuidora. E, ao converter-se a culture - fen6meno cuja-'lmportancia ainda nao foi bas tante salientada -, impcs a civilizacao ocidental uma estetica e uns gos tos aristocraticos que tinham por contrapartida 0 desprezo pelo trabalho manual. Raramente numa fase da Hist6ria 0 melhor ombreou tanto com 0 pior como no tempo de Savonarola e dos Borgia, de Santo Inacio e do Aretino. Por isso 9-..E£!1.ll~.sItto_~'!..~~...a.~ I!0.ssos olhos. .c01l!0 um o£~~_Wl..de._contradj~, um concerto por vezes estridente de aspiracoes divergentes, uma diffcil concomitancia da vontade de poderio e de uma ciencia ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malslio pelo horrivel, uma mistura de simplicidade e de complicacoes, de pureza e de sensualidade, de caridade e de 6dio. Recusei-me, portanto, a mutilar o Renascimento e a nao ver nele, como H. Haydn, senao um espirito anticientifico ou, em sentido oposto, como E. Battisti, senao a caminhada para 0 racional. Nisso residem 0 seu caracter desconcertante, a sua com plexidade e a sua inesgotavel riqueza. Por exemplo, ao dar ao numero, na tradicao dos pitagoricos, urn caracter quase mistico e religioso, 0 Renascimento foi, todavia, condnzido, por esse caminho indirecto, para o quantitativo e para a no~iio cientificamente fecunda segundo a qual a Matematica constitui 0 teeido do Universo. '"
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o Renascimento
*
maior artista 'de todos os tempos. Demoliu-se Arist6teles com base em Platao e Arquimedes. Colombo descobriu as Antilhas gracas aos erros de catculo de Ptolomeu. Lutero e Calvino, julgando restaurar a Igreja primitiva, deram uma face nova ao cristianismo. 0 Renascimento, que se comprazia com os «emblemaes e os criptogramas, dissimilou a sua profunda originalidade e 0 seu desejo de novidade por tras de um hie r6glifo que ainda causa ensanos: a falsa imagem de um resresso ao passado. Atrave, de contradiCOes, e por caminhos complicados, mas sempre sonhando com paraisos mitol6gicos ou com impossivei" utopias, 0 Renas cimento deu um extraordimirio saito para diante. Nunca uma civilizacao dera tao grande lugar a pintura e a musica, nem erguera ao ceu tao altas cupulas, nem elevara ao nivel da alta Iiteratura tantas hnguas nacionais encerradas em tao exiguo espaco. Nunca no passado da Huma nidade tinham surgido tantas Invencces em tao pouco tempo. ~ Renascimento foi, especialmente, progresso tecnico, deu ao homem do OCidente malOr-dOiiiIiiTo· sobre Um-'milttdo"mairbem cOIilieddo:-EnsIDou_ fundido, aservir-se das armas de fogo, a eontar as horas com Urn motor, a imprimir, a utilizar dia a dia a-Teria'de cambici e"oseguro rnarltimo.
__espiritual paralelo ao progresso mate
rial -, iniciou aliberta~ao do individuo ao tira-lo do seu anonimato
medievare-oomeCandoa"Qesemoai'a¢ii~r(nfasTimltlrCQe"S" Burck
hardt observoii-delormageiilaI'estil'ClITaeteristie-lf (fa-epoca'-que estuda va.
Todos os seus sucessores 0 tem de seguir nesse caminho, mas sublinhando
quao doloroso foi esse nascimento do homem modemo, acompanhado por
um sentimento de solidao e de pequenez. Os contemporaneos de Lutero
e de Du BeIIay descobriram-se pecadores e frageis, sujeitos as ameacas
do Diabo e das estrelas. Houve uma melancolia do Renascimento. E tal
vez nao tenha sido errado - sob condicao de se nao tomar a f6rmula em
mau sentido - 0 definir-se a doutrina da justifica~ao pela fe como urn
«romantismo da consolaCao». Mas falar apenas de descoberta do Homem
e dizer muito pouco, A historiografia recente demonstrou que 0 Renas
cimento foi tambem descoberta da erian~a, da familia, no sentido estrito
da palavra, do casamento e da esposa, A civilizacao ocidental fez-se entao
menos antifeminista, menos hostil ao amor no lar, mais sensivel a fragili
dade e a delicadeza da crianca,
.iheaarravessarOS·6~etthos;'afabri~tfetro
--~~~esm~ t~~po~:::"':'progress.o
coTecHvas:
tinha 0 gosto dos caminhos escusos. E por isso que ainda hoje 0 regresso a Antiguidade obceca certos espiritos que preten dem avaliar a epoca de Leonardo em fun~ao desse aspecto e Ihe repro yam ter-se deixado atrasar por aquele passado ja de h3. muito suplantado. Na verdade, 0 aparente regresso as fontes da heleza, do saber e da reli giao foi apenas urn meio de progredir. Alegremente se «pilhou os templos de Atenas e de Roma» para omamentar os de Fran~, de Espanha e de Inglaterra. A partir do seculo XVI identificou-se em Miguel Angelo 0
o cristianismo viu-se nessa altura perante uma nova mentalidade, uma mentalidade complexa, feita do receio da danacao, da necessidade de devocao pessoal, da aspira~o a uma cultura mais laica e do desejo de integracao da vida e da heleza na religiao. 0 anarquismo religioso dos seculos XIV e XV levou, sim, a uma ruptura, mas tambem a um cristianismo rejuvenescido, mais estruturado, mais aberto as realidades do dia a dia, mais habitflveI pelos leigos, mais permeavel a beleza do corpo e do mundo. 0 Renascimento foi, sem duvida, sensual; e optou,
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por vezes, especialmente em Padua, por uma filosofia materialista. Mas o seu paganismo, mais aparente que real, iludiu certos espfritos que bus cavam, principalmente, 0 aned6tico e 0 escandaloso. Deslumbrado com a beleza do corpo, pede restituir-lhe 0 seu legftimo lugar na arte e na vida. Mas, com isso, nlio aspirava a romper com 0 cristianismo. A maioria dos pintores representou com igual conviccao as cenas bfblicas e os nus mitol6gicos. Ao faze-lo, nlio tinham 0 sentimento de estar em contra dieao consigo pr6prios. A mensagem de Lorenzo Valla foi compreendida: cristianismo nao significava, forcosamente, ascetismo. A laicizacao e a humanizacao da religiao nao constitufram, nos seculos XV e XVI, urna descristianizacao,
Esta explicacao convida a outra, de natureza diferente. Ambas, porem, provem do mesmo desejo de explorar em profundidade um perfodo que tern sido fascinante principalmente pelo seu cenario, as suas festas e os seus excesses. Pois nao irfamos aqui ceder A facilidade e apre sentar urn Renascimento em que 0 veneno dos Borgia, as cortesas de Veneza, os casarnentos de Henrique VITI e os bailes da corte dos Valois tivessem posicao de primeiro plano. Em vez disso, 0 que deve chamar as atencoes sao as transformaeoes de incalculavel alcance, escondidas por falsas perspectivas como as que todas as epocas tem. Seguindo John U. Nef, acentuei, portanto, a promocao do quantitativo e a elevacao do espirito de abstraccao e de organizacao, a lenta mas firme consolidacao de uma mentalidade mais experimental e mais cientifica. Fugindo a caminhos muito trilhados, A anedota e ao superficial, desejoso de oferecer uma sintese nova e de empreender uma reinterpre tacao do Renascimento, tive todavia a constante preocupacao de evitar o paradoxo e as formulas, que atordoam mas nao convencem. Procurei, em vez disso, demonstrar, esclarecer, fomecer ao leitor uma documentacao tao vasta quanto possivel. Quando estava a escrever este livro veio-me muito A mem6ria uma frase de Calvino. No fim da vida, ao dar uma olhadela as suas obras, Calvino disse: «esforcei-me por alcancar a simpli cidades. Tambem euprocurei fazer 0 mesmo. Estas poucas paginas de introducao tiveram a finalidade de criar uma ligacao, uma cumplicidade entre 0 leitor e 0 autor. Eu devia a quem viesse a ler-me as explicacbes necessarias, Chegou agora 0 momento de recolher-me e dar Iugar ao assunto que tratei; mas nao sem mostrar 0 plano seguido. A primeira parte constitui uma colocacao dos principals factos nos quatro dominios: politico, econ6mico, cultural e religioso. A segunda e uma penetracao no interior das realidades concretas da vida quotidiana. A terceira, paralela A segunda, mas na ordem espiritual, pro cum identificar uma mentalidade diferente da do passado e captar a vinda a superficie de novos sentimentos.
PRIMEIRA PARTE
LINHAS DE FOR~A
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I
CAPITULO I
A EXPLOSAO DA NEBULOSA CRISTA
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A importancia da Europa na epoca do Renascimento nao esta no populacao, em-tlSOO;--atfidii imcnitiilgia cern milhoes de habitantes, quando, segundo parece, era este 0 mimero de habitantes cia india no principio do seculo XVI: 30 ou 40 milh6es no Decao e 60 milhoes no Norte. A China, por volta de 1500, teria ja 53 milh6es de almas; e 60 em 1578. Claro que a Africa e a America tambem eram pouco povoaclas em relacao a imensidao dos seus territ6 rios: arrisca-se a calcular em relacao a Africa uns 50 milhoes de habitantes no principio do seculo XVI; quanto a America, hesita-se entre os 40 e os 80 milhoes, Mas em ambos esses continentes havia vastas zonas desertas a separar nucleos de povoamento muito intenso. A plataforma vulcanica mexicsna (cerca de 510000 km") teria 25 milh6es de habitantes quando Cortez • C) e os Espanh6is irromperam nesse mundo ate entao desconhe cido dos Europeus. 0 Imperio inca, no inicio do seculo XVI, reuniria 8 a 10 milhoes de siibditos. Ora a Franca, considerada nos seus actuais limites territoriais, tinha menos de 15 milhoes de habitantes em 1320; e nao e certo que, em 1620, tenha ultrapassado os 18 milhoes, Entre estas duas datas, por causa das pestes, das fornes, das guerras, 0 progresso demogra fico cia Europa foi muito fraco. A Italia passou, talvez, de 10 a 12 milhoes de almas; a Alemanha (nas fronteiras de 1937) de 12 a 15 milh6es; a Espanha de 6 rnilhoes e meio a 8 milh6es e meio; a Inglaterra e a Esc6cia, juntas, de 4 a 5 milh6es e meio. Vale ainda a pena fazer notar que, no principio do seculo XVI, as mais importantes cidades do mundo estavam fora da esfera cia civilizaeao ocidental. Assim, Constantino pla> e Mexico, duas capitals que se ignoravam mutuamente, teriam, a primeira, 250 000 habitantes e a segunda 300000, mais, portanto, que Paris (talvez 200 000 almas) e Napoles> (cerca de 150000). Mas era na Europa, e mais especialmente no Oeste do continente, que estavam 0 dinamismo e as chaves do futuro. plano_~..!!!o&rlifi~o.-A-
sua .
{I} As palavras assinaladas no texto com urn asterisco correspondem artigos do «Indice Documental» no fim desta obra. (N. do E.)
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1-.--.
Descobrir-se-a uma primeira prova desse dinamismo ao comparar dois mapas da Europa: 0 de 1320 e 0 de 1620. Entre estas duas datas, quantas transforma~oes! No iniSio .99.-s-ec.YJ.QJgY1..a,,~C:$s!JJa, Jb~!"ica esta repartida em cinco estados: Navarra, Aragao, _Castela, portugal e 0 ~~I.!!~]f~rr~nada"P.9rtu~al nao pOs -amd-a pe'-e-m:-Africa. S6em 14fs, ao apoderar-se de ~,{f- fara, Castela, rasgada por querelas intestinas ao longo de todo 0 seculo XIV, e derrotada em 1319 por Granada e em 1343 por Algeciras. Em contrapartida, Aragao, mais vigoroso, tenta criar urn imperio mediterranico. _ A Fr~de..Yili~_ VI· de _Valois -:- que sobe ao trono em 1328 ~ ~Bru~~!!iiiS..iiaojnduiMetz. nem Gr~nQble. nem _Mar· selha nem Montpellier, sem falar, naturalmente, de Estrasburgo ou de perpIgnari~ryon"es~' na fronteira do ducado da Sab6ia. Bordeus, Baiona e toda a ~.~~m comQ•.o-ponthieu....estio em maos iiiglesas,'embOfa orel Inglaterra ainda aceite prestar homenagem ao seu suserano de
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Domlnio das Ordens
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Bre~1)h.l!._~_JJJJU!!1g~,J;Lm;l.!t9!tueIlte.- iDdepende.nte.
Quaritl,i tnglaterra, conseguiu, nlio sem dificuldade, anexar 0 Pais de Gales _ que, porem, s6 no reinado de Henrique VIII· sera total mente absorvido. Esta, no entanto, em mas relacoes com 0 reino da Esc6cia, vizinho e rival. A Irlanda ja e uma especie de co16nia inglesa, mas uma co16nia desprezada, cuja costa oriental e a unica regiao efecti vamente dominada por Eduardo III·, feito rei de Inglaterra em 1327. o Imperio esta entregue, de uma forma cronica e duravel, ~ anar quia e ~ impotencia. Mas a Liga Hanseatica, nascida em meados do se culo XII da penetracao germanica nas costas do Baltico, constitui uma potencia. Em 1370 formara urna federa~lio de setenta e sete cidades, capaz de impor ao rei da Dinamarca, pela paz de Stralsund, a isencao de direitos alfandegarios aos navios hanseaucoe que atravessassem 0 Sund. Em 1375 0 imperador Carlos IV consasrara a grandeza da Hansa· diri gindo-se a Lubeck em visita solene. Mas, na Alemanha do principio do seculo XIV, 0 Brandeburgo ainda nao pertence aos Hohenrollern, que s6 em 1415 0 adquirirlio. Quanto aos Habsburgos, duques da Austria e da Estiria, sofreram derrotas nas lutas contra os Sui~os - a Confedera~lio data de 1291 _ e nlio possuem ainda a Carlntia, nem 0 Tirol nem a Carniola. S6 em 1440, com Frederico III, obteriio a coroa imperial. A noroeste, os Paises Baixos ainda nlio nasceram como unidade politica. A leste, 0 seculo XIV e urna epoca brilhante para 0 reino da Boemia, parte integrante do Imperio ~ qual estao Iigadas a Moravia e a Silesia. A dinastia dos Luxemburgos instala-se em Praga em 1310. S6 se extin guira em 1437. 0 seu apogeu situa-se no reinado de Carlos IV, rei da Boemia de 1347 a 1378, rei da GennAnia desde 1346, coroado imperador em 1355, que foi 0 fundador da Universidade de Fraga. Os imperadores, teoricamente, tern direitos de tutela numa parte da Italia; mas esta, na realidade, escapa-se-lhes. As viagens de Henrique VII. em 1312, e de Luis de Baviera, em 1328, ~ peninsula redundaram em
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DO~
REINO ZElANmAS
REINO
~ DOS HAFSIDAS
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1. A EUROPA NO IN/C/O DO SECULO XIV.
fracassos. A urn tempo esplendorosa e dividida, a Italia e formada por muitos pequenos estados que fazem, cada urn, 0 seu pr6prio [ogo. A si tuacao, portanto, e muito fluida: vai modificar-se muitas vezes entre 1320· e 1620. Depois das Vesperas Sicilianas de 1282, a Sicilia pertence a Ara gao, que anexa a Sardenha em 1325. Mas s6 a partir de 1442 havera urn Reino das Duas Sicflias, estendido, portanto, ~ Italia do SuI. Mais a norte, os feudais parecem senhores do «Estado eclesiastico», que 0 papado aban donou ao instalar-se, em 1309, em Avinhlio. Em Florenca ", onde Dante, exilado em 1302, nlio podera voltar, as lutas intestinas nlio estorvam os negocios. A cidade do Arno, porem, grande centro bancario e thtil, ainda domina apenas urn pequeno territ6rio e s6 tera acesso ao mar em 1406 depois de veneer Pisa. Em Millio·, os Visconti· comeearam uma carreira que sera brilhante - principalmente no fim do seculo XIV e na primeira metade do seculo XV. Em 1395-1397, Gian Galeazzo recebera do imperador os titulos de duque de Millio e da Lombardia. Bloqueada por terra pelos Apeninos, Genova. e no seculo XIV uma rica cidade
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maritima, orgulhosa des suas Ieitorias do Mar Negro e do EgeIJ. CaITa. na Crimeia, onde ternnnam as rotas terrestres do Extreme Oriente, per. tence-lhe uesde 1286. Em frente da costa ce Asia Menor, usOO5, Chio! e Sames cacm tambem em seu poder entre 1340 c 1360. Genova passa a dominar a produc;ao e a venda do alumen .. oriental, especialmente 0 de Foglia, a antiga Poceta. A .rumiga de Genova, Yeneza ., inccre,.
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MAR 71RRBNO
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-t. as CINCO GRANDIES EST,tDOS ITALIANOS EM /41}4.HU (Segu"do " Delumeau ~ J. Hee". La Fi.D du Moyen Age, lcs XVI' et XVII" ~1t:I.)
Em 1523, a guecia, seguindo Gustavo vasa, separou-se da Dina marca. A uniao de Kalmar sempre fora fragi}. Muito mais frAgil foi a uniiio (1592-1595) da Po16nia e da Suecia no tempo de segisroUDdo I Vua. Este rei, cat6lico, feria ~ convic¢es de urns Suecia muito ligada A Reforroa. A1em &550, os dois paises eram rivais no Bftltico. Em 1612,
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No prmctpro do seculo XIV, a Europa em ainda uma nebuloSli de rormae indecisas e de futuro incerto. Em 1620, pelo coorreno, as divisorias pounces do continente aparecem, se nao finnes, pelo menos c1arificadas e consolidadas nas sues grandes linhaa, Apesar do moment;il de soldados Iranceses, sujcos, atemaes e espanh6is. Assistiu, impctente, ao saquc de Roma em 1527, Ccrnandadas por urn trances, as tropes imperiais - au seia, lausquenetes alemiles, muitoe deles luteranos, Espanhois e ate Itajianos - tiveram enuto 0 sadtco prazer de pilhar, violar e avntar uma ctdade que era consuferada a «Batli/ooja modernas mas que toda a Europa invcjava, A Halia, porem, olio perdeu alento. Nessa epees, apesar de Maquiave), nao aspirava a unidade polftica mas tinha consciencia da sua unidade espintual e sabia que os Alpes eram a sua frcnteira natural. Julio n expr irnia os senumentos dos seus ccmpatrinras ao distlnguir os Italianos des «Barhamn que convmha expulsar. Meio seculo depcis, tambem Paulo IV se esfcrcou per «libertar a Italia des exercuos cstrangeirosa 1::!~s lent.:lthas falharOIl1. :Mas os E1;panJJ6is (laO coeseguiram, e nem sequcr tentaram, assimilar 0 Milafles. (J reino de Napoles e a Sicfliaque coaservararn a lingua, 0 parrimonio cultural c a mdiviuualldade que !hes eram prOprios. Ou nao e com excessiva preesa Que se Iala da eltalia espanhclae dos secures XVI e XVII? A realidade muitc mais compnceda, prmcipairnerue quando pen samcs que Rome, Veneza e Floren~a c:ontinuaram illdepcndellles, m~mo lendo de contar, no plano das reJa,6es exteriores, com 0 poder espanhul. Foi por isso que a me e v cspirito italianos puderam continuar a expan dir_se Iivremente nesses lees baluartes da civili:zacao ocidenlal. Seria por acaso que tantos arlislas lombardos vinham instalar-se em ROlna na ~egu[lda metllde do s«ulo XV[? a novo esplendor e a crescente irradia .,;ao emanada da Cidade Etema na epoca da rdorma cal61ica e num momenlo em que os papilll, ~pecUtIIDente Siirto V (1585-1590), procum vam rdorcar a liberdade de aCl;aO da Santa se e do Estado edesiastico, testemunham que a Ihilia tinha oonservado 0 essencial do seu genio e l:ont.inuavll fiel ao grande passado que noutros tempos a colocou a cabelj:a do mundo. Dividida, manttnha uma coerenc:ia interna que nl.lfica h •o ~
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(Segu,.da I. Ddum"au. e I. Heers, ibid.)
11. A AMi!RICA DO SUL NA i!POCA DA PENETRACAo IBeRICA (SegWt4lJ B. PenrlJ.e, Travel and DiscO\ler)' In the Renaillllance,)
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10. OS IMP8RlOS PRe-eOLOMBfANOS
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I """ h~ Sloen,," '':-''00'-'0 t v " I,:;;,·nx, ·Bolco. I ;:,-", "Il/am r," ,,.. ." ,,,,'d~_ PI. Nn final do s~culo XIn, a Europa cstava sobrepovoada e, portanto, l\ merce de eventuais c.alarnidadcs. Tinharn sido criados centros de colo niza"ao nas zonas marginais durante 0 periodo da expanslto demogrlifica: «in~tala"oes cheias de defeitos-. que rapidamente decepeionaram 0 ex cessivo optimi~mo dos colonos com os fmcos rendimentos que davarn e constituiram, na Alta Proven"a, na Inglaterra ou nas montanhas de Sah:burgo, a maioria das aldcias que desaparecerarn na rcce~ dos sb eulos XIV e XV. De tal maneira que 0 esgotamento dos 5010s e a rnA rent.abilidade de muitas explora"Oes tinham de provocar. quase auto mattcamente, fames. retrocc:sso da actividade agricola e quebra demo grafica. As epidemias, e tamb~m as mAs colheitas, isto t, 0 clima, ao qual temos de dar por inteiro 0 papeI que de facto desempe.nha, encar regaram-se de dar urn aspecto catastr6fico ao decHnio que nalurnlmente
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estava a comecar. Pois, de facto, e muito antes da Peste Negra, uma verdadeira ertse de tome se abateu em 1315-1317 sobre a Inglaterra, a Franca Setentrional, a Plandres, a Alemanha e a Dinamarca. Parece 'ter srdo a partir de entao que a conjuntura se modificou em grande parte da Europa. Os anos de Iome parecern lee side mais numerosos no resto do secure XIV c no seculo XV do que no seculo XIII. Em IngJaterra, apenaa na primeira metade do seculo XIV, conta-se otto «colheitas muito mliJ;lI em comparacac com as quatro de todo 0 seculo XU!. Em Orvieto, a Peste Negra atingiu em 1348 uma populacac la enfraquecida per ires anos de chuvas e de tome. Ainda em Italia, e no Sui da Prance, houve em 1374-1375 urna grande fome. As carencias imperamm em 1409, 1416-1417, 1437.1439, 1455-1458, 1477-1483 e 1487-1493 na Flandres, no Artois, no Hainaut e na regiiio de Cambresis. Assim, a conjuntura econcunca dos anos 1320-1450, que a prime ira vista poderia parecer caracterizade pela baixa da prcaucao de metais precioscs, foi tambem, igualmente, senao rcesmo mais, deterrmnada por uma profunda quebra demografica. E razoavel admitir que, durante 0 seculo XIV, a populaeao europeia diminuiu urn terce. Nao e, pois, de espantar que, apesar de subidas hrutais mas breves, per ocasiao das femes, os precos dos cereals tcnham mostradc persistente rendencta para baixar. Pois nso havia menos bocas a aumeruar, e, portanto, uma pre cura menor? Dal, por exemplc na Alemanha. uma importanle e.mi, gra~lio rural para as cidades; daJ, na lnglaterra, a acelera~lio do movi mento das enclosures ('), aproveitando-se os grandes proprietarios da fra quem econ6mica e fisica dos camponeses para dar aos cameiros, ..devo radores de homenSll, as terras retiradas ao cultivo de cereals.
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Ora esle penoda, que conheceu tanw infelicidades e se parece com um fragmento do Apocalipse, viu nascer e Uorescer 0 humanismo, dess· brochar e espalhar-se a arte do Renasdmento. A Peste Negra gerou q Deeameron. Em 1428, Masacdo, 0 primeiro grande pintor do Renas- cimenlo italiano, ja tinba morrido. Brunelleschi, arquitecto genial. con cluiria em 1434 a cupula de Sanl.a Maria del Fiore. A encantadota ca' d'Oro de Veneza data da primeira metade do stcula XV. Dir-se-A que e uma regi1i.o privilegiada e que a ItAlili escapou a. depressoo mais que qualquer oulro pais da EurOpa - afirma~1i.o que, de facto. e geralmente aeeite. Mas a retabulo do Cordeiro Mf:rrko. a maravilha de Gand, foi pintado pelos Van Eyck enlre 1413 e 1432. E 0 secu10 XV e a. idade de Duro da pintura namenga. Quem admirar na Hofburg de Viena 09 sumptuosos paramentos sacerdolais utilizados no seculo XV. na corte
(') Em inph no original. Terrenos cercados. (/'l. tlD T.)
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de Borgonha, para as cenmcnias da ordem do Tosao de Ouro interrogil-se como tanta nqueza pode coexistir com tanta miserta. Em Prance, foi num periodo bern sombrio - entre 1380 e 1420- que foram feita!! essas iluminuras deslumbrantes que se chamam Livre de fa Chane. de Gaston Phebus, Tres belles heurrs de Notre-Dame, Tr'3 riches heures du due de Berry. 'jeremos de conduir, com C. Cipolla e E. Kominsky, que nenhuma depressao economica afectou verdadeiramente a epoce do Renascimento? Ou, bern pelo conlr.trio, com R. Lopez, que ..0 dinheiro dirige-se para a arte quando se estrcitam as saldas eccncmicassj Bste mesmo auror asse vera que os uranos rtafianos de Trecemo e de Quattrocento construtram igrejas e palacios para reabsorver as massas de desempregados. Claro que seria enado ligar aprfonsucamente 0 desenvclvimento econ6m.ico ao ncresctrcemo artistico. Mas e precise, principalmente, evitar fechar 0 oomplexa destine da humanidade nas categorias excessivamente rfgidas da contraccao e da expansac economicas, Em penodos de recessao, a analise identifica sectores e rnomentos privilegiados. Podem aparecer 10 calmente sinais de prosperidade que eorrijam, pelo menos parcialmente, a accao dos factures depressives. 0 historiador, mesmo quando detecta grandee tendencias gerais, deve, pois, ter em con ta, principalmenle »esse perfodo. as orfgfnalidades regionais. Assun. a industria thtil do Brabante conheceu. nos primeiros decenios do seculo XV, urn aumento de acti· vidade e exportou substancialmenle para 0 centro da Europa. Assim tarnbl:m a planfcie do P6, melhor drenada, parece ter sido mais riea depois de 1350 que anletiormente. Quanta a Veneza, nada prova que tcnha passado. nos geculos XIV e XV, por um longo periodo de reces sao. Em Floren~a, se e verdade que a industria de paoos loi duramenle atingida depois da Peste Negra, a indWitria da seda, pelo contrario, conhe ceu urn bel0 incremento. Continua a ser exacto que as exportalYOes de Iii inglesa baixaram depois de 1350. Mas a industria thtil desenvolveu-se alem-Mancha e a Inglaterra exportou em 1480 62500 panos, tendo ex portado apenas 27700 em 1400. Mais ainda: Londres· loi atingida no seculo XV por onze pestes, mas os numeros provam que 56 uma delas teve incid~ncias na saida de panos pelo seu porto. Quanto ao recuo dos cereais numa boa parte da Europa, e verdade que provocou 0 aumento das pa_~lagens; mas tambl:m provocou maior cultivo de plantas industriais: Iinho, cAnhamo, lupulo, plantas oleaginosas, pastel e garan~a. E certo que a industria rural sentiu nessa ocasiiio progressos not6rios nos Palses Baixos. no Oeste da Franca e no Sui da Alemanha: dai 0 desenvolvi mento dos panos de linho e de cAnhamo nas ,dUllS primeiras de5SlLS regi6e!! e dos fustoes na lerceira. Enfim, e principalmente, 0 rlIpido despovoa m~nto acarretou, de urn modo gerat, urn importante aumenlo dos salarios, PQIS a mao-de-ohra escasseava. Muitos hisloriildores pensam, por isso, que o rendimento individual medio aumentou em grande parte da Europa dePQis de meados do secu10 XIV. A depressio econ6mica teria tido
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vam em colunas paralelas: ao meio a Vulgata e, de urn e outro lado, o texto hebraico e 0 texto grego dos Setenta. Cisneros dizia que adoptara esta disposiCilo para recordar 0 lugar que a Igreja romana ocupa entre a sinagoga e a Igreja grega: posiClio analoga a do Cristo entre os dois ladroesl Mas a atitude humanisla foi rapidamente seguida por uma ati tude revolucionaria. Lefevre d'Etaples, no Quintuplex psalterium, e Eras mo, no Novum Testamentum, nao hesitaram em cornatr ou Ignorar a Vulgata. Nestas condiczes, como e que os reformadores teriam podido deuar de ver no renascimento das Ietras anti gas e no renascimento da religiiio dois movlmenros conjugados e solidarios entre si1 Releiamos 0 prefacio escrito por Theodore de Beze· para a sua Histoire ecclesiasrique des Bgllses re/ormee$ du roraume de France (15S0); «A barbarie tinha sepultado completamente 0 conhecimento das linguas em que esrao escri tos os segredos de Deus e era preciso OU que Deus, la do anc, enviasse o dom das lfnguas aos homens por meios rniraculosos, como fez no prin 'cfplc da Igreia primitiva sobre os Ap6stolos, ou entao que, usando os meios ordinaries de aprendizagem de Hnguas, nos conduzisse a poder ler no original 0 Ietreiro que puseram na cruz sobre a cebeca do Senhor: e etem disso os estudos de ctenctas liberais despertaram espfritos que antes disso estavam profundamente adonnecidos» (aquele letreiro era tri Iingue). A restituicac da dignidade, a uma escata nunca vista, as tres grandes Iiteraturas antigas foi, pois, uma realidade na epoca do Renasci mento. A este respeito, 0 humanismo e a imprensa esliveram lado a lado, apesar de a imprensa ter, nessa altura, difundido urn numero conslderavel de obras que nao reflectiam a nova cultura: almanaques, romances de cavalaria, vidas de santos, etc. E sintomatico que 0 Invento de Guten berg tenha sido introduzido em Paris em 1470 por Guillaume Fichet, que foi 0 iniciador do humanismo em Franca. Sabe-se, de resto, que os maiores impressores desse tempo -Aldo Manuzio·, Froben, Josse Bade, os Estienne, Cristophe Plantin, elc. - loram, todos e!es, eminentes letra dos. Difundiram as obras dos Antigos entre 0 pUblico culto. A imprensa aldina de Veneza, entre 1494 e 1515, nao publicou menos de 27 edic5es principes de autores gregoS. As varias obras de Virgilio foram editadas 546 vezes entre 1460 e 1600, tanto em latim como em tmducoes. Se adoptarmos uma-- tiragem media de mil exemplares por ediciio, conclui remos que, pelo menos, 546000 «Virgilios» loram lancados no mercado europeu entre meados do seculo XV e 0 fim do seculo XVI. Em 1530, (oram impressas em Franca as obras de 40 autores gregos - 32 deles na Hngua original- e de 33 cllissicos latinos. 0 interesse pelas obras dos _Antigos aumentou ao longo de todo 0 seculo XVI. No periodo anterior a 1550 s6 conhecemos 43 traducoes inglesa!> de obras latinas e gregas. Mas, entre 1550 e 1600, houve 119. A imprensa nao teria conhecido 0 exito que teve se 0 publico nao ertivesse preparado para a acolher. Fala-se muito, e com certeza dema
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siado, do esgotamento intelectual dos fins da Idade Media. Na realidade, durante esse perfodo, reputado como decadente, multiplicaram-se as es colas: escolas esecundanass, onde as criancas tomavam conhecimento da gramatica latina, com as principals passagens da Vulgata, com os Dicta Casonis e com alguns exrractos de Crcerc, de Virgilio e de Ovfdio; mas, principalmente, universidades. No fim do seculo XIV havia oa Europa 45 studia generalia, 0 seculo XV vlu nascer mais 33 e a primeira metade do secure XVI mais 15. Estas ultimas apareceram, principalmente, nos parses que amda nao tinham universidades: Eapanha, Portugal, Bscoca e, mais ainda, 0 Imperio, onde, em 1520, havia IS umveraidades em com paracao com as 5 de 1400. 0 humanismo 56 vingou porque 0 terrene lhe tinha side preparado.
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E, no plano artistico, 0 Renascimento s6 vingou gracas a arqueolcgra. Oaro que nac p6s a luz do Sol templos, anfiteatros ou basilicas; mas Ievou as suas investigacoes, com urn Cirfaco de Ancona ou com urn Giuliano de San Gallo, as minas da ltAlia do Sui e da Asia Menor. Roma ., eorem, nao podia deixar de atrair muito especialmente os clha res de homens cada vez mais apaixonados pelas coisas da Antiguidade. Giovanni Villani, ao voltar do jubileu de 1300, resofveu, perante 0 espec taculo das rutnas de Roma, fazer-se historiador. No Dittamondo (1baoc
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13. P1UNCIPAlS R,EAL1ZACaES AIIQUITECTONlCAS DO RENASCIMENTO EM FRANCA. (Sllgu/ldQ La Renaissance rril.n~il.ise, itt .La documenlation phoIQgrophiql'fI.)
A Frani;a foi, por excelencia,
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pais da reeccac «ctasstca» contra
os excesses omamentais. Mais Que noutros sitios, at se opes a Antigui dade reenconlrada a fantasia superabundante de Julio Romano e do Primaticio _. A influ!ncia de Serlio -, autor de urn celebre tratado de arquitectura, que morreu em Fontainebleau enl 1554, a difusao em Franca das obras de Vitruvio ilustradas por Jean Gouion, 0 intensfssitno estudo dos monumentos de Roma a que se dedicou Philibert de L 'Orme expli cam esta procura da reguiaridade, da simetria, da harmonia, que carac ter1zam a arte francesa de entn:: 1540 e 1560. As ninfa:> da fonte dos Inocentes (1549) t!m a plenitude carnal, a finurn e 0 a_vontade das obms grega:>. Os seus trajes molbados fazern lembrar os da Acr6pole. Na mesma
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epoca, Philibert de L'Orme ", trabalhando no palacio de Anet, ergue 0 ramose portico, urn cos pnmeiros exemplos Irancescs das Ires ordens anti gas em scbreposieao. deturo de pouco tempo este exemplo sera seguido no palacio de Assezat de Toulouse (l555-l560). Philibert de L'Orme e tarn bern autor do tumulo de Francisco I (1552) em Saint-Denis, monumenlo uo qual se disse, com justeza, que era mais greco-romano que italiano. De facto, tern a forma de urn arco de triunfo antigo. As Iinhas da arqui tecrura dominam nele, rigorosamente, a composicac e 0 artista aplieou estritamente 0 sistema modular des Antigos. 0 apogeu deere elassicismo arquitectonico do seculo XVI frances e alcancado com a facbada do novo Lcuvre v; nela trabalharam Pierre Lescot e Jean Goujon ". Eo urn verdadeiro manifesto: todos os pormenores sao antigos, mas ainda mais o e 0 esptrito, isto e, a opr;ao pela simetria, a rejeicao das excresceneias, a sabia graduacjlo, desdc a s6bria base ate a ordem atica, interrompida pelo grande rrontao encurvado, os efcitos de relevo e de c1aro-escuro, 0 rigoroso calcuro das croporcses. Esta-se ja longe da fantasia iralianizante dc Fontainebleau. Como a Anuguidade foi melhor conhecida a partir do seeulo XVI, o curse da hist6ria cultural e artfstica da Europa modificou-se. A sere nidade do Apolo do Belvedere influenciou Rafael e todcs os que 0 imi taram: e a hipcrtrofia muscular c 0 movirnento dramancc do Loocoonte foram uma revetaeao para Miguel Angelo, cuja obra se explica, a partir de 1506, em parte, com essa descoberta. A pmtura eseult6rica de urn Macrten Van Heemskerck, que, com certo exagero, foi ja cogncminadc de «Miguel Angelo do Norte», e muitas outras obras cheias de violencia, atormentadas, do perfodc barroco, derivam, de certo modo, do Laocoorue. e. tam bern a arte helcnfstica que, provavelmente, se rem de Iigar a «Iinha serpentinas e 0 alongamento de formes que caractenzam a estetiea manectsra de Parmesao, de Correggto ", de Cellini, da eseota de Fon taincbleau • e do Greco. As consideravels dimens5es des rurnas da Roma imperial impressionaram Bramante, Rafael, Miguel Angelo e, mats tarde, Domenico Fontana, arquitecto de Sisto V: dal 0 estilo monumental, quase colossal, do Renascimento romano e, depois, da arte barroca euro peia em geral, por oposio;ao a discricao, mais anca, do Renasei mente ftorentino. Tambem a poesia e a musica foram marcadas pelo novo favor concedldo a civilizacao greco-romana. Os poetas do seculo XVI, espectalmente em Franca, procuraram subrneter os seus versos, mesmo aqueles que escreviam em lingua vulgar, a «medida a anliga». Esie ritmo rcpercutiu-se tambem na musica, pais Ronsard queria que as suas odes fos sem cantadas, como as de Anacreonte ou de Pindaro. A 6pera italiana, que encontrou a sua f6rmula com Monleverdi·, no infcio do seculo XVII, nasceu das pesquisas conjugadas de humanistas, musicos e poetas, dese· josos dc ressuscitar 0 teatro antigo por meio da mUsica. 0 canto «n::pn:: sentativoll. islo e, 0 canto dramatico, evocava, para des, a voz acompa nhada a lira da antiga Grecia.
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A adrniracac pe1a Antiguidade teve os seus exageros, tngenuidadea e iniusti~as. uoccecio. ao reneaar aos quarerna ancs a obra de [uven passar a escrever apenas em laLim, e este exemplo foi tude, seguido per muitos hurnamstas italianos e transetpincs - de Leonardo trOU Bruni a Brasrno. Uma ob~er"acno cuidada demons que hi poemas inteitos de poliziano farmadas pot cita¢les latwas. Na Prance do se culo XVI ji V. L. SauLnier pode identificar mais de setecentos poetes laLinos. E e conhecloc 0 inquielante aviso de Ronsard no inicio da
re~O\veu
Franciade:
as Pranceses que meUS versos lerem Se niio forem Gregm nem RomMOS, Em vel deste livro teriio Um pesado [arda entre moos... (')
Nao s6 tor am represenladas em Ferrara, Bordeus e Oxford pecas de Plauto e de Terencio como na !nglaterra isabe1ina bouve grande entusiasmo pelas tragedies de Seneca; a sua influencia no teatro " inglfs anterior a Shakespeare Ioi consider3.vel. Esses tragedias nao rinham side concebides para 0 palco: a eccao e nula e a Hnguagem e uemasiadc enf:Hica, mas tanlo 0 publico como os autores do seculo XV! eram sensl 'leis ~ grandiloquencia do discurw, a alrocidade dos assuntos. Apreciavam a parte que nessas tragedias cabia aos crimes monstruOSos e as vinganlJU implacaveis. A exaltacao da Antiguidade e 0 correspondente desprezo petas realizac a eta posteriores tornatam, por vezes, um aspecto que DOS lks oes espanta hoje. Montaigne escrevia em 1581 que «as construc desta Roma bastarda, que nessa altura iam sendo acrescentadas aquelas rufnas antigas, embora tivesseIJl com que suscitar a admirac ao dos nosses pre- sentes seculos, mais faziam lembrar os ninhos que pardais e gmthas vilo em FranCa pendurando nas ab6badas e paredes das igreias acabadas de demolir pelos hugueno teSll. oes. N1io nos deixemos, porem, enganar por tais afirroac A Europa do Renascimento, tomada em conjunto, nlio abdicou perante a Antigui. dade. Tradic vigorosas se op~ram ao seu completo triunfo. a famOSO oes Esque!eto de Ligier Richier, de Bar-Ie-Duc (1547). que renoVD. 0 tema. o medieval do dransido~, e, com diferenca de apenas dais anos, do mesm tempo que a fonte dos Inocenles. Em plena seculo XVII continuava-IC em Franca e na BeJgica a cobrir igrejas com ogivas cnuadas. Apesat petas da estetica de Vitruvio, os Alemaes obstinaram-se na
predil~ilo
(') No Oliginal: «Les Frani;ois qui mes .,en Iiront I S'i.Is ne &Opt et Gred RomailU, I Au lieu de ce livre ils n'auropt I Qu'un peMnt falx entre II:s 1I1aiDs..
verncais. Al, como na Flandres, a familiar silhueta des casas alta" sofreu poucas transformacOes e foi facil colocar no sitio da cimalha em esca dinha urn Jroatao barroco com votutas. E que, na realidade, a Anti guidade - mesmo em Italia - 56 ern conhecida superficialmente. Leo nardo da Vinci e Miguel Angelo DAo eablem Iatim. Shakespeare, que leta multo mas sem plano, Itispircu-se, em muaas das suas pecas sotee a Antiguidade, em Plurarco, mas sem tenter reconstituir nas tragedias que compos os hAbit.os e costumes des Antigos. A cor local nilo lhe inte ressava. Quando, em lUlio Cesar, os mirones comecam per aclamar Brutus, 0 assasslno, para depois, manobrados por Antonius, rebentar em sctucos perante 0 cadaver do tirano assassinadc, nao e tanto a plebe rornana que esra a set evocada como a multidio versatil de todos os tempos. A insuficiencia da culture historica do Renescimento foi causa de eITO'i. Ficino foi menos plat6nico que: necotatonrco e nao viu tudo aquila que separava do pensemento do discfpulo de Socrates 0 de Plotino, de Prcclo e de Jamblico: ora, entre aquele e estes, havia mais de sets seculos. Ficino tambem iulgava que os Livros Hermeticos ", que dera a conhecer a Europa e taDto 8xito obtiverarn, encerravam sob forma esote tenca a preciosa sabedcria da antiga religiiio egfpcia. Oro, na reaudace, os Livros Hermelicos datam oa era crista. Nao e de admirar que sejam uma mistuca de ccncepczes neoplatcnicas, judaicas e egfpcias. Pico de Mirandola'" cometeu 0 menno erro a respeito do IV Livro de Esdrw. que em 'lao pediu A Igreja que integrasse na Bfblia. Tomou por obra do stculo V iWterior a Cristo urn livro manifestamente poslerior A I;on quisla de Jerusalem por Tito. a Renasclmenlo enganou-se, tarnbern, acerca de Diontsio, 0 Areopagita, visto que se atribuiu ao companheiro de Siio Paulo obms marcadas pelo neoplatortismo cuja primeira menr;ao conhe cida - em Constantinopla - data de 522. Em resumo, os humanistas (optimistas» bilsearam numa croDologia defeituosa urna das leses-mestras do Renascimento: aqueJa que afjrroava haver um fundo de verdade reli giOSa comum a todos 08 povos e que Caldeus, Persas. Gregos, Egipcios e Judew antigos tiDham possuldo os elementos essenciais da Revelacao. as homens dos steulos XV e XVI considcroram, portanto, a Antiguidade como urn todo. Nao deram suficiente atencao ao facto de eta ter durado mais de mil anos. E do mesmo modo ignoraram quase completamenle a arte da q,oca de .Pericles e a evolu~o das ordens. Para des, a escul tura antiga era a do perfodo helenfstico. Erros dificilmente evilavejsl Mas, por vezes, 0 Renascimento tratou a Antiguidade com excessiva ligeireza. Bromante, cognominado em Roma de llruinante~, niio leve escn1pulos. na reconstruo;ao da Igreja de S. Pedro, em deilar abaixo as 96 colunas corfntias da anuga basilica. Paulo 111., num breve de 1540, revogou todas as licencas para escavaCoes concedidas a particulares - mas para dar 0 seu rnonop61io a05 arquitectos e emprei teiI'Qs que trabalhavam em S. Pedro. Em 1562, «todas as placas de p6rfiro e OUlras ... , que havia na Igreja de Santo Adriano (na antiga CUria impe
(N. do T.)
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, au nas meotcas das fachadas que nessas teras regras da natureza que dizem respeito A ccmodidade, aos uses e ao proveito des moradores». Assim, pete meres DOS grandes artistas do Renascimento, a imita~ da Antiguidade nunca foi servil. Ao vcltar de Roma, 'ttmoreuo » escreveu na parede da oficina: *0 desenho de Miguel Angelo, a cor de Tictanc.s n a cpcca caracrenza-se tanto pela exaitante ccnccrrenca das artes como pela imitacac da Antiguidade: Alberti dava a preemilJencia a arquitectura; Leonardo, ' d~ ilusao penpectiva. fez esfor~ c:spantosos. Leonardo, perem. inleressou-se mais especialmenle pela perspectiva a!rea, que pro cura reslituir as distllncias prill. grada9ao dos efe~tos luminosos - dessa luz que «anima 0 vazio do espaco, (. .. e) trabalba 0 objectoJ (A. Chaste!). Inventou 0 stumafO. 0 famo$O daeo-escuro, por rueio do ql13l as figums emersem de uma sombra vaporosa. Seguros do seu lalento e dos sellS processos, como e que os artisw do Renascimento nao ha.viaOl de fa:rer obra original? A8sim, Bramante, inspirando-se embora no Teatro de Marcelo e no SeptizotLium boje desa parecido, inoveu profundawente ao cealizar a altemAncia ritmada de pai [leis de largura desigl.lal, ao quebrar a Olonotonia das fachadas com a saliencia dos corpes avancados, ao acenluar os estil6batas, que sepamm os andares e aumentam a clareza arquiteet6n.ica. B tambem os programas nao eram ja os da Antiguidade. Agora havia que construiJ: igrejas, lan~ c1austros. decorar habita~Oes que oAo eram OOllcebidas como as doa Antigos. Em contrapartida, 1100 se fa.zia lerma5- Bramante teve de reali zar obra original Quando foi encan-egado por JUlio II de Jigar 0 Pall\cio do Vaticano' ao Belvedere por dois corredores paralelos com 300 metrOi de comprimento. Os Gregos e os Ramanos nao n05 legaram nenhuma obra q\le!'.e: compare com 0 Juiw Final de Miguel Angc:lo, que tern 17 metrm por 13, au com as 72 telas pintadas por Tmloretto p.ara a Scuola di San Rocco de Veneza. E nao redigiram nenhum liveo que se pareca com
as Ensaios de Montaiine. Tomemos cutro eJl'empJo: .humllnisrno e 50nClO sao praticamente inseparaveis. Ora 0 soneto, posto em vega por Petrarca e depois introdurido, no x-culo XVI, poe Mamt. em Franca, par Gar cilase de la Vega em Espanha, por Wyatt em Ingla1erra, nao e antigo, c de origem Haliana 01.1 tarvez provencal, Poltanto, temcs, apesar da COos lame referencia ace modelos antigos, uma cuHuta nova e uma arte nova no quacro de uma civilizacao profundamente original.
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No final deste estucc, definamos em linhas gerais as varias reahza ~Oe:> do Renescuneneo no plano art!stico. Num primeiro tempo vru-se, em ltalia como aquem-Alpes, os anistas aceitar largamente as tradjr;5es tccats eneuaaro admiravam as cbras srecc-romenas. bizantinas e rornanaa aqui, actrcas ali, marilimas e ex6ticas em Pcrtugaf esses tradiC6es Iocels cram per elcs combinadas com elementos decorativos tetirados, princi_ rermeme, do vocabuU.rio antigo. Essa arte comp6sita teve muito eecantc e saber. Depois disso velo a mornento do purlsmc, que se pretenda pla tonico. 0 s artisms buscavam a estrurura metemauce da beleza. Essa estelica sobria, serena, harmoniosa, desabrochou naa obras de Leonardo, Rafael, Bramllnte, Philibert de L'Orme, Pierre Lescot, etc. MHs a estriea disciplina e a beleza maJlllorea nao podiam satjsfaz.er joleiramente uma tpoca inqujeta Que tantos Juizos Finais pintou. Miguel Angelo optou pelo movimeoto e pelo sobre-humano. Foi 0 inu1trapagsavel paeta do desmesurado. Ao fm·Jo, loi um des criadores da aete barroca, que tinha afej~ao ao gr:mdioso - dal 0 triunfalismo romano _, as vasCali compo_ sicoes, b aq:c.es heroicas, As atitudc:s dramaticas, ao usa da! diagooais.
Rafael e Miguel Angelo tivcidW, ambos, numerosos imJladores _ e a
alguns deles nao fa/tou taleato. 0 edeetismo dos irmiios Carracci".
que juntaram As li¢es de Rafael as de Miguc:l Angelo, deu ao lecto do
Palacio Famese de Roma uma compo,k.!io simuJtaneamente s6lida e
variada. Mas boje descobre_se que 0 seculo XVI eurQpeu fOl laI'Rameate
maneirista, POt «maneiristau devemos, principalmente, cnlender as arti!_
las r que quiseram escapar por uma «maneiraJ muito pessoal, por UlD estilo
p 6pejo de cada urn -assim JlCnsaV-d Vasaci_, ao dOminio dos gigantes da aete. Com as mandristas triunram um anticlassicismo e Ulna estetica Que se afastam resolutammte da natUte:ra c: do Ilatuzal. Dat a qualifica_ cao de «amaneirndaJ durante muito tempo aposta a esta aete QUe pro Cllrava a originafidade a todo 0 custo e que tanto b;ilo teve nas cortes requintadas e preciosas de Manlua, de Fontainoebleau e de Prasa. Os ma~ neirislas· Quisc:ram causar e~nto com 0 sobrecarregado da decoracao - scorno ll1lio Romano no Palazzo del Te, em Mantua _, com a escolhil do agsuntos, audaciosamente sensuais com Spmngler e resolutameote e.~tlllnfIos cum Antoine Caron. Usavam cores acidas e gostavam de fundos negros. Seguindo Parmigiano, lliongaram as formas de urn mOdo iIlespe
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rado e mosrrararn urn gosto pronundado pelas cesprororcces - recorde mas 0 CriJIO na Cruz de Cellini, no Escorial, uma Anunci~do de Brcn zmo, as Iiguras caracteristicas do Greco·. Nos flOSSOS dias ha urna ten dencia, ow desLilulda de fundamenta, para 'o'er no Maneirismo urna das cuneosees essenciais do seculo XVI no periodo que precedeu a vitcria do Barraco. No plano de. psicologia zctecnva, 0 Maneirismo aparece como testemunho de uma epuca que em todos as dominics se atastava des ensinamentos Iradieionais e buscava a scu caminho em muuas drreccoes. o Maneirismo exprimiu a sede de -enovacac de urn seculo que nao encon rrara ainda 0 equilibria e se mostra, na analise, tao rico e tao diverso que DaO se consegue nxa-io de modo satisfal6rio. E per isso Que, tratando-se de uma epoca Iiia Iecunda, todas as da~siricar;oes sao rormas e artificiais. Tambetn e preciso dar lugar espe cial a pintura veneziana. Por voila de 1500, veneza era ainda uma cidade gotica. 0 Renascimenta so la brilhou verdadeiramenle com 0 palacio Vendrarnino, que e de 1509. Do mesmo modo a pmtura veneziana, depcis da gera~ao dos precursores, des quais 0 mais notave! e Giovanni Bellini, levanta voo com Ticiano, que domina toda a primeira metade do se culo XVI e chega, no fim da carreira, a uma tecnica cease impressionista. Mas a pintura veneziana brilha depots, com novo esplendor, na obra de Tintoretto e de veronese •. A arte europeia deve Imensememe a veneza. Rubens, pcussin, Vehizqucz, Watteau e De1aeroix, para citar apenas alguns nomes, consideraram Ticiano como 0 meslre por excelencia, aquele que soube dar A pintura a oleo a sua verdadeira dimensao e a sua prestigiosa voca~ao. Os pintores venezianos preferiram a cor a linba; deram a pintura maior nexibilidade e maior intensidade luminosa. Mas, por volta de 1600, viveu em ItAlia um artista isolado que faria eseola: Caca vaggio •. Desdenhava da Antiguidade, reagiu contra todas as convem;oes, esforc;ou-se por uma pinlura ilnaturab e por vezes brutalmente realista. Ao s!umalO de Leonardo optls os violenlos contrastes entre a sombra e a luz. Os «iluministas» de Fran~a e dos Paises Baixos imitaram a sua. mane ira. Assim, neste principio do seculo XVII, a pinlura e, mais geralmente, todas as artes chegam na Europa a plena maturidade e a perfeita faciIi dade tecnica. Os artistas podem fazer tudo 0 que quiserem. E devem isso rnais a ItAlia que A Antiguidade. Na epoca eJJl que uma Europa dinamica procurava os meios da sua renova~ao, a ItAlia trouxe a possi bilidade de urn rejuvenescimento muito mais radical que aque1e que poderia ser dado pela arte g6tica - apesar das reservas de seiva e de vigor que ela ainda po~ula. 0 esplendor da riquem italiana contribuiu para 0 lriunfo da estetico. now. Foram artistas vindos da peninsula que' por toda a parte espalharam 0 ne..... look (') art1stico. A primeira fachada
renascennsta de Fran...a - a do Palacio de Gaillon - foi obra de uma oficina de escuuores Iranco-italiancs. E e conhecida a importancia que, a partir dos anos uinta do seculc XVI, teve a «escctae fundada em Fon ratnebleau per RO.%l) e pelc Primarrcic, que aclimataram 0 Maneirismo em Franca. Em Ingfaterra. as formulas da arse nova foram mtroduzidas por urn florentine, Tcmgiano, auror do Iumulo de Henrique Vll em Westminster. Nos Paiscs Baixos, se Bruegel, 0 velbc ", desenhador e paisaglsra sem par. se inspircu pouco em modelos italianos e nao quis representar nus. e, assim, por uma promopio da leologia, cujos fundamentos rudimemares, pelo menus, ti!lham doravante de ser conhecidos das massas. Antes da Reforma, 0 clero insi~ia principalmente oa moral, mas, aD que parece, com potJ(:U hito. A partir do secuJo XVI os renuvadores da Crislandade utilizaram a tactica in...ersa, tipicamente lulerana: rcstauraram a teologia, da qual dcvia cmanar a moral. Lutero e Calvino, Bucet, refonnador de Estrasburgo. e Bullinger, ,;;uceSSQr de Zwingli em Zurique, redigirarn catecismos. Pia IV, pur loeU lado. mandou preparar a pUblica"ao do Catecismo Romano, sIntese mais Que outrora it alen~ao dos responsa...eis pela Igreja. No interior desla. os leigos passaram a ucupar - e dentm ern POueo exigiam-no - urn lugar cada vel mais importante. o ronsldernvel ()apel enta~ desempenhado pelas confrarj,as e revelador neste a..~peclo. 0 seu desen"'olvimeoto, que se acentuou nos seculos XIV e XV, tOInOU foms de fenomeno europeu. Ora, nessas confrarias, c1~rigos e leigos estavam as.'lociados: padres presidiam a vida - e aos banqUele5 da pia associapiio~ deixavarn assim de ser .holllens de casta it parle.,
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Esea mesrna obsel'1la~iio e valida quanta aos pequenos grupos de edifi cal;do que, com a nome de «Amigm de Deus», flcresceram na Reniinia no secure XIV. Clerigos e leigos, estrcitamente unidos, tremavam-se a1 na prd.."
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que quarenta pl:s de,largura. j;i s6 tern qvatlO .... .e IildUbltavel que a oos eammhos da Europa aumentou QUe as gargantas (los Alpes foram abertas ao grande come-rcio_ llbertura eSS:l que sirna rnlIe 0 tim do seculo XII e 0 prlndpio do
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CUNH.AGEM DE MOEDA EM FRAN(:A EM lJ81.1J90.
(SeRlmdo F. Spooner, L'E'.conomie mondiale et res frappes monttaires en
1\ rlqueze vern do SuI c do (jeste. A prate cbega de Eipanb.a.
tina. A Innacao das ueseeeas e receitas dos estadcs da. tatvee. a. ml prova do irresistfvel impulse do quantitativa na civilizal;i\o do RI etmento. 0 aerescimo nominal dos recursoe pontificals entre 1$10. 160.'5 esta calculado em cerca de 440 'fa; foi, portanto, superior aD al dos pre eompararam a perdJ. das espeeiarias pela sua cidade «ao lcitc e uo alimcnto que reuassc a um recem-nescicce. A pimenta porluguesa cbegou a Anluerpia em 1501, a lnglaterra em 1504. Tres enos depois, a Companhia de navcnsburso resol veu passar a ccmurar pimenta apenas em Antuerpia, onde 0 Ieitor do rei de portugal vendia ja as especiarias do seu senhor. Em 1499, 1504, 1506. 1513, 1517, 1519, 1523, 1524, 1529 ou os navies venezianos nao roram a Alexandria e a Beirutc ou entao voltaram vazios ou quare vazjoe, Em 1496_1498 os mereadores da Serenissima rraziam todos os anos do Levante uns 6730 colli de especiarias; no peeiodo de 1501 a ISH, e des eontando os anos de valor completamcnle nulc ncste aspeetn, a media anual caiu para 600 colli. Em ISIS, venera foi obrigada a pedir a Lisbo& a pimenta de que necessitava para consume local. Doze enos depois, pro- :., pes ao rei de Portugal tomar [ir me toda a pimcntl1 que ehcgatiS-e a Lis-' boa com excep~iio da que- Fosse necessaria para Portugal. ,,0 projecto':: nao se concrclj7.0U. Mas mosue em que estado estava veneza em 1527:·' traduz a subida vitoriosa do mcr cado de Lisboa» (1'. Draudel), Houve;' todavia, uma «ecstorra mediterrinica» em meacos do seculo XVI C &IIi' antigas rotas das especiarias, pelo Mar Vermelho e por Alexandria. ou:~ pelo Golfo Persico e pela Siela. tiveram nova vida. Os Portugueses, depo" dos exitos iniciais, nao conseguiram dominar verdadeiramente - ou, pel", menos, IOlalmente _ 0 comeedo arabe do Oceano indico. Dc quaiqui modo, por alturas de 1540, a pillienta mediterranica influenciava os pre~ da cidade do Escatda. Nove anOS depois, 0 rei de Portugal fechava a fe!l;" toria de Anluerpia. Em 1555-1565, os Venezianos 1cvanla vam novamCI em cada ano uns L1700 quintais de pimenta elll Alexandria-maw ql em 1500. S6 nO rim do seculo XVI e nos principios do seeulo seguintc Pr6xirno Oriente se fechou ao transito das especiarias - QuandO . Neerlandeses, que penetraram no Ol,:eano 111dico pela prlmcira ve.z ~] 1596, ficaram senhores do comercio nessa parle do mundo. . Mas, se a recessao cta evidente desde 1600 no MedilCrraneO Orien1 malS a oeste Marsc1ha e Livorno estavam ~m plena asccnsao e Gilol aproveil,lDdo a decad~ncia de Antuerpia, funcionava como capital , cAria de toda a Europa, ao mcsmo tempo que a Itfilia era, de tOO09 paises do continente, aqucle que pussula JJ)ais cidades ron"' mais 100000 habit do Mexico para Manila passou de 1030 pesos, em 1591-1595 (media anua!) para 8411 em 1611-1615. Ao mesmo tempo, aurnentava 0 numero de navies asiaticos -l;:xduindo a navegacao costeira _ que entravam no porto de Ma(\i\a; em 1577 nla atingiam 15, em 1599 eram ja maio de 29, em 1612 erarn 53. A maiorie desses navies vinha da China. Pela primeira vez se fechava 0 ctrculo de . economia mundial: a rota portuguese do Extremo Oriente, pelo CabO. encontrava-se em Manila com a rota que levava de cadis as FilipinM passando pelo Mbko e por Acapulco. Em todos esses itinedrios era preponderanle a moeda espanhola. 0 holandes Linschoten, que viajou no Oceano tndico de 1583 a 1589, descrevia assim 0 rrafico des portu gueses de Goa: «tiram grande lucro do cambio das moedas, de tal modo que, quando os navios de Portugal chegam, compram os gran des reUr:: (os uealesllo espaoh6is), dafldo doti! par cenlo de lucro ate ao mb dO· Abril, altura em que os mere adores que vao a Ouna os procuram tallto'1 que quem os tiver obtern bern uns vinte e cinco por cenlO de acrescimo•• Linscholen e urn dos que aconselhararn os Neerlandeses a implantaN8' nurn mundo e:xtremo-urienLal que: os Pur1uguescs domina\lam imptrfci 1 tarnente. 0 seculo XVII viu os cidadaos das Pwvfncias Unidas substitUit os. Portugueses e instalar-se: no Cabo, nas costas do Decao, em Ceiliio, e1D' MaJaca, nas ilhas das especiarias, comerciando intensamente com a
66. FRANCESCO GIORGIO MARTINI: PLANTA DE ClDADE IDEAL (Segundo P. LtJlIeaan, Histoire de l'Urbanisme.)
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A DOr;aO de urbanismo foi dada -melhor, restitulda- a Europa pela IUlia. 0 pais do Ocidente que tinha nessa ISpoca mais cidades e que mais perto estava do paMa.do greco-romano. Verifica-se, rcalmente, que no seculo XVI, longe da peninsula, ha bastaDtes cidades importantes que se desenvolvem de modo anarquico, sem se preocuparem com 0 ar, o alinhamento ou a perspectiva. Isto e valido quanto a Londres·, que em 1600 era ainda urna capilal sem ordem nem beleza em que 100000 habitantes viviam. como em Moscovo, em casa de madeim. :E. valido tambem quanto a Paris·. 0 municipio parisiense concede, a Rue Neuve -Notre-Dame, reconstrulda a partir de 1507, 20 pes de Iargum (6,50 m)
-a comparar com os 16 e 18 metros dados per Hercules 1 de Este aos dois eixos principais da nova Ferrara (a Addizione Ercoiecy: Nenhuma transformacao de conjunto afecta Paris no Renascirnento: a cidade contenta-se em dislribuir e acumular ao acaso a popular;ao que para eta aflui. Os reis alienam e transformam em terrenos de ccnstrucac palacios reais e espacos ainda nao ccupadcs situados entre a actual rue Btienne-Marcel e os boulevards Henri-IV e Beaumarchais. Ha tambem loteamentos nos faubourgs Saint-Marceau, Saint-Medard e Saint-Jacques, Mas nenhuma ideia directora preside a essa urharuzacac. :E. verdade que Henrique II pediu a Beilarmata urn plano de arranjc do faubourg Saint -Germain, que, como 0 faubourg Saint-Honore, foi entac prolongado. Mas 0 projecto do arquitecto italiano foi rapidamente abandonado. Ape sar da ccnstrucao da fonte dos Inocenees, des trahalhos de Pierre Lescot e Jean Goujon DO Louvre e de Philibert de L'Orme nas Tulherias, a Paris do seculo XVI nao se libertara ainda do empirismo medieval. o espinto do Renascirnento so ali triunfou no infcio do seculo XVII, com a construcao da Ponte Nova (terminada em 1606), cujc projecto, todavia, eslava aprovadc desde 1578, com 0 arranjc da Place Dauphine e da Place Royale (Place des Vosges), esta Ultima pam servir, na expressac de Henrique IV. de «passeio para os habitantes, muito apertados nas sues cases». Na provincia, Rouen cria muitas tomes mas Lyon n10 busca a hi giene nem a beleza. E e uma cidade que cresce depressa. Uma deliberacac consular de 1542 afirrna, sem duvida com algum exagero: «Lyon aumentou nan simplesrnente metade mas quatro quintos, tanto em nUmero de gente de mesteres como em CODStrut;aO de casas, que todos os dias aparecem». Os loteamentos, porern, sao feitos sem ordem. Em 1556-1557, duas pmi;as-a Place des Cordeliers e a Place des Jacobins - sao abertas sobre antigos cemiterios; mas sao de forma irregular. Em 1562-1563, 0 barao de Adrets, que ocupa a cidade, faz arranjar urna prar;a Dum antigo pomar: e a origcm da Place Bellecceur. Na sua ideia, porem, a prar;a era apenas para ereitos militares. Nao ba em Lyon nenhurn edificio notavel que seja do seculo XVI. Por outro lado, AntulSrpia, onde e forte a influencia italiana, procura associar a qualidade a quantidade. Nos tres primeiros quartos do s~culo, con51r6i com ardor nobres monumenlos: a torre da catedral (1521-1530), a balsa (1531) - a primeira do seu genero na Europa-, 0 ediffcio municipal (1561-1565) e as casas de corporar;5es que 0 rodeiam. Tambem IS desse perfodo a cintum de muralhas que Anvers conservou ate ao secuio XIX, provaveimente concebida por urn arquitecto italiano. No interior destag murallias. um urbanista local, Van SchooDebeke, Que trabalhou DOS meados do seculo XVI, recortou geomelricamente a plaDta da nova cidade, cujo euo e a Rue des Bras seuTS, oDde construiu vinte e quatro fabricas de cerveja e uma casa bidraulica para lhes fornecer agua. Libertou, no interior da cidade velha, espaCOs destinados a. servir de ceDtros locais. Alem-muralhas. por fim. nas proxirnidades da eslrada de Malines, adquiriu um grande terreno onde
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dos cidadaos, de modo que nao scjam demasiado pcquenas para as suas conveniences e costumes e rambem que, se hcuvcr poucos cidadjios,
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nao parecam desertase. o Renascimemc ccncebeu a praca como sum patio de palaclo am pliado a escala da cidadc» (P. Lavcdan). Dai a neccssidade de embcle ze-ta, cspecialmente com esraruas, e de Ihe unificar a cecoracao. Antonio da San Gallo, ao trabalhar, setenta e cinco anos dcpois de Brunellcschi, na Praca da Annunziata, de Plorenea, considera necessario repetir as arcadas do Spedale degli Innocenti. Ainda em Florence, procure regu larizar a praca que serve de adro a santa Croce rodeando-a de casas simetncas. Miguel Angelo, encarregadc de refazer a Praca do Capil6lio, de Roma, imagina uma praca em forma de trapezio em cuja periferia urn terceiro palacio dara replica aos dots que ja la estac: 0 quarto lade IS concebido como veranda de onde se podera admirar a magnifica e teatral paisagem urbana. A Praca de S. Marcos, de venera, IS urn «perfeito exemplo dc patio de palacio ampliado a escala urbana, a sale de festas da cidade» (p. Lavedan). Dado 0 modelo por Pietro Lombardo com as Procurctie vecchie (1481), Scamozzi, cern ancs dcpois, retoma nas Procuratie nuove os mcsmcs motives: ha tambern urn res-do-chao de portico continuo e tres andares. Mas a realizacao maia notavcl dc uma praca com programa na epoca do Renascimento IS a de vtscvanc. em que tmbalharam 0 engcnhciro Ambrogio de Curtis, Bramante e, talvez, Leo nardo. «Despota ituminadoe avant fa Iettre, Ludovico, 0 Mouro ordenou em 1492 aos habitantes da pequena cidade que demolissem a velha prai;a do mercado. Subslituiu-a por urn rectAngulo de casas com fachadas iguais, arcadas no andar tlSrreo e decorar;ao pintada e regularmente repetida. A rigidez das cidades de utopia inscrevia-se, assirn, na rcalldade. Estava dada para sempre a formula das prar;as com programa. que loda a Europa adoptou entusiasticamente, em Livorno como em CharleviHe ou em Freudenstadt. Formando urn rectAngu!o - au um quadrado - de cantos fechados, com acesso pelos meios dos ladas, e centrada numa estAtua de monarca, transformou-se na prai;a real francesa da ISpoca elA3sica.
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esboco de comrosrcao. Francesco di Giorgio, Bramante, Vignola imro duzem a perspectiva, a hierarquia das aleas umas em retacao as outras, o escalonamento de nfveis dos canteiros, a sabia distribuicao dos jOg05 de agua. No Belvedere do vancano, gramame nao 56 schrepos terrar;o~ como criou urn grande eixo perpendicular 010 palacio dislribuindo os can teiros em retacac a ele. Na Caprarola, residencia de Verno dos Farnese, Vignola imaginou dois jardins quadrados, divididos em quatro quadrados cada urn per aleas que convergem numa praca de cantos corrades. Cada urn des pequeoos quadrados e, por sua vez, formado par quatro elementos disposlos em volta de aleas que terminam em pracas secundanas de can lOS Iechados. Temos aqui bern evtdente 0 case do arquiteeto a aplicar A natureza as f6rmulas do urbanismo. Mas neste dommio dos jardins a obra-prima do Renascirnento e, sem duvida, a «villa. de Tivoli, mandada arranjar na segunda metade do seculc XVI pelo cardeal Ippolito d'Este. o autoritarrsmo da compostcao e mitigado pela ahundancia de aguas, pur terraces em sucessac e pela perspecuva ascendente, semelhante a de urn quadro, e que, desde a entrada principal, conduz 0 nosso oJhar des pequenos macicos de ciprestes, des tanques com repuxos, dos sucessivos pianos escalonados ate :'I fachada principal do pajacio. Mais disereto, mais florido, de uma geometria rnais subul, com esnaco para a horta, 0 jardim.
68. PLANTA DOS IARD/NS DE CAPRAROIA DESENHADOS ['OR VIGNOLA. (Segundo P. Ltsv.-d/l1l, op. cit.)
de Villandry refleete a do~ura intima da Touraine. Mas tambeD] estA. admirave1mente bern composto, com os sew trts «claustros» sobrepo,tos,. eada urn deles dominado por urn passeio ensombrado por latadBJ 011 tmas a formar tunel. Proeurou e conseguiu harmonizar-se com a velha aldeia, a igreja romanica vizinha e as tonalidades suaves do Val-de-Loir'e, Mas e urn quadro muito sabiamente organizado; jardim de amores, certa
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mente, mas cujo minimo pormenor foi calculado. Foi desenhado por urn arquitecto de Paris, Du Cerceau. o Renuscimenro, ocomocao de uma civilizacac urbana, foi, 010 mesmo tempo, uma descoberta dos campos. Os campos tinham sido durante multo tempo a zona do medo, e ha Olinda Oligo disso em certas paisagens fan resticas des pintore, Ilamengos do seculo XVI. Bern sabemos que 0 mundo des campos, dos rios e das florestas estava longe, entiio, de ter alcancado a verdadeira tranquiudade - sefa no case da Italia, Irequen tememe pcrcorrida, all: 1559, pclos hcmens de armas;" seja no easo da Alemanha, abalada em 1525 pela guerra dos carnponeses, sela no caso da Provenca e da Champagne, cevastadas pelos Imperials. Mas as acnlmias, sao, 010 todo, mais duradouras; as cidades sao jii mais fortes e cstendem a sectores cada vez mats vastos a pa x urbafla; as tutas entre senhcres ou entre castelos tcndem a desaparecer. Os artistas e os rices, polidos e requintados pela cultura das cidades, tern agora bastante vagar e liberdade espiritual para descobrir a beleza do mundo exterior as mura Ihas urbanas e para Ievar para la 0 luxo da cidade. Se, pcis, uma parte extensissima dos campos continua a ser Jugar de solrimento humano, de monoLonia quotidiana, de indigencia rural, outra parte e chamada A civi Iizacao pelo dinheiro e pela cultura des grupos privilegiados da o:'ocie dade. Ai desahrocharn flores luxuriantes, jardins de emores. concertos, jogos de agua, palacios de conto de jadas. DOli a necessidade de saheruar urn largo sincronismo que assinalou 0 evanco de uma civiljza~ao. A des coberta dOl paisagem por muitos artistas, desde 0 rei Rene ate Tieiano, passando pela escola do Danubio e por Durer, 0 eXiID das lape~arias dOl Touraine e das «ca~as& de Maximiliano, vindas das oficinas de 8rn xe1as, a I.ransforma~ao dos castelos, qne perdem 0 ar marcial e se abrem a lu], e a alegria dos jardins, as cowas de \lViJl1l5>l com qu:: se enreitam Floren~a, Roma e Veneza, as residencias isabelinas, que semeiam, por obra dOl aristocracia, os campos ingleses: todo.'> estes fen6menos, dislri buidos por uns cento e cinquenta anm, estiio ligados uns aos oulros e ligados 010 desenvolvimento dOl cidade. Em boa verdade, nm palaeio do Renilscimento nos campos e uma cidade no meio rural. Vejamos s6 uma prova desta afirma~ao: Chambord, onde se diz que chegaram a trabalhar 1800 operarios. A decora'Yi'io dos terra~os faz-nos esquecer completamente a planta do giganteseo edificio. Os torre6es, as lucarnas, os 800 capiteis, a~ 365 ehamines, as flechas e torrinhas entremeadas pretendiam aqui fazer lembrar uma eidade de ruas estreitas e ornamentadas em qne 0 zim b6rio central representa 0 campanario de uma igreja. Era dessa cidade 5uspensa que as damas apreciavam as festas e torneios, as partida.'> e ehe gadas dOl cal;a. Vislo que se que ria prolongar no campo a vida dOl cidade, a desio calOao de urna corte - especialmente dOl corte francesa - levantava, no seculo XVI, problemas de mudanl;as cada vez maiores. Claro que, eomo assevera Brantornc, se era tratado ((fluma aldeia, em florestas ... eomo se
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o Renascimento -e. no seu interior, principalmente 0 seculo XVI assistiu, portanto. a escensao das capita is: Paris. Londres. Moscovo. Constantinople e jA tam bern Madrid. Quando Maome II tomou Cons tantinopla, a cidade. parcialmente abandcnada peres habitantes, nao tlnha mais de 100000 almas. Os sultaes quiseram restituir-Ihe vida e animacao e, ao mesmc tempo. suplantar 0 Cairo como metr6pole do mundo mucul mano. Levaram para 111 Turcos da Asia Menor, nao-rnuculmanos dos Balcas, gente do Caucaso, Sfrios, EgIpcios. Apareceram tambCm mouros e judeus expulsos de Espanha. Em 1535 a cidade reunia ja 400000 habi tanles que, vinte anos depois. eram ja talvez 500 lXX). 0 ritmo do avanco demogrifico de Madrid e igua1menle revelador: em 1530 tinha apenas 4060 babitantes; em 1596 eram ja 37 500. Ena antiga fortaleza ambe, instalada no meio de uma regiao Arida, encontmva·!le no centro do pals: motivo doravante suriciente para 0 seu crescimento. Foi issa que levou Filipe II a resolver, em 1561. fazer de Madrid a sua capital e a construir perto dela 0 Escorial ". Os reis de Franca adoptarao com algum atraso a lradicao iniciada por Francisco I. A partir de Henrique IV. residirlo. a maior parte do tempo, em Paris ou nos palacios pr6ximos· de Paris: Fonlainebleau, Saint-Germain-en-Laye e, denlro em pouco, Versalhes. Paradoxo aparente: na epoca do Renascimento, hA diversas cidadcs Que crescem v.:actamente quando parecem fundir-se num vasto conjunto e Quando sc concretiza a «derrola das cidades-estadoll. Ao decUnio de Gand, Lubeck e Novgorod corresponde 0 apagamenlo de muitWi republi cas ou principados urbanos anteriormente celebres: PAdua. Vic~ncia. Verona, ahsorvidas por Veneza no principio do stculo XV; Pisa por Flo renl;a em 1406; Barcelona, «urn Estado denlro do Estadoll. submetida em 1472 por 10ao II de Aragao; Granada, reunida A Espanha em 1492; Bolonha, onde Julio II entra triunfalmente em 1506; Perugia, vencida em 1540 pela~ lropas de Paulo III; Ferrara, anexada aos Estados da Igreja em 1598.
Dal em diante, as cidades voiadas ao meter deseIlVOlvimenlo sio capitals de vastos terrnodos. Essa promocao nao traz sO vantagens: as cidades perdem autcncmia per passar a capitais e sorrem a pesada tutela do govemo. Constantlnopla fica sob a autoridade directa do suttao. Fran cisco I deita mac As recenas de Paris e os papas as de Roma. 0 egenedc e 0 Pcvce da mais ilustre cidade do Ocidente conservam apenas uma irris6ria parte des rendimeatos urbanos: as Hnansas do Estado confun den-se parcialmente com as nnancas da cidade de gome. 0 Estado anexa, assim, a sua capital; mas, mala ainda, a capital anexa 0 Estado, o caso-Itmne e. mais uma vez, Roma. Para 0 seu primeiro aqueduto, reconstruldo em 1570, Roma vai buscar a agua a 12 km; para 0 segundo, concluido em 1589. a 30 km; para 0 terceiro, que data de 1612, a mais de 50 km: progressao significativa. ""s colheitas d05 campos proximcs jA nac chegam para alimentar os Romanos e os muitos peregrines Que todos os anos afluem aRoma. Na segunda metade do seculo XVI, 0 governo e obrigado a eriar em provfncias afastadas _ nil Romanha e aa marca de Ancona - celeiros para acorrer As necessidades de Roma, a proibir com frequencia as exportaeoes de cereais, a mobilizar a pro ducao cereantera de todo 0 Estado em beneflcio de Rome. De um modo mais geral, a hist6ria do «Eslado eciesiAstico. entre cs secelos XVI e XIX e a hist6ria do empobrecimento da provincia em benefIcio de Roma. Exemplo extreme mas que ajuda a compreender uma realidade mais vasta. No seculo XIV. Paris, que urn veneziano ira algum tempo depois classificar como «Ioja da Fran~ll, eslende 0 seu e~payo econ6mico aos campos de Beauce·e da t1e-de-France. de Brie e do Vellino Meaux. ~tampes. Melun slio mercados de cereais Que 56 I~m vida e raziio de !ler porque h6. necessidade de reunir os cereais e~igidOS pela grande cidade. Os burgueses de Paris monopolizam 0 comercio do vinho. provo cando asslln 0 desenvolvimento da «vinha francesa». Do estudo realizado por G. Fourquin :lObre os campos da regiao parisiense de rneados do seeulo XIII ate ao inkio do seculo XVI resulta com evidM.cia que, nwn raio de cinquenta quil6melros a volta de Paris, havia urn con/ado pari siense «onde a innu~ncia da cidade marca a estrutura social e a aetivi dade econ6micat. Mas, na epoca do Renascimento. a autoridade de Paris e muito maior. As senten~a9 do seu par[amento, que tern 88 oficiais em 1499 e 188 urn seculo depois, sao recebidas numa imensa regilio Que vai de AuriUac A fronteira dos Palses Baixos. A monarquia francesa. enrim, que cria urn embriao de administracao central com 0 «Tesouro de pou JllI.n~1t de Francisco I, com a forma~ao de se~s no conselho real e 0 aparecimento de «secretArios de eslado:t sob Henrique II, senle jA - e vai sentir cada vez mais - a necessidade de urn centrO de onde partam e onde cheguem os «comissarios distribufdosll, encarregados de uniricar 0 Estado e de 0 soldar A sua capital. A burocracia francesa, meSJJ10 no rim do seculo XVI, continua, pocem, muito atrasada em relacao a de Filipe II ou A de Sisto V. De facto, 0 «rei prudente., lento, hesitante e dado a
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ie esuvesse em Paris», mas para chegar a tal resultado havia que deslocar 10 000 cavalos, mulas, car rccas, liteiras, baixelas de prata, tapecartas, moveis e todo urn mundo de servidores. E compreensrvet que Francisco I tenha anunciado em 1528 a sua intencao «de, doravante, fazer a maier parte da sua estadia e morada na sua boa cidade de Paris e arredorese. Abandonando Chambord, mandou Instalar na Ile-de-Prance as duas grandes casas reais do Bosque de Bolonha (palacio de Madrid) e de Fon tainebleau. Mas a corte de Franca continuou a ser Itinerante ao longo de quase redo 0 secure XVI; e, no tempo das guerras rehgiosas, voHou muitas vezes ao Val-de-Loire. Uma evoluCao inelutavel Ievava, pcrem, as cortes, verdadeiras cidades ambulantes, a fixarem-se. E, mesmo Que os soberanos se deslocassem, os esrados precisavam de ter as suas capitals.
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papeladas, ndo s6 se rodeia de secretaries como da a toda uma serie de ccnsethos a preperacao das suas declsoes: Conseia de Estodo, onde vern os essuntos respeitantes ao conjuntc do imperio e os grandes problemas de pclrtica intemacional, consethos de Castela, de Aragac, de Italia, das 1ndias -- e deste que depende a Coso de la contratocion - , conselhos da Guerra. da Inquisicao, das Ordens (de cavalaria), conselbo da Hacienda (finanl;as e economia). Toda uma hierarquia judicial e admtrustrativa - as seis chancelariaa, as audiencias, os a/cuJde~ - fica sob a autcndade des conselhos. Em Roma concentra-se tambem uma consideravet organiza.,ao admi nislrativa que tern a duple tarefa de governar urn estado e uma religiao. Na epoca de Sisto V vieram juntar-se dezassete congregacoes ou corms sees, eompostas per cardeais e especialistas, aos Ires tribunals tradiciondis (da Penitencia, da Assinatura e da Rota) e aos quatro grandes servicos centrais (Chancelaria, Dataria, Camara Apostolica e Seeretaria de Estado). Onze delas tratam de quesroes religicsas e as outras sea do dominio tem poral (abastecimentos, frota de guerra, impostos, obnls publicae, Univer sidade de Roma, reviaao de processes cfveis e criminais). A gloria do soberano e as necessldades burocratlcas impoem a cons trucec de enormes palacios, cu]o prestlgio e fausto se repercutem quer no principe quer na cidade a que estac ligados. 0 Escorial, a .5O.km de Madrid, construfdo entre 1563 e 1584, e que e ao mesmo tempo convento, necropole e palacio, ocupa 33 170m'. Tern uma igreja, 16 pAtios e 2700 jane/as. Mas ainda esl~ Ionge das dimen-SoOes do monumental conjunto formado peto Vaticano a partir do rim do seculo XVI: 3 apartamentos reais, 2 «casinos». 25 pAtios, 15 saJoes, 228 salas menores e urn lotal de 11 500 divisoes- isto e. urna superffde tolal de 55000 m' sem os jardins e de 107000 m' com eles. Foi, pois, 0 Renascimento que forneceu a f6r mula de Versalhes. Mas jA no seculo XVI a monarquia francesa n,[o podia deixar de mandar construir A beira do Sena ediflcios verdadeiramente rea is, 0 novo Louvle e as Tulherias, que Henrique IV se apressou a reu~ nir um ao outro. PalAcios mujto luxuosos e capitais multo belas sao tim perigo. Os reis absolutos da Europa classica escaparam cada vez menos a essas pris5es dounldas e. com isso, perderam contacto com os seus paises e os seus povos. Mas 0 esplendor da vida urbana, que culmina nas festas da corle, lem pelo menos a vantagem de alrair a grande nobreza, que na epoca do Ren~imento abandona gradualmente 0 estilo de vida mili tar e rJisHea que seguira anteriormente. Fen6meno muito importante: se ohores feudais outrara belioosos, Orsini e Colonna paSo'iam a ser pacfficos cassistentes do trono pontificab. Roma povoa-se de palAcios que antigos e novas fidalgos - velhos e novos ricos - querem erguer perto dos do papa. Em .Paris, os faubourgJ Saint-Germain e Saint-Honore desenvol vem-se no seculo XVI e transformam-se em baiuos uesidenciais» porque estao perlo do Louvre e das Tulherias. Em 1545, enquanto a corte de Espanba reside ainda em VaJladolid, pode-se admirar 0 numero e a ri 274
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queza das easas de recente consrrucac erguidas na cidade pelos fidalgos. Mas a escolha de Madrid por Filipe IJ e seus sucessores orovoca logo a seguir a cesiocacao da nobreza para a nova capital. A ncbreza «deua-se ganhar pela vida das festas e represenla~6es da Corte e pelas ccrridas de touros na Plaza Mayor ... Aloja-se em MaJrid, adapta-se ao luxo da cidade, aos seua costumes, aos lunges passeios pe1as ruas e a vida nocturne ... J (F. Braudel). Os nobres, observados dtrecrameete pelo prfncipe, fazem-sc menos perigosos. Mas menos pengcscs tambem porque a vida da cidade e mais cara. Construir e mobilar palacios, fazer Figura de mecenas, com parecer nas festas da corte, dar rices doles as filhaa, dar esmolas _ que foi moda na epoca da reforma caroltca -, andar de coche: tude Isso s6 e Iinanceirameme possfvel a quem gozar des lavores do scberano. 86 esre, dando censees, passando uma esponja sabre dlvidas, e agora capaz "de dar a grande nobreza condiC6es para se manter no seu myel. A urbanizacac nao engendrou necessariamente, no «ancien Regime», a monarquia absoluta: sao testermmhos disso a Inglaterra e as Provincia! Unidas. Mas, sem a ascensno das capitais e sem a urbamzacac da grande ncbreza, a mcnarquia absolura nac poderia triunfar.
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CAPiTULO IX ~
MOBILIDADE SOCIAL RICOS E POBRES
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A epcca do bumanismo viu a ccncreuzacac de dois aspectos aparen temente opostos da civilizai;ao oddenta1: a afirma~o das individualidades nacionals e a lntenslncecao OOs trocas entre os parses. Podemos apreciar mil proves dessas multiples lnterpenetraczes nos dominios da arte e 00 cultura. Os arquitectos, escultores e pintorea italiancs dos seculos XV e XVI dispersaram-se por teda a Europa, de Londrea a Moscovo, passando per Praga e Crac6via. Os mcstcos flamengos Ilzeram irradiar 0 seu estilo poIif6oico em Franca, em Inglaterra, na Alemanba e em ltAlia. Erasmo, que nao gostava de viajar, percorreu, apesar disso, a Europa Ocidental de Cambridge aRoma. Coremfco estudou e ensinou per duas vezes cm Itl1lia. Consideremos ainda cs 161 artistes OOs mala diversas especielidades que trabalharam em Roma de 1503 a 1605: 69 vinham 00 Toscaoa, 93 00 Itl1lia padaoa ou transpadana, 24 00 marca de Ancona e da Dmbria, 7 00 Italia do Sui e da Sicilia, 43 das regi5es actualmente incluldas na Belgica e na Holanda, 10 de regii.'les da actual Prance, 4 dos outros paJses niio iteliaaos, 17 somente eram romanos e, deles, 56 urn verdadeiramente celebre, Giulio Romano. Mas isto sao apenas casas particulares de uma ruobilidade horizontal muito mais generallzada. Fran cisco Xavier morreu perto de Cantao, Cam5es viveu ern Macau, Cer vantes foi ferido em Lepanto; mas, prindpalmente, milbares de espanheis e de portugueses atravessaram 0 Athlntico para se instalar nil. America, oode iA em 1600 viviam mats de 140000 homens de race branca. Nil. propria Europa as pesscas de modesta condil;1o cestocevam-se muito mais frequentemente do que geralmente hoje se pensa, e em viagens ccnai deravels. No eanc santo» de 1575, mais de 400 000 peregrines afluIram a «cidade eternal; e, em 1600, perto de 600 000. Em quaisquer condicees, oe visitant.es de Roma eram sempre multcs, mesmc sem eer em llanos santos), e foi precise organizar urn sistema de a1ojamentos-o melbor de Italia e, provavelmente, de tcda a Europa. Urn recenseamento de 1511, infelinnente incompleto, menclone jA 111 alberaues, estalagens e tabernas
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mayor era senhor de dominies com 5000 krn' e os Esruniga, que depoia foram condes de Placencia, tinbam QUast metede daa terraa da Estre
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madura.
Tanto os antigcs senhores como os novos-rtcos foram rerozes para com os humildes. Bssa dureze e, evidentemente, especialmente visivel nas fronteiras da civili.za~ao ocidental: alem-Blba ou na America. Entre 1490 e 1520, a nobreza poluca reforca 0 seu dominic sabre os camponeses Corn a cumplicidade do rei. Os camponeses passam a estar ligadcs a terra e tern a obrigacao de cultiva-Ia. Sao os senhores quem os representa em justica, podeudo ainda adquirir os bens das comunidades rurais. Os nobres sao, ao rnesmo tempo, isencados de direitos alfandegarios e de cbrigacces para com 0 Tesouro. Na Russia, os soberanos, a partir de Ivan HI, criam uma nobreza de Iuncicnarjos, originariamenle peque nos burocratas, que ajudam a dominar os velhos fidalgos. Mas, para melber dominar as novos senhcres, os soberanos dao-Ihes terras enegras» com os respecuvos camponeses, ourrora livres e agora servos da gleba. Como, de resto, a economia monctaria se desenvolve e muilos tributes em especie sao substituldos por tributes em dinbeiro, e ainda porque os Impastos des principes se agravam, os camponeses endividam-se perarne as sennores. Perdem a liberdade e, msolventes, passam a servos - a nac ser que Iujam para teste, onde ha terras a ocupar. Tambem n.a America 08 recem-chegados se reservam grandes eden sbes territoriais. Conez, anleriormente fidalgo em dificuldades, pa.ssa B marQuAs del Valle. Constr6i em Cuemavaca., DO Mexico, urn pWttcio, organiza jardins magnHicos, instala planl:al;oes de aniI, de cana-de~l1car, de amoreiras, u.perimenta a crial;ao de bichos da seda e de carneiros merinos. No Merica e no Peru, como na R~ia, as tetras das comu nidades rurais sao usurpadas pelos senhores. 0 hacefldado do lim do seculo XVI e do seculo XVII e juiz dos seus escravos e dos sellS peOes - 0 peona;e - , tndios teoricamente livres mas na realidade acorrentados ao senhor da hacieflda pelos duros e10s das dividas e, por causa destas, Obrigados a trabalhar para ele. Exemplos e:ltrtmos, casas-limite. Mas convidam 0 histotlador a interrogar-se: nao terae tambem funcionado esles mecanismos no pr6prio coracao do Ocidente, talvez de fonna mencs 6bvia? Ora e segura que no decurso do Renascimenlo se produziu na Europa ocidental uma «reacl;ao senboriab: os novos-ricos, aconselhados pelos seus inlendentes, mostraram-se mais rudes ainda que os antigos fidalgos e foram mais brutais que eles. Viu-se na campina rnmana, muitas vezes, entre 1560 e 1580, propriet-'rios de fresca data enlrar em confiito com as comunidades rurais. TirBvam-lhes 0 direito de eleger represenlantes, confiscavam-Ihes os livros eslatutarios, anexavam-lhes os terrenos de usa comum, reocupavam terras plantadas de vinba. Entre 0 novo senhor e os camponeses estalavam assim querelas judiciais que estes perdiam, vendo-se obrigados a sair das aldeias. 0 resgate de lerras pela nobreza 284
espanhola do seculo XVI, os reagrupamentos de propricdades que, depots de 1560, comecarn a verificar-se na regiiio parisiense, 0 agr avaruemo dots reudas em quase toda a parte, no Poitcu, na Lombardia, no Franco -Ccndado, 0 reajustamento das rendas Ieudais: todos estes factos. acres centadcs il. pura e simples evic~iio de camponeses em Italia, ao longo des cauunhos de rebanhos da Mesta e em Inglaterra, nac deixam duvidas sabre a agravamento das condicoes de vida des camponeses no ue;;ibio do Renascimenro.
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